CAPÍTULO 15 - BILL

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Se fechar os olhos dói menos, garoto do gás. Somos nós contra a Província Oeste. — As palavras de Alex saem lentamente. Ele está bem chapado.

— O que está querendo dizer? — pergunto.

— Agora são apenas fumaça e caos — responde Alex.

Minha mente se perde nessa frase. Ele está quase capotando, não está falando coisa com coisa. Essas palavras são tão perturbadoras, já tinha ouvido isso antes.

Alex Tirou a cortina do meu passado, tornando-o claro. A expressão parece ser mais poderosa do que a droga que me aplicaram. Tento me apoiar com os cotovelos na maca, mas a briga é desvantajosa para mim. Aonde foi que eu ouvi isso?

Agora são apenas fumaça e caos.

* * * * *

Por que Bill e não Billy? Já se revelara o desejo do meu pai de encher a casa de filhos. O primeiro seria o protetor. Ele me ensinou direitinho. Me fez agir à altura do nome dado.

"Bill, seu nome tem um importante significado".

Você protegerá seus irmãos.

Para que tanto preparo? Até parece prever alguma coisa de ruim. Sempre encarou a vida como um drama.

Minha mãe ficou em casa. Éramos ainda quatro. Minha primeira protegida com quatro anos. Eu sou o favorito dela. Nem meus pais recebiam tanto apego. Sou o irmão mais velho. Ainda vem mais por aí, pai?

De mãos dadas, ela eu subimos num grande retângulo cinza com rodas. Papai vem atrás distraído.

No meu colo, ela se entretém com minhas mãos. Meu pai, de boné, mantém o aspecto jovial. Ele é muito jovem. Sua tranquilidade se baseia na confiança que deposita no primeiro filho, o irmão mais velho — aquele que protegerá todos. "Essa é sua missão no mundo".

Naquele final de tarde em uma região da cidade chamada Londres, as ruas estavam agitadas. Havia dito para meu pai, alguns minutos antes, que não era um bom horário para sair de casa. Dizia a mim mesmo que era o lado protetor falando mais alto, mas na verdade, a preguiça era a força que me dominava naquele momento.

Nos acomodamos numa das fileiras de assentos do metrô.

Uns minutos de cochilo são suficientes.

Ela não está mais comigo.

Saída de emergência piscante e vozes eletrônicas.

"Onde está sua irmã?"

Um grito se ouve. Tudo é muito rápido.

Fogo e cinzas produzidos com extrema agilidade. Somos violentamente jogados. Cortes e perfurações. Muitos caídos. Fogo e mais fogo. Apenas eu enxergo ela caída entre os muitos. Sua jaqueta rosa foi praticamente consumida pelas chamas. Não fiz jus ao nome. Por que fui cochilar? Meu nome será trocado.

O que vou dizer para ele? Antes que pudesse encarar a realidade, a pergunta se repete:

"Bill, onde está sua irmã?"

A Correria pelo túnel prateado. Alguém abre o casaco bem atrás dele. Dinamites pelo corpo? Mais uma explosão.

Já não há quem pergunte "onde está sua irmã".

O que resta é um legado interrompido. Não consegui proteger ninguém. Meu nome não é Bill.

Nem adianta lamentar. Foi apenas o começo. A humanidade sendo cercada por todos os lados. Mamãe quase não reconhece meu rosto chamuscado. Não há espaço para mais vítimas neste hospital. Peço desculpas a minha mãe. Apenas consigo sinalizar com a mão. Cinzas ainda me sufocam.

Descobri a origem. Tudo faz sentido. A frase se repete.

Agora são apenas fumaça e caos.


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