Capítulo 12: Reencontro

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Era o jovem rapaz do hospital, não tinha como esquecer aquele rosto.

— Josh, certo? Do hospital...

— Sim, Josh Bonavite. Que bom que lembrou do meu nome. — Ele deu um leve sorriso e pareceu aliviado.

— Afinal, por que você estava lá naquele dia?

— Ah... Eu tinha ido visitar uma amiga e acabei errando o quarto, desculpe. — ele respondeu um pouco perdido nas palavras, e mesmo não sendo tão convincente, resolvi dar um voto de confiança.

— Tudo bem, de qualquer forma, você acabou ajudando a avisar para minha família que eu havia acordado. — respondi lançado-lhe um sorriso amigável, o que pareceu tranquilizá-lo.

Ele estava me ajudando com as compras e acidentalmente nossas mãos acabaram se tocando, nossos olhares se cruzaram por um instante e então eu desviei o rosto e me levantei rapidamente, bem, nem tão rapidamente assim porque meu joelho me traiu — percebi que estava ralado.

—Aqui, use isso. —Josh tirou do bolso do moletom um pequeno pacote com uma pomada e band-aids e me entregou.

— Você por acaso teria um kit de primeiros socorros também? — brinquei, o que o fez rir.

— Infelizmente não, era apenas isso, nunca se sabe quando irá cair de bicicleta, sabe?

— Entendo — verifiquei as horas no meu relógio de pulso e percebi que já estava fora a mais tempo que o necessário. — Mas agora eu realmente preciso entrar... Minha mãe já deve estar preocupada com a minha demora.

— Tudo bem. — ele sorriu timidamente em concordância.

— Bem, a gente se vê por aí, tchau!— estava me virando para entrar quando o escutei me chamando.

— Espera! — voltei minha atenção para ele. — você não me disse seu nome.

— Vasculhei minha mente e constatei que, de fato, não havia me apresentado adequadamente. —
Ah desculpe meu descuido, é Anne Smith.

— Ele sorriu calorosamente. —
É um lindo nome e combina com você. — essa observação dele acabou me fazendo corar.  — adeus senhorita Smith.

— Bem... Adeus Josh. — declarei por mim, no que mais pareceu um sussurro ao vento.

Me virei apressada e entrei em casa.  Coloquei as compras na mesa, corri para o meu quarto e me joguei na cama.

— Uau, meu Deus, o que foi isso que acabou de acontecer? Quem é esse cara? Ao menos ele aparenta ter a minha idade... — em meio a tantos pensamentos vagos acabei pegando no sono, estava exausta.

Comecei a ter um sonho que mais parecia uma lembrança borrada, eu estava andando sem direção e acabei encontrando um rapaz com um violão, mas não consegui identificar quem era. No entanto, senti que o conhecia, parecia tão real... E então minha mãe me acordou.

— Filha, a festa é daqui algumas horas, melhor acordar.

— Está bem mãe... — me espreguicei tentando despertar.

— A propósito, nunca mais tive notícias do seu amigo Josh, ele foi tão atencioso com você no hospital, seria bom convidá-lo.

— Não sei se entendi, como assim amigo? Eu mal o conheço. E como assim ele foi atencioso?

— Bom, foi o que ele disse, que era seu amigo e ia te visitar todos os dias desde o início.

— Mãe, isso não faz muito sentido. — minha cabeça estava tendo dificuldade para processar a informação, talvez por ter acabado de acordar, ou talvez porque realmente não era uma explicação lógica.

— Você deveria falar com ele e esclarecer as coisas, aqui está o número. — Minha mãe me deu o celular com o número do Josh e fiquei confusa, mas ainda assim liguei.

— Em que posso ajudar, senhora Helena? — ele perguntou do outro lado da linha.

— Sou eu Josh, a Anne.

— Certo... — Ele pareceu um pouco aflito como quem acabou de ser pego em flagrante.

— Podemos nos encontrar na lanchonete aqui perto daqui uns 20 minutos?

— Claro. — Josh apenas concordou sem objeções.

— Ótimo, anote o endereço, até mais.

— Até mais, Anne.


Josh

Era um sábado de manhã e decidi ir ao meu local de sempre com meu violão, e claro, aproveitar para passar em frente a casa de Anne.

Durante o tempo que ela estava hospitalizada algumas vezes eu me oferecia para acompanhar sua mãe até em casa, e desde que Anne acordou nunca mais a tinha visto.

Fazia o mesmo percurso todos os dias na esperança de revê-la, mesmo que eu acabasse me atrasando para as aulas da faculdade pela manhã, e durante as tardes eu tinha o meu emprego de meio período no café próximo a sua casa— garanto que essa parte era coincidência.

O mais estranho é que no dia anterior havia sonhado que me encontraria com ela e que ela havia ralado o joelho, então por precaução enfiei no bolso do moletom uma pomada e band-aids. O que eu não imaginava era que isso tinha sido algum tipo de revelação divina, porque de repente lá estava ela no chão e lá estava eu saltando da bicicleta e correndo ao seu encontro, nem vi onde a bicicleta foi parar.

Quando eu a via no hospital pensava não ser possível existir uma jovem mais linda, e eu não podia estar mais errado. Aquela Anne acordada bem na minha frente, com aqueles olhos brilhantes como esmeraldas, aquelas bochechas macias e avermelhadas, lábios tão vermelhos quanto, e aquela covinha discreta no canto direito de seu lábio... Era a perfeição divina, era o anjo agora bem desperto em minha frente, em pleno brilho.

O instante em que nossos olhares se encontraram e que pude sentir o seu toque, mesmo que por pouco tempo, me senti o homem mais abençoado de todos.

Infelizmente acabei mentindo novamente sobre o incidente do hospital, e mentalmente pedia perdão a Deus, eu sabia que não era certo e que a verdade viria a tona, mas naquele momento eu só queria estar perto dela e desfrutar de sua companhia sem estragar tudo com a verdade que ela provavelmente não acreditaria.

Antes de nos despedirmos, perguntei seu nome — mesmo já sabendo a resposta— , estava oficialmente conhecendo-a. E um tempo depois de nos despedirmos, recebi uma ligação de sua mãe Helena, ou melhor, era o que eu acreditava. No momento em que reconheci a voz de Anne eu soube: fui descoberto, será que nunca mais poderei vê-la?

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