De repente me vi novamente no chão gelado do hospital, teria sido aquilo um sonho? Foi quando avistei minha mãe sendo levada às pressas para a sala de cirurgia, levantei rapidamente e corri em direção a ela.
Enquanto a equipe médica realizava a cirurgia, permaneci ao seu lado segurando firme sua mão e tentando controlar as lágrimas.
Não sei quanto tempo durou a cirurgia, mas devem ter sido horas, o estranho era que eu não sentia cansaço ou fome, eu estava ali e ao mesmo tempo não estava, a equipe médica se retirou e fiquei a sós com minha mãe.
— Me desculpe por ter sido essa filha horrível durante os últimos anos, a verdade é que eu não me conformava com a ausência do meu pai, sei que o divórcio foi a melhor opção, porque vocês brigavam sempre e já não se amavam, ele nunca foi um homem de muita fé, não entendo como você acabou se envolvendo com ele. —Fiz uma breve pausa e suspirei me recordando das vezes que chorava escondida no meu quarto ouvindo meus pais discutirem e implorando a Deus que parasse com aquilo. — Eu também não me conformava com a minha aparência, passei por muitas dificuldades para me enturmar na escola, a sorte é que eu tinha a Elisa, minha única amiga desde a infância, mas ainda assim, no fundo eu sentia inveja das outras crianças, saiam alegres da escola em direção a seus pais, enquanto eu estava sozinha.
Mas eu não a culpo por ter se ocupado tanto, só estava tentando nos manter... Mas agora tudo isso parece fútil, não era motivo para eu ser tão dura com você.— Sinto falta dos meus avós, a vó me disse que quando eu nasci todos comemoraram, mesmo sem entender como uma mulher loira como você e um cara de cabelos escuros como o pai, tiveram uma filha tão ruiva como eu, ainda mais em uma família que até então não havia ruivos. — Sorri diante da constatação e prossegui— bom, ao menos os meus olhos esverdeados herdei de você, ela também disse que eu era tão vermelha e fofinha, o que não mudou muito, porque ainda tenho as bochechas inchadas e fico vermelha com facilidade, tenho que admitir que são coisas que me incomodam... Por mais que o vô sempre fizesse questão de me lembrar o quão linda eu era. — Ah e eu odiava quando ele me fazia cócegas, mas agora eu faria de tudo para senti-las de novo. — fiz uma pausa silenciosa ao ser envolvida por aquelas lembranças.
—Me desculpe mãe, pela minha fase de rebeldia que eu xingava e dizia coisas sem pensar, isso foi mudando à medida que eu me aproximava da idade adulta, fui entendendo melhor suas escolhas, mas ainda assim, eu era como uma estranha com você, só tínhamos uma a outra, eu deveria ter sido uma filha melhor, costumávamos ser tão próximas durante a minha infância, mas eu conversei com Deus cara a cara, dá pra acreditar? E sei que vamos sair dessa, e eu serei alguém melhor.
— Agora eu reconheço que ele sempre esteve comigo, mesmo quando minhas orações eram tão vazias e eu não me abria de verdade, agora reconheço que era ele aquela voz me dando forças pra não desistir. O inimigo tem tentado contra a minha vida desde o início, mas Deus sempre esteve lá, me protegendo mesmo que eu não percebesse, não irei desistir, não posso desistir, já enfrentamos inúmeros desafios mãe, vamos continuar enfrentando, precisamos ser fortes.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Uma segunda chance
EspiritualAnne Smith é uma jovem de família católica que mora com sua mãe, Helena Smith. Com o tempo Anne já não tinha tanta intimidade com Deus, mas em um piscar de olhos se vê em uma situação que irá virar sua vida do avesso. E se pudéssemos bater um papo c...