Prologue.

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" Nunca nos libertaremos cordeiros
para o abate
O que você vai fazer
quando houver sangue na água. "
Blood // Water - Grandson.

Vinte anos atrás...

Meu corpo se arrepiava e eu tremo quando sinto a água gelada do chão inundando meus pés conforme caminho. O cheiro podre misturado com mofo, junto às portas escuras com apenas uma pequena abertura na parte de cima, me dão calafrios. Por fora, o enorme prédio bege manchado por sujeira parecia muito com uma prisão, sei disso porque fui visitar meu tio em uma quando foi preso há alguns meses. Ele diz que é inocente, e eu acredito nele, é uma pena que o policial que o levou não pense dessa forma.

Há um homem ao meu lado que fede tanto quanto esse lugar. Sua mão está fechada ao redor do meu braço, segurando-o com força enquanto me arrasta pelo corredor. Não sei o motivo pelo qual está fazendo isso. Estou caminhando na mesma velocidade que ele e não tentei fugir, por enquanto.

Mamãe falou que eu deveria me comportar e ficar quieto, eu disse que queria ir embora, que não queria ficar aqui, até pedi desculpas por quebrar o copo enquanto lavava a louça hoje mais cedo, expliquei que estava escorregadio e foi sem querer... mas ela nunca acredita.

Alguns gritos ao meu lado chamam minha atenção, eu espio com o canto dos olhos e vejo uma porta balançando acompanhado de sons de batidas de metal, me encolhi passando os braços ao redor do meu corpo imaginando o que poderia estar acontecendo ali dentro.

Estou com medo, não queria estar, isso é coisa de garotas e eu sou um homem, é o que meu tio dizia.

Paramos no final do corredor em frente a uma porta igual às demais. O homem ao meu lado tira uma chave do bolo que tem pendurado em seu cinto e abre as duas fechaduras.

— Entre — diz apontando em direção ao quarto escuro e frio.

Olho para ele e balanço a cabeça negando.

— Eu quero a minha mãe — Deixo escapar.

— Mas ela não te quer e por isso está aqui — fala aumentando o tom de voz parecendo se divertir com aquilo — Aquela vadia te vendeu por um punhado de drogas, seja um bom garoto e obedeça. — abre os lábios em um sorriso largo e meu estômago se contorce.

Ela não faria isso comigo. Não consigo conter o desespero em perceber que ninguém virá me buscar.

Eu estou me comportando, nunca mais fugi de casa ou chorei, não quebrei mais nada a não ser o copo de hoje, limpei a casa como ela pediu todos os dias, esfreguei o banheiro, não reclamei de nada.

— Anda logo — declarou me empurrando com um chute nas pernas e com a força do golpe me desequilibro e caio de joelhos, sentindo as pequenas pedras afundarem em meus joelhos no chão, e antes que eu tivesse a chance de correr, a porta se fecha às minhas costas.

Ergo o rosto e meu queixo treme com o barulho das fechaduras se trancando.

— Quantos anos você tem? — alguém pergunta

A voz era tão fria que faz com que meus joelhos fiquem fracos de medo, quase me desequilibrando novamente.

Em um canto mais afastado e escuro, vejo alguém em uma beliche encostado na parede com os cotovelos apoiados na perna e a cabeça baixa, instintivamente dou um passo para trás me afastando.

All for Heart Parker.Onde histórias criam vida. Descubra agora