Capítulo 29: Lar

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Ao chegarmos em sua casa, percebi que era adorável e aparentemente aconchegante, e assim que saímos do carro, uma bela jovem de cabelos curtos e negros e o mesmo par de olhos azuis de Josh correu em minha direção me abraçando.

- Finalmente, Anne! - ela exclamou enquanto eu estava sem reação.

- Vá com calma, Sophie, desse jeito a Anne vai ficar sem fôlego. - Josh lhe repreendeu.

- Oh, desculpe, Anne. - ela finalmente me soltou. - É que eu estava muito empolgada para finalmente te conhecer, e minha nossa! Meu irmão não exagerou quando disse que você parecia um anjo, que seus cabelos lembravam o pôr do sol e que seus olhos eram tão verdes e brilhantes quanto esmeraldas.

Sorri para ela e, em seguida, olhei para o Josh, que estava com a mão no pescoço, o que significava que estava constrangido.

- É um prazer te conhecer também, Sophie. Vejo que seus olhos azuis também lembram as profundezas do oceano, como os de Josh.

- Uau, que profundo, Anne, nunca tinha pensado dessa forma. - ela respondeu, e fomos em direção à porta de entrada.

- Então quer dizer que você acha que meus olhos são como as profundezas do oceano? - Josh disse com um sorriso brincalhão, e Sophie sorriu.

- E então quer dizer que a pessoa de que lembrava ao ver o pôr do sol era eu? Olhos de esmeraldas, é? Você é definitivamente o último romântico. - rebati.

- Bem, isso não vem ao caso agora, acho melhor a gente entrar... - ele respondeu, tentando fugir do assunto, aparentemente envergonhado.

- Então quer dizer que você se afogou em meu olhar? - ele sussurrou por fim quando Sophie abriu a porta, me pegando de surpresa. Teria sido eu descoberta?

Ao entrarmos, uma senhora de longos cabelos castanhos - e de olhos de mesma cor - veio em minha direção me cumprimentar com um abraço acolhedor.

- Seja bem-vinda, querida, ouvi muito sobre você, é um prazer enorme finalmente te conhecer. - ela disse enquanto me abraçava e, então, se afastou. - Ah, perdão, eu sou a mãe desses dois, senhora Raquel Bonavite, mas pode me chamar só de Raquel.

- É um enorme prazer conhecê-la também. - respondi timidamente, o que mais pareceu um sussurro.

- E esse é meu marido Bryan. - Ela informou, segurando o braço do senhor ao seu lado de cabelos escuros e olhos azuis, iguais aos de Josh e Sophie.

- É um prazer, Anne, espero que se sinta em casa. - ele me cumprimentou com um aperto de mão.

Depois das formalidades, conhecendo a família de Josh, fomos em direção à sala de jantar com uma mesa que oferecia um verdadeiro banquete divino. Sophie se sentou ao meu lado e Josh à minha frente na mesa.

De fato, era uma família abençoada. Fiquei encantada com uma mesa tão cheia e repleta de união, amor e alegria como aquela. Mentalmente, eu desejava ser capaz de criar uma família assim um dia, porque se tem algo que te afeta pelo resto da vida, é ser privada disso desde a infância.

E, afinal, ter uma casa não é a mesma coisa que se sentir em casa. Ter uma casa é diferente de se ter um lar; em uma casa, podemos até ter um teto e refeições, mas isso não significa que nos sentimos seguros e saciados de fato. Geralmente, a casa é um lugar que temos pressa para sair e lentidão para querer voltar, já o lar é onde nossos ossos são aquecidos e nossas forças revigoradas, nossa âncora e porto seguro, onde nossos espíritos são nutridos. E nem sempre é um edifício; o meu, por exemplo, é Deus e as pessoas que amo.

- Espero que a comida esteja de seu agrado, Anne. - perguntou a senhora Raquel, me tirando de meus devaneios.

- Está tudo perfeito, obrigada. - tentei não deixar transparecer o quão comovida estava; a comida estava esplêndida, mas melhor do que a comida era aquele momento e a boa companhia.

