Capítulo 09

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|Solange|

Hoje eu não iria trabalhar, o salão estava com poucas clientes marcadas para o dia de hoje e os horários de manicure seriam para outros dias. Então aproveitei minha folga pra levar Kauã em algumas lojas aqui na comunidade mesmo, porque precisávamos comprar algumas roupas novas e um tênis novo pra ele, se der tempo, compramos até o seu material escolar.
— Não solta minha mão. — adverti Kauã, enquanto saíamos de um caixa eletrônico.
— Vamos comprar mais soldadinhos? — questionou, enquanto atravessávamos a rua.
— Vamos comprar roupas, seu tênis novo e seu material escolar. Nada de brinquedos por hoje, tudo bem? — o adverti e ele assentiu, cabisbaixo. — Assim que a mamãe arrumar um emprego melhor, te prometo que comprarei o brinquedo que você quiser, tudo bem?
— Tá bom, mamãe!
— Ô SOLANGE! — escutei dona Sílvia gritando por mim.
— Oi dona Sílvia! — dei um breve sorriso.
— Eu fui pagar umas contas ali e aí te vi, só quero dar um recado que o Rafael pediu para te passar. — parou na minha frente. — Ele pediu pra você passar lá na padaria às onze horas, quer conversar com você a respeito da vaga de emprego e quer conversar com Kauã também.
— Tudo bem, vou me apressar aqui nas compras e onze horas eu estarei lá.
— E não perca essa chance de emprego, viu dona Solange?! — apontou o dedo na minha direção. — Se ele te pagar melhor que a Cláudia, então tu deixa seu serviço no salão, entendeu? Conselho de amiga!
— Pode deixar, dona Sílvia! — ri, concordando com a cabeça.
Eu e dona Sílvia nos despedimos brevemente e eu segui com Kauã na direção das lojas de roupas.
Era começo de ano, as lojas estavam lotadas de turistas de todas as partes, mal dava pra entender as inúmeras línguas espalhadas pelo Vidigal. Kauã achava um máximo ver as pessoas falando diferente de seu idioma e prometeu pra mim, que quando crescesse ia saber falar todos eles.
— Filho, nada de brinquedos! — o virei na direção das roupas.
— Os soldadinhos! — apontou na direção de uma prateleira com brinquedos.
— Outro dia, querido! Hoje não teremos nada de brinquedos, tudo bem? Lembra do que conversamos?

[...]

Depois que fizemos as compras de roupas e do tênis novo, eu decidi que já era hora de subir para a padaria de dona Sílvia e depois do almoço, eu voltava para comprar o material escolar do Kauã.
— Quero materiais de soldadinhos. — Kauã pediu, enquanto subíamos pelas calçadas.
— Certo, mamãe vai tentar achar de soldadinhos, mas se não tiver, você vai querer de que outro jeito?
— Homem-aranha! — deu alguns pulinhos pra frente, sem soltar minha mão.
Chegamos na padaria de dona Sílvia e eu pedi que ela guardasse minhas sacolas de compra atrás do balcão. A padaria estava movimentada, já que recentemente, nas horas de almoço, dona Sílvia servia pratos prontos, o que chamou bastante a atenção dos turistas que vinham para o Vidigal.
— Sabe se ele está chegando já? São onze e quinze, talvez ele nem venha!
— O soldadinho! — Kauã tentou descer do banco próximo ao balcão, mas eu o impedi.
— Chegou. — dona Sílvia respondeu, apontando na direção da porta.
— Deixa eu ver ele, mamãe! — Kauã resmungou e eu o tirei do banco antes que ele pulasse dali.
Kauã não deu nem tempo de Rafael o cumprimentar e o abraçou pela cintura. Não sabia se achava fofa a atitude de meu filho ou se o repreendia por chegar assim nas pessoas, ainda mais em um soldado.
— Me desculpa pelo Kauã! — pedi, chamando a atenção de Rafael que estava abaixado e conversando com Kauã.
— Gosto dele! — respondeu, sorridente. — Olha, rapaz, como forma de me redimir pelo mal entendido de dias atrás, eu comprei esse brinquedo muito legal pra você!
— Meu Deus, não precisava! — ri, sem jeito.
— Deixa eu ver, deixa eu ver! — Kauã bateu palmas, enquanto Rafael entregava a enorme caixa em suas mãos.
— Qual a palavrinha mágica que dizemos, Kauã?
— Obrigado. — Kauã respondeu, rasgando o papel decorado.
— Agora você pode montar seu quartel general, viu? — Rafael chamou sua atenção, enquanto eles espalhavam as peças em cima da mesa. — Trabalhar em nome da pacificação, em prol da comunidade, de uma forma que diminua a violência e o mais importante: sempre ter esperança em dias melhores!

...

SUNSHINE (Luan Santana)Onde histórias criam vida. Descubra agora