Uma segunda chance

Capítulo 15: Um rapaz de fé

Nem nos demos conta quando minha mãe se aproximou e nos interrompeu pigarreando.

—Querida, os convidados querem te ver.

—Ah sim verdade, já estou indo, depois nos falamos Josh... 

—Tudo bem Anne. —Ele sorriu para mim em confirmação.

Me virei para sair e me dei conta de que minha mãe permaneceu com o Josh — torci mentalmente para ela não dizer nada demais.

Josh

— Sabe, senhora Helena, na verdade eu queria me desculpar por ter mentido sobre ser um amigo de Anne naquela época... —iniciei minha declaração com a intenção de por um fim nas mentiras, ciente de que era o melhor a se fazer, e ela simplesmente riu.

—Você achou mesmo que eu já não soubesse? 

—Como assim? — indaguei visivelmente confuso.

—A Anne nunca foi muito boa em socializar, ainda mais com meninos, acho que por conta de seu pai acabou não conseguindo confiar muito em homens. — ela fez uma pausa demonstrando certo pesar. — Sua única amiga sempre foi Elisa. — Sabe Josh? um tempo atrás Deus havia me revelado em sonho que um rapaz de muita fé iria entrar na vida da minha filha, eu soube assim que te vi que era você. Obrigada por toda a ajuda durante aquele período difícil, por favor continue cuidando da minha filha. — ela me olhou com ternura e esboçou um sorriso afetuoso, em seguida, se virou para sair da varanda, e de repente parou e olhou para mim novamente.

—Se algum dia vocês acabarem se tornando mais que amigos, saiba que vocês já tem minha benção Josh, e provavelmente a de Deus, mas se certifiquem de orar ainda assim.

                          
Anne

No dia seguinte eu acordei cedo para ir à missa, iria fazer parte da liturgia. Passei a amar frequentar a igreja, aguardava ansiosa pelos domingos e já não achava entediante, muito pelo contrário, eu via beleza em tudo e buscava sempre refletir sobre os sermões e guardá-los em meu coração. Na minha igreja era onde eu me sentia em casa, onde eu deixava minhas preocupações no altar e saia leve.

E algumas horas depois de chegar em casa, eu estava em meu mundinho, vulgo meu quarto, assistindo meu k-drama conforto preferido: While You Were Sleeping, quando recebi uma ligação de Elisa.

—Amiga enquanto você estava em coma, inaugurou na cidade uma cafeteria que ao mesmo tempo é uma floricultura e livraria. Incrível né?—Ela disse em uma completa empolgação genuína do outro lado da linha, e não pude deixar de me empolgar também. —Estava ansiosa pra lhe mostrar, e hoje é o grande dia, então trate de se levantar da cama e se arrumar, vou lhe enviar o endereço. Você tem 30 minutos, nos vemos lá, estarei te esperando.

Elisa desligou sem ao menos me dar a chance de discordar, golpe baixo, por mais que eu ame flores— em especial margaridas — café e livros, domingo era o meu dia sagrado de ficar debaixo das cobertas. Mas eu devia isso à ela, a deixei sozinha por vários meses, e também poderia aproveitar a oportunidade para conversarmos sobre a faculdade. Me levantei contra a minha vontade e coloquei uma roupa confortável, por sorte a cafeteria era nas proximidades.

Chegando lá agradeci por ter me forçado a sair da cama, eram dois andares, em baixo ficava a floricultura com os mais variados tipos de plantas minimalistas e diversos tipos de flores, inclusive margaridas. E no andar de cima era a cafeteria com várias prateleiras de livros nos quatro cantos.

—Uau Elisa, esse lugar é realmente incrível e foram realmente geniais em juntar flores, livros e café. —aposto que a minha cara era como a de uma criança em uma loja de doces ou de brinquedos, porque ela deixou escapar uma gargalhada.

—Sabia que ia gostar, aproveita que é por minha conta.

—Sabe, queria aproveitar pra conversar sobre um assunto...

— Vá em frente Anne, sabe que pode me contar qualquer coisa.

— Eu decidi prestar vestibular pra iniciar em Administração... Iremos juntas, certo?

— Claro Anne, você sabe que não tenho grandes ambições na vida, administração me parece um bom começo. E havíamos prometido no ensino médio de seguirmos juntas na faculdade, promessa é dívida.

De repente comecei a sentir um frio na barriga, sobre o vestibular. Essa pequena parte da vida chama-se: medo. Na bíblia a expressão "não temas" aparece cerca de 366 vezes, mas ainda assim, isso não nos torna imunes ao medo, afinal somos humanos, mas é reconfortante e encorajador de certa forma.

— Me debrucei sobre a mesa e apoiei o queijo sob as mãos, fitando a morena à minha frente. — E se eu fracassar Elisa?

— Tente de novo. — ela respondeu de forma prática e direta.

— E se eu não conseguir de novo?

— Nós iremos conseguir Anne, não importa quantas vezes a gente tente. E no intervalo entre uma tentativa e outra, você pode vir até mim pra recarregar suas energias, ou recorrer a Deus, claro. Você acordou de um coma Anne, você é a pessoa mais forte que eu conheço. E lembre-se que sou formada em várias temporadas de Cobra Kai, iremos matar um leão por dia, ou um zoológico inteiro se for preciso. — Ela brincou e rimos.

— Você está certa Elisa, se não der certo de primeira podemos colocar pra tocar Shake It off, sacudir a poeira e dar a volta por cima. — levantei a cabeça e gesticulei com os ombros,  recordando da letra de uma das músicas que mais levantam o astral.

— É esse o espírito, garota. E aposto que o Josh não se importaria nem um pouco em te consolar. — Elisa declarou com um sorriso travesso.

— Semicerrei os olhos para ela. —
Somos só amigos, Elisa.

— E isso já é um ótimo começo, pior seria se fossem inimigos, não é mesmo? — afirmou ela em tom sarcástico.

|Pisando na cabeça das serpentes da vida com Cobra Kai 😂|