2 - Dois amigos

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O zunido da espada cortando o ar se unia ao som dos oponentes caindo no campo de batalha, como uma sinfonia bélica regida pelo forte Cavaleiro. Com grande esforço, ele manejava sua pesada arma, acertando golpes poderosos nos seus alvos, derrubando-os um a um. Era, de certa forma, um espetáculo, a exibição de toda sua proeza física.

O jovem rapaz se movia de maneira quase que instintiva, sem querer demonstrar o esforço que fazia, mas que era denunciado pelas gotas de suor que se acumulavam sobre sua pele escura. Sua armadura, simples, mas eficaz, o protegeria de qualquer retaliação dos inimigos, mas, naquela batalha, nada o atingiu. As placas azuis que cobriam seu tronco não demonstravam qualquer sinal de dano ou avaria.

Estava sendo um combate fácil, um desempenho meticuloso e exato, da maneira como ele sempre almejava.

Com seu ataque característico, um corte horizontal amplo, derrotou seu último inimigo, que caiu sobre o gramado bem aparado da arena. O Cavaleiro endireitou o corpo e apoiou a ponta de sua espada de lâmina larga no chão, fazendo com que a bela pedra azul na base da empunhadura brilhasse no sol matinal. Com uma mão na cintura e ainda recuperando o fôlego, olhou ao redor e admirou o seu trabalho.

— Parabéns, Aestus! Esse foi seu melhor treino desde que começamos a praticar — uma mulher forte de meia-idade elogiou. Ela começou a erguer do solo os bonecos de madeira que foram derrubados por seu aluno durante o exercício. — Vai tentar mais uma vez? Melhorar seu tempo?

— Ah, acho que não vai dar tempo, Sra. Kenna— o rapaz respondeu, enquanto limpava o suor da testa que escorria de seu cabelo preto, raspado bem rente à cabeça. Ele analisou o céu róseo, com um bonito sol nascente, e achou que já estava na hora de seu próximo compromisso. Uma revoada de diferentes pássaros passou ali perto, inundando o ar com seus trinados, que abafaram temporariamente o incômodo barulho do comboio de caminhões indo para as minas nas montanhas ao norte.

— É, analisando bem, você nem precisa repetir mais esses exercícios, já está perfeito, mocinho!

Perfeito.

Aestus ficou saboreando aquele elogio, com o olhar um pouco perdido. Ficou, ao mesmo tempo, orgulhoso de si e envergonhado, sem saber como reagir. Kenna aparentemente não notou e continuou falando:

— E eu também já te ensinei tudo o que sei, o que não é muito. Mas, se continuar treinando assim, você logo logo consegue até derrotar o tão temido Hiner!

A menção daquele nome trouxe Aestus novamente para a realidade, pegando-o de surpresa e fazendo-o até engasgar com sua saliva. Ele deu umas tosses desajeitadas e respondeu, com os olhos arregalados:

— Não, não. Imagina! O Hiner? O Bruxo mais poderoso de Kairos?! Não tenho toda essa pretensão! — e deu uma risada sem graça. — Eu me tornando um bom Caçador da Guilda já tá de bom tamanho!

— Você manifestou sua Classe muito jovem, te acompanhei desde adolescente. Sendo um Cavaleiro, você sabe: sua força é superior à dos demais, você tem mais vigor, até sua pele é mais resistente. Você com certeza se desenvolveu bem mais que os outros rapazes da sua idade. — Kenna cruzou os braços e analisou seu pupilo de cima a baixo. — O destino guarda grandes feitos pra você, Aestus.

Desconcertado, mas orgulhoso, o rapaz agradeceu pelos elogios. Ponderou que talvez fosse mesmo alguém excepcional. Só não sabia o quanto sua vida estava prestes a mudar em questão de poucos dias.

— Pelas minhas contas, isso aqui paga pela semana de treinos — e Aestus depositou na mão de Kenna um punhado de cristais que havia retirado de sua mochila. Eles possuíam um brilho que parecia pulsar, com uma energia e magia interna intrínseca.

Os Guerreiros do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora