Em um dia chuvoso, no qual o sol estava se pondo, e deixando apenas tristes e melancólicas nuvens sobrecarregadas, eu entrei no carro à contra gosto junto da minha mãe Helena. Era domingo à noite, porém antes mesmo de anoitecer, a escuridão já dominava os céus, mas minha mãe estava decidida que iríamos para a missa a todo custo.
Nasci em uma família católica e minha mãe era uma mulher de muita fé, principalmente depois do divórcio com meu pai, durante minha infância eu até gostava de frequentar a igreja, lembro que no período da catequese eu me sentava ao ar livre do lado de fora da igreja e lia o mesmo bendito salmo 23, todas as manhãs de domingo, sempre fui uma criança um tanto peculiar... Cheguei a escrever músicas para Deus, e algumas vezes eu chorava perto da janela de meu quarto, convencida de que ele havia me abandonado, mas como a maioria dos adolescentes, passei por um período de "rebeldia" e imaturidade e simplesmente me afastei da igreja, ainda falava vez ou outra com Deus, mas não era grande coisa, havia vezes como hoje que minha mãe praticamente me obrigava a ir na missa, e só de imaginar a demora já me sinto entediada. Dizem que quando achamos as missas demoradas é porque nosso amor por Deus é pouco, então deve ser o meu caso.
Atualmente, com 18 anos, terminei o ensino médio e me sinto completamente perdida com relação ao futuro, as opções de faculdade que eu queria eram nutrição ou psicologia, o motivo? Simples, psicologia porque sempre tive uns probleminhas mentais e nutrição porque eu achava injusto que pessoas com diabetes, como minha avó por exemplo, estivessem fadadas a uma vida sem doces, mas para minha decepção essas opções estavam fora de cogitação nas faculdades da minha humilde cidade, e minha mãe estava decidida a me fazer cursar qualquer coisa para ter alguma graduação.
— Filha, e que tal administração? É um curso bem abrangente que oferece inúmeras oportunidades, mais para frente você pode fazer uma segunda graduação.
— Você sabe que nunca fui muito boa em exatas — na época eu não sabia que na verdade esse curso era de humanas.
—Mas eu acredito no seu potencial, o que custa tentar? —minha mãe sugeriu com um leve sorriso de canto na esperança de me convencer da ideia.
—Eu nunca cogitei esse curso mãe. —Declarei por fim, dando início a um diálogo passivo-agressivo. Ou deveria dizer possível guerra fria?
Enquanto conversávamos, ou melhor, discutíamos, não imaginávamos que aquilo nos custaria muito caro, não imaginávamos que aquilo ocasionaria um acidente horrível, pois não nos demos conta que um caminhão em alta velocidade vinha em nossa direção, aparentemente o motorista havia perdido o controle.
Não me lembro bem o que aconteceu depois disso, mas me lembro da claridade seguida da completa escuridão.
Talvez se não tivéssemos discutido... Talvez se aquele motorista não tivesse perdido o controle... Ou talvez se nós duas nem mesmo tivéssemos saído de casa naquela noite... Teria sido tudo diferente?
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Uma segunda chance
SpiritualitéAnne Smith é uma jovem de família católica que mora com sua mãe, Helena Smith. Com o tempo Anne já não tinha tanta intimidade com Deus, mas em um piscar de olhos se vê em uma situação que irá virar sua vida do avesso. E se pudéssemos bater um papo c...