Era uma manhã ensolarada de sábado e resolvi acordar mais cedo que o habitual para uma caminhada com meus fones e Deus. Ao sair do meu quarto, percebi que Josh não estava mais na sala, imaginei que tivesse algum compromisso.
Minha casa ficava em um ponto alto da cidade e observei ao longe o sol nascendo no horizonte, era uma vista esplêndida. De fato Deus é o maior pintor do mundo e meu artista preferido, todos os dias ele me surpreende com suas pinturas no céu brincando com a paleta de cores.
Foi quando avistei Josh ao longe, em frente à uma loja de roupas, levantei a mão para chamar sua atenção, mas me contive ao ver uma moça indo em sua direção empolgada, eles estavam rindo e de repente ele colocou o braço sobre seus ombros, pareciam íntimos. Eu simplesmente dei meia volta e corri na direção contrária, corri como se não houvesse amanhã, corri sem saber ao certo para onde ir, com a cabeça cheia de dúvidas implorando a Deus para que ele não estivesse apaixonado por outra pessoa, implorando para que não fosse tarde demais.
Certa vez ouvi em um filme que "E" e "Se" são palavras inofensivas como qualquer outra, mas se colocadas lado a lado tinham o poder de te assombrar pelo resto da vida. "E se eu tiver percebido tarde demais que o amava?", "e se o amor estava disfarçado de amizade o tempo todo e percebi tarde?", "e se", "e se...".
Quando me dei conta estava no parque em frente ao hospital, não qualquer hospital, o hospital onde passei meses em coma. Me sentei no banco e as lágrimas começaram a rolar, dizem que as lágrimas são as orações mais sinceras, então aquela deveria ter sido uma das orações mais sinceras que fiz na vida. Para Lily quinze segundos haviam destruido-a no livro "É assim que acaba", mas bem, eu não precisei de tantos.
Fechei os olhos sentindo a brisa da manhã em meu rosto, de certa forma senti uma espécie de Déjà vu e foi reconfortante. Comecei a conversar com Deus em meu íntimo.Sabe, quando os ruídos estão altos demais, seja os externos ou os de dentro, nunca devemos esquecer de tirar um tempinho para um lugar afastado, respirar fundo, contar até dez ou até mil se necessário, fechar os olhos e simplesmente sentir o nosso redor. É crucial se conectar com o espírito santo e ouvir a voz de Deus. E devemos sempre lembrar que há dias difíceis, mas que ele está em todos eles, e há um céu para nos lembrar disso, e que não importa qual seja o tamanho das circunstâncias, Deus é maior que todas elas.
Não sei ao certo quanto tempo passei ali, mas quando me dei conta já estava anoitecendo, fiquei tão desgastada com meus pensamentos que acabei dormindo no banco.
Chegando em casa fui direto para o meu quarto, já havia avisado minha mãe que estava sem apetite, ela parecia ter notado que eu não estava bem e resolveu me deixar a sós. Eu me virei na cama por um tempo e adormeci. Comecei a ter um dos meus sonhos vívidos, mas dessa vez eu reconheci o lugar— era o parque em frente ao hospital. Também pude ver claramente o nome "Josh" gravado no violão e em meio a uma sequência de recortes de sonhos com o mesmo rapaz de sempre, eu pude enfim visualizar seu rosto: era o Josh.
Não eram apenas sonhos, eram lembranças, eu havia o conhecido antes mesmo dele me conhecer.Foi aí que tudo começou a fazer sentido, toda a conexão que tínhamos... Era ele o tempo todo, o cara dos meus sonhos, o cara desajeitado que deixava seus papéis cair, o cara que trouxe um pouco de colorido em uma época cinza da minha vida, o cara que eu admirei a fé e devoção a Deus desde o primeiro momento que o vi, o cara por quem eu me apaixonei à primeira vista, o cara por quem eu orava todas as noites antes de dormir, ele significou muito mais do que aquilo que eu sabia, ele não era só um cara gentil que tinha orado e cantado por uma estranha.
Agora eu sabia, seria ele o cara que choraria ao me ver entrar de branco na igreja ao som de Turning Page, o cara que me faria fazer todas as breguices e clichês do amor, o cara que aturaria minhas chatices na velhice, o cara que me acharia linda nos meus piores momentos, o cara que cruzaria a cidade inteira para comprar bolo para mim, o cara com quem eu criaria tradições familiares com nossos filhos, o cara que me amaria como Cristo amou a igreja.
O cara por quem meu coração bateria até meus últimos suspiros, e mais, até a eternidade.Josh estava certo, Deus o havia usado para interceder por minha vida, ele realmente estava tentando me fazer entender o tempo todo que meu caminho e o de Josh estavam entrelaçados, que nossos propósitos estavam conectados.
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Uma segunda chance
SpiritualitéAnne Smith é uma jovem de família católica que mora com sua mãe, Helena Smith. Com o tempo Anne já não tinha tanta intimidade com Deus, mas em um piscar de olhos se vê em uma situação que irá virar sua vida do avesso. E se pudéssemos bater um papo c...