Capítulo 14

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|Solange|

Rafael me apresentou seu apartamento inteiro, me explicou tudo que eu precisava fazer e disse que eu estaria livre para organizar tudo como eu achasse melhor.
— Então as roupas é só deixar na lavanderia do prédio? Eles sabem como precisa lavar ou eu tenho que explicar alguma coisa? — gesticulei com as mãos.
— Pode só chegar e entregar para a dona Cida, avisa que são minhas e ela já sabe como fazer.
— Certo, entendi.
— Eu queria te pedir outra coisa, que pode parecer ridículo, mas sempre peço. — coçou a cabeça, sem jeito.
— Pode falar!
— Eu tenho uma ex namorada, ela vive me procurando, às vezes ela passa o Durval na conversa e ele liga aqui pra saber se ela pode subir, então assim, se um dia ele ligar, perguntando e você atender, diz que não estou em casa e que não autorizei a entrada de ninguém e você pode falar isso, mesmo que eu esteja aqui. — pediu e eu comecei a rir. — Eu sei, é uma merda, mas só assim consigo sossego.
— Eu te entendo perfeitamente. — suspirei, revirando os olhos. — Eu tenho que aguentar um ex pé no saco e só suporto ele, por causa do meu filho, apesar dele não dar a mínima para o Kauã.
— Bom, quem está perdendo é ele, o Kauã é uma criança maravilhosa e no futuro ele vai se arrepender de não ter ficado perto do filho. — me deu um breve sorriso.
— É verdade, meu filho é muito precioso! — respondi orgulhosa. — Você tem mais alguma recomendação a fazer?
— Acho que não. — franziu o nariz. — Mas se depois, eu lembrar de algo, te aviso.
— Tudo bem, então vou começar!
Eu comecei arrumando uma pequena bagunça na cozinha, Rafael não era muito desorganizado e o serviço era pouco.
Enquanto eu guardava algumas canecas no armário, voltei minha atenção para uma foto em um pequeno quadro, pregado ao lado de um dos armários, era ele, um homem mais velho e uma mulher grávida.
— É seu pai? — não contive minha curiosidade e perguntei sobre a foto.
— É, meu pai e minha irmã. — murmurou, dando um sorriso de canto.
— Sua irmã parece muito com você. — voltei minha atenção para a fotografia.
— Parecia. — suspirou. — Ela morreu em um acidente há um ano atrás.
— Nossa, eu sinto muito, eu não quis ser inconveniente, eu não sabia e...
— Tudo bem. — balançou as mãos. — Na época eu tinha muita dificuldade em falar sobre o assunto, mas com o tempo, eu meio que me acostumei com a ausência dela, com o vazio... — abaixou os ombros, fazendo uma pausa. — hoje em dia, me agarro a esperança de que ela com certeza está em um lugar melhor!
— Tenho certeza que sim. — dei um breve sorriso.
— Essa foto a gente tirou um dia antes do acidente, ela morreu e o bebê também, era um menininho. — se aproximou, pegando o pequeno quadro da parede. — O acidente foi culpa da chuva, meu pai perdeu o controle e o carro caiu em um ribanceira. Eu estava no carro logo atrás, minha irmã morreu na hora, a pancada na cabeça foi muito forte. Minha mãe culpou meu pai pela morte da minha irmã, eles se divorciaram, ela foi morar em Bruxelas e meu pai se mudou para Salvador, acho que nossa família se partiu em pedaços.
— Eu perdi meus pais muito cedo também, meu pai abandonou minha família quando eu tinha cinco anos e minha mãe faleceu quando eu completei quinze anos. — torci os lábios. — Acho que todo ser humano, tem alguma dor muito profunda na alma, mas com o tempo nos acostumamos e levamos a vida, tem gente que aprende a lidar com a dor e tem gente que não, enfim... — levantei os ombros. — E me desculpa se te deixe chateado, tocando no assunto, eu realmente não sabia!
— Tudo bem. — devolveu o quadro na parede. — Às vezes eu falo sobre esse assunto, é como se tirasse um pouco do peso das minhas costas.

...

SUNSHINE (Luan Santana)Onde histórias criam vida. Descubra agora