3 - Uma lenda viva

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As máquinas de processamento de cristais estavam funcionando incessantemente. Elas emitiam ruídos indecifráveis, criando uma sinfonia estranha. Estavam em um corredor longo, com outros corredores perpendiculares presentes em espaços regulares. Todo o complexo era imenso, capaz de produzir energia elemental de qualquer tipo, em grande quantidade. Algumas faíscas e brilhos voavam pelo ar de tempos em tempos, mas o ambiente não tinha qualquer odor ou perfume, aparentando ser completamente estéril. Baruc gostava de andar por ali para pôr seus pensamentos em ordem e montar novas estratégias.

Ele caminhava vagarosamente, sabendo que ali provavelmente não seria interrompido. Não que ele fosse alguém de difícil acesso ou que não gostasse da interação interpessoal, pelo contrário. Seu cargo exigia muito diálogo, muitas reuniões, muitos acordos. No entanto, em alguns momentos, Baruc sentia a necessidade de se isolar.

Ser a pessoa mais influente do mundo tem seus prós e contras. As pessoas querem sempre saber sua opinião a respeito de variados assuntos, conflitos diplomáticos dependem de seu posicionamento, muitos querem te agradar para conseguir vantagens. Toda essa cobrança gera uma pressão absurda, sendo refletida fisicamente. Baruc era um homem de idade mais avançada, porém sem aparentar tanto os anos vividos. Seu cabelo já estava completamente grisalho, mas seu corte moderno o deixava um pouco mais jovial. Seus olhos azuis-escuros eram serenos, contrastando com seu bigode espesso, que dava um ar sério e autoritário. Ele sempre se vestia de maneira sóbria, com roupas confortáveis e formais, até mesmo no cotidiano. Seus dias eram todos voltados ao trabalho, já que ele não tinha cônjuge ou filhos. Ele também cortou laços com todos os familiares desde cedo.

Um dos motivos de seu isolamento veio do desdém com que foi tratado pelos seus parentes. Vindo de uma família onde todos desenvolviam suas Classes muito cedo e apresentavam grande maestria nas habilidades, era esperado que Baruc fosse um Mago proficiente ou um Monge com concentração absoluta. No entanto, para a surpresa de todos, ele não desenvolveu nenhuma Classe.

Ele foi criado com carinho pelos pais, mas tratado como um coitado por todos os outros. A decepção da família, o fracasso da linhagem. Isso fez com que Baruc se dedicasse aos estudos e pesquisa. Seu tirocínio e rapidez de pensamento sempre se sobressaiu aos demais, permitindo-o enxergar o mundo de modo diferente do resto. Desde criança ele realizava experimentos com cristais, criando máquinas complexas já na sua adolescência. Nos primeiros anos de sua vida adulta, Baruc já desenvolveu as primeiras técnicas de extração de energia, seguido por inúmeras descobertas e invenções. A fama e o dinheiro vieram muito rápido, colocando-o em uma posição de destaque e poder na sociedade.

Porém, não era nisso que Baruc pensava. Hoje ele tinha uma viagem e encontro marcado. Discutir negócios com líderes regionais era sempre um jogo de poder, tendo que manter suas cartas junto ao corpo, escolhendo do que abrir mão e o que barganhar. A negociação de hoje envolvia a instalação de mais uma mina em uma jazida absurdamente grande. Baruc já havia determinado o que seria oferecido e o que seria pedido, mas sempre havia a necessidade de se preparar para uma ganância exagerada ou uma ingenuidade repentina. Assim, dependendo da situação e comportamento, as ofertas e contrapartidas se alteram em um piscar de olhos. A reunião de hoje, no entanto, prometia ser simples e direta, sem muita alteração dos resultados previstos. Baruc estava calmo e confiante.

— Com licença, senhor. — Um funcionário usando um uniforme impecável e de expressão muito séria veio de encontro a Baruc. — Tudo preparado para a viagem.

— Obrigado, meu jovem. Eu vou terminar de me arrumar e já desço — Baruc respondeu, com tom afável.

Baruc deu meia volta, indo em direção a seus aposentos, enquanto o funcionário saiu do local silenciosamente. Essa seria uma viagem curta e a estadia rápida. Não havia necessidade de muita bagagem. Mas, mesmo assim, seria de extrema importância e muito proveitosa. Enquanto ele organizava sua mala, Baruc ensaiava mentalmente o discurso que daria, os argumentos que usaria.

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