Notei os mesmos olhos oceânicos de sempre me observando. Quando virei meu olhar para ele, lá estava a mesma ternura de costume. Era como se Josh estivesse me transmitindo pelo olhar a seguinte mensagem: "Está tudo bem, Anne, formaremos nosso próprio lar um dia, mas até lá saiba que pode fazer daqui um".

- Bem, acredito que todos estejam satisfeitos, certo? - declarou o senhor Bryan.

- Agora vem a melhor parte. - Sophie sussurrou para mim.

- Vamos lá! - todos exclamaram em uníssono e começaram a se retirar da mesa, me deixando confusa.

- O que vem agora? - perguntei para Sophie.

- Você vai ver, vamos. - ela me pegou pela mão, me guiando atrás dos demais até o jardim dos fundos.

- Os rapazes façam as honras, como sempre, e acendam a fogueira. - disse a senhora Raquel.

Enquanto os homens estavam preparando a fogueira, inclusive Josh, nós, mulheres, e seu avô paterno ficamos sentados conversando. A lua e as estrelas brilhavam como nunca naquele céu noturno, e uma brisa fria corria entre nós.

- Sabe, querida, algo em você me lembra minha amada Amélia, que Deus a tenha. - disse o senhor de cabelos grisalhos e feições gentis na cadeira de balanço ao meu lado.

- Por que o senhor acha isso?

- Ela tinha esse mesmo olhar brilhante e sonhador que você. - De repente, ele tirou algo do bolso de seu casaco, deduzi que era uma fotografia. - Essa é ela com mais ou menos a sua idade. - Peguei a fotografia antiga de sua mão, analisando a moça de sorriso encantador.

- Bem, ela deve ter sido realmente alguém incrível e muito especial para o senhor... - ele acenou com a cabeça em concordância, e ficamos em silêncio por um tempo, apreciando a noite estrelada.

Alguns minutos depois, pude finalmente sentir o calor da fogueira, e Josh se sentou ao meu lado com seu violão; seu pai também trouxe um e seu avô pegou seu pandeiro.

- Bem, hoje é uma noite feliz, pessoal, e já que a Anne é a convidada de honra, vamos lhe deixar escolher a primeira música. - sugeriu a mãe de Josh.

- Bom, já que é o caso, então que tal "Noites Traiçoeiras"? Acredito que todos conhecem.

- Ótima escolha, na verdade é uma das nossas preferidas. - Josh informou.

Todos começaram a cantar em coro e, especificamente no refrão, me arrepiei até a alma.

"E ainda se vier, noites traiçoeiras, se a cruz pesada for, Cristo estará contigo, o mundo pode até fazer você chorar, mas Deus te quer sorrindo."

Em seguida, cantamos mais algumas músicas, como "Porque Ele Vive" e "Jeito de Mato". Já era por volta da meia-noite quando decidimos encerrar, e Josh me deu uma carona até em casa.

- Foi uma noite bem agradável, Josh. Sua família é maravilhosa. - declarei enquanto estávamos no carro.

- Também é sua família agora. - ele desviou a atenção por um momento da estrada para me lançar um sorriso caloroso, e eu retribuí.

- Sabe, o que acha de passarmos a frequentar a mesma igreja? - sugeri.

- Por mim, tudo bem. Irei conhecer a sua amanhã e, da próxima vez, você pode ir conhecer a minha. No final, podemos decidir o que é melhor para os dois. - ele respondeu.

- Combinado.

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Um detalhe interessante sobre esse capítulo é que o avô de Josh eu me inspirei no meu bisavô que ama sentar na cadeira dele de balanço e em um senhorzinho que tocava pandeiro na minha igreja, inclusive em uma missa de páscoa ele tocou no final da celebração a música "porque ele vive" dando um testemunho e exemplo de fé e pouco tempo depois ele faleceu, mas nunca me esquecerei daquele dia especial e do exemplo dele: louvar a Deus até os últimos dias de vida.

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