Manuela Braga;
point of view.Estava na minha sala, me preparando para o próximo atendimento. Era onze horas da manhã, estava cheia de fome, mas ainda tinha um último cliente.
Ana Beatriz, de quatro anos. Já atendi ela duas vezes, da primeira ela estava queimando em febre e sua mãe trouxe ela desesperada. Da outra vez, Julia, a mãe dela, trouxe só pra fazer exames de rotina mesmo.
Hoje ela irá tomar vacina. Acredito que vai ser bem tranquilo, já que Ana não é uma criança escandalosa.
Quando tudo pronto, abrir a porta da sala e fui até o corredor.
— Ana Beatriz. — Falei o nome dela, e voltei para a sala.
— Tia Manu! — Senti duas mãozinhas abraçarem as minhas pernas e sorrir.
— Oi, princesa! — Me abaixei, pegando ela no colo. — Como você tá linda.
Ana é uma garotinha bem estilosa e gostava muito de se cuidar.
— Obrigada, tia. — Sorriu.
Me virei para cumprimentar Julia, mas fui surpreendida pelo homem parado ali.
— Victor?
Ele tem uma filha?
— E aí, Manu. — Victor se aproximou, sorrindo. — Sabia que tu era pediatra não, pô.
— Ele é meu padrinho, tia. — Ana explicou.
Ah, agora faz sentido.
— Por que a Júlia não veio? — perguntei ao Victor, sentando a Ana na maca.
— A doida tá em casa morrendo de ressaca e o pai da Ana ficou cuidando dela. — Deu de ombros.
— Tá pronta, Ana? — perguntei, erguendo a manga da sua blusa para cima.
— Não vai doer, né tia? — Olhei para o rosto dela, e vi ela encarando a agulha aflita.
— Prometo que não, princesa.
Percebi que o Victor se aproximava e Ana segurou na mão dele.
— Como tá a escola, Ana? Da última vez que esteve aqui, falou da garota que você não gostava. — Comecei a conversar com ela, para distrair-la.
— Agora nós somos amigas, acredita, tia? — Eu rir, pegando a agulha. — Ela é bem legal, gosto muito dela.
— E como vocês viraram amigas? — Introduzir a agulha e Ana nem percebeu.
— Não sei, Manu. Quando eu percebi, a gente já era amigas. — Deu de ombros e eu gargalhei.
Tirei a agulha e coloquei o adesivo no local.
— Prontinho, princesa.
Ana: Já foi, tia? — Olhou para o seu ombro e eu balancei a cabeça em concordância. — Viu padrinho, como eu sou forte.
— Eu vi, princesa. Mereceu um sorvete. — Ana sorriu e bateu palmas, enquanto fazia uma mini dancinha.
Tirei ela da maca, a colocando no chão e a entreguei a lembrancinha que eu sempre dava para as crianças.
Era um papelzinho escrito "adorei te atender" e um sonho de valsa.
— Obrigada, tia Manu. — Beijou meu rosto e eu fiz o mesmo.
Eu não beijo todas as crianças, por que tem pai e mãe que não gosta. Mas também tem aqueles que não ligam, tipo a Júlia.
— Padrinho, vou no banheiro. — Apontou para o banheiro na minha sala e Victor concordou com a cabeça.
Comecei a arrumar a sala, já que iria para o meu horário de almoço.
— Fiquei surpreso como conseguiu distrair a Ana, doutora. — Se aproximou. — A Ana sempre faz drama pras mínimas coisas.
— É só conversar com ela, que ela se distrai. — Olhei pra ele.
Já falei o quanto esse homem é lindo?
— Dá não, ela falta me bater quando tento distrair ela. — Gargalhei.
Ele me olhou de cima abaixo por uns segundos e sorriu.
— Fica bonitona de jaleco, doutora. — Se aproximou mais, e eu me afastei. — Se afastou porque, pô?
— A Ana tá logo ali, Victor.
Dito isso, Ana saí do banheiro e vai até o padrinho.
— Vamos, padrinho? Quero meu sorvete. — Colocou a mão na cintura.
— Vamo, pô. — Olhou pra baixo, bagunçado o cabelo da menina.
— Tchau, tia. — Ana balançou a mão, dando tchau.
— Tchau, princesa. — Mandei beijo. — Tchau, Victor.
— Fé aí, doutora.
⏳
Estou saindo do restaurante, quando recebo uma ligação de um número desconhecido no meu número profissional.
No meu tempo livre, faço provador, e eu amo. Se eu fosse pediatra, com certeza trabalharia como modelo.
Atendi a ligação e coloquei o celular na orelha, enquanto andava pelas ruas movimentadas do Rio de Janeiro.
— Oi? É a Manuela Braga? — Uma voz feminina foi se ouvida do outro lado da linha.
— Oi, sou eu sim! Como posso ajudar?
— Então... Eu sou a Lorena e tenho uma loja de roupas, tá bem no início, e o início é sempre difícil. — Ouvi ela suspirar. — Então uma amiga me deu a ideia de contratar alguém para fazer provador, foi aí que cheguei no seu perfil. Eu não consigo te pagar muito, mas ficaria muito agradecida se você poder!
— Faço sim, fica tranquila! E sobre o pagamento, pode pagar o quanto conseguir, não tem problema.
— Consigo te pagar 100 reais, mais três peças da loja, pode ser?
— Pode sim! Tenho que trabalhar agora, mas me passa o endereço certinho por mensagem.
— Ok, Manuela! Muito obrigada, tchau!
— Tchau!
Desliguei a ligação e guardei o celular na bolsa, entrando no hospital.
Não ligo muito para quanto a loja me paga de provador. Faço mais para ajudar mesmo.
É muito gratificante saber que você ajudou uma loja a crescer. E amo quando as meninas me mandam mensagem agradecendo, e falando sobre como tiveram clientes, fico muito feliz.
• aperta na estrelinha •
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Maktub - Mc Cabelinho.
Fiksi Penggemar𝙢𝙖𝙠𝙩𝙪𝙗; uma palavra em árabe que significa "já estava escrito" ou "tinha que acontecer".