Capítulo 83

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|Solange - continuação|

— Tentei entrar em contato várias vezes, mas sua mãe disse que vocês me odiavam e não queriam me ver, trocou os números telefônicos, cortou todo contato que eu podia ter com vocês, proibiu até mesmo a dona Mara a conversar comigo.
— Para de tentar jogar nas costas da minha mãe. — o repreendi.
— Jamais faria isso, Solange, sua mãe foi o amor da minha vida, o único amor que eu já tive...
— Que droga de amor era esse? — ri, incrédula com seu cinismo.
— Eu depositei dinheiro na conta dela, depositava mais da metade do meu salário e ela quitou o pagamento da casa. Escrevi uma carta, dizendo que eu tinha saído do trabalho na fazenda clandestina e que agora estava trabalhando em outra fazenda, para outra pessoa, que eu era um homem limpo e de acordo com a lei, mas ela me escreveu uma carta dizendo que me odiava e que era pra eu cortar todo contato definitivamente. Eu enviei presentes a vocês, mas ela devolvia todos e dizia que você e Kaique não queriam os presentes.
— Mentiroso, eu nunca recebi NADA seu...
— Sua mãe impedia de que os presentes chegassem até vocês, pergunte a dona Mara!
— Sem querer me intrometer... — Rafael nos interrompeu. — Por que o senhor não voltou pessoalmente e explicou tudo? A mãe da Solange só podia te proibir por palavras, o senhor ainda era livre pra fazer o que quisesse.
— Meu chefe e eu nos mudamos para uma fazenda no México, ficamos muito amigos e ele me tratava como um irmão mais novo, ele não tinha ninguém, não tinha família e eu fiquei ao seu lado, até que ele desse seu último suspiro, ele morreu faz dois anos e sua fortuna veio toda pra mim. Foi assim que fiquei rico...
— O senhor ficou ao lado do pobre coitado do seu amigo rico, que não tinha uma família, mas não moveu um centímetro do seu pé para voltar ao Rio e se explicar pessoalmente a sua FAMÍLIA DE VERDADE! Nossa que comovente! — ironizei. — Quanto mais o senhor fala, pior fica! E eu sinceramente não sei se quero ouvir mais!
— Sol, minha filha, eu voltei para consertar o meu erro, sei que faz quase vinte anos, mas aqui estou eu. — apontou para si mesmo. — Disposto a arrumar tudo, faço qualquer coisa pra que você e Kaique me dêem uma chance que seja de perdão.
— Eu não sei... — senti meus