14 - O maior erro de Baruc

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Sem a profecia para guiá-lo, Hiner estava se sentindo completamente perdido. Quando seus  protegidos se dividiram em dois grupos, ele ficou preocupado pela primeira vez desde o começo da jornada. Não teria como cuidar de todos, tendo que escolher supervisionar somente alguns deles. Para seu alívio, sua interferência direta não foi necessária, mantendo-se nos bastidores, como sempre. Agora, no entanto, a situação era bem diferente.

O Bruxo observava, escondido entre tantos moradores do acampamento, o caos se instaurando. Tudo parecia se desenrolar em câmera lenta. Os soldados de Baruc se moviam de maneira coordenada e precisa. Os combatentes Reptoides, pegos de surpresa, tentavam se organizar para se defender. Crianças e adultos sem Classe corriam, o desespero estampado em seus rostos. O que fazer?

Hiner, prático e frio, já sabia o que era o melhor a se fazer: manter-se escondido e fugir dali, salvando sua pele e retomando seu plano de vingança de alguma outra maneira. Porém, depois de acompanhar de perto a evolução e relacionamentos dos Guerreiros do Destino, ele sentia algo a mais por aqueles amadores. Seria afeição? Preocupação? Ou só sentia que dependia deles para completar seus esquemas? Teriam eles rompido as barreiras que Hiner construiu em volta de seus sentimentos?

Fazendo uma varredura do campo de batalha, Hiner visualizou seus colegas envolvidos na batalha que começava. A imagem parecia estática e ele a analisava como um quadro em um museu. Aestus, o autoproclamado líder do grupo, colocou-se entre um soldado e uma mãe que protegia seus filhos. Sua bússola moral era realmente invejável. Orkan, por outro lado, esgueirava-se por entre as barracas, tentando manter-se fora do campo de visão dos inimigos, procurando uma janela de oportunidade para um ataque certeiro. O Bruxo até admirava o Ladino, mas sua falta de raciocínio e pensamento crítico eram irritantes.

Hadria, sua companheira de feitiços, havia se posicionado sobre uma barraca alta, ficando em uma posição elevada. De todos os Guerreiros, ela era quem ele mais admirava. Direta, inteligente e poderosa. Talvez, em outras circunstâncias, ele poderia ser um tutor para ela, talvez até mesmo bons amigos. Infelizmente, nada na vida de Hiner funcionava como ele queria. Continuando a passar os olhos pelo campo de batalha, Hiner visualizou os outros.

Anala, a mais nova aquisição do grupo, estava garantindo que seu avô fosse levado para algum lugar seguro e protegido. Hiner ainda não conseguia ler aquela Guardiã, mas ele tinha certeza que aquela bravata que ela demonstrava era, em boa parte, apenas uma fachada. Mesmo assim, sua coragem, determinação e liderança eram praticamente absolutas ali, guiando aquele povo tão maltratado. Lithor, que deveria ser algo análogo para os Magnors, estava muito longe da figura de um líder. Ele era facílimo de se decifrar. Bonzinho, protetor e caridoso, provavelmente o mais manipulável do grupo.

Não tinha como analisar Lithor sem pensar em sua relação com Spes. Os dois claramente tinham uma conexão profunda, mais forte do que com os outros membros do grupo. No entanto, nem mesmo Hiner conseguia entender o que realmente se passava na cabeça dos dois. O quanto era real e o quanto era ilusão e esperança de viver algo digno de sonhos. O Bruxo tinha muita dificuldade para decifrar sentimentos e relacionamentos interpessoais, tendo se isolado por tantos anos.

Enquanto ponderava sobre as relações e papéis de cada um, Hiner viu todos os Guerreiros do Destino olharem em sua direção. Somente eles se moviam, lentamente, enquanto todas as outras pessoas estavam paralisadas, congeladas no lugar. Ele até conseguia sentir seus olhares o examinarem e julgarem, como se toda sua história e suas ações estivessem sendo postas em um microscópio. O Ladino e a Bruxa caçoavam de suas decisões erradas, o Cavaleiro e a Guardiã desprezavam sua falta de força física, o Lutador e o Mago balançavam a cabeça, decepcionados com sua moral distorcida.

Hiner se encolheu, tremendo, sentindo algo inédito em toda essa jornada: medo. Uma voz do seu lado o assustou ainda mais, acusando-o:

— Você é um covarde mesmo, né? — Disse Spes, com um tom de provocação em sua voz e frieza em seu olhar. O Lagomorfo tinha se materializado ao seu lado e o olhava de cima a baixo, parecendo repudiar a triste figura em sua frente.

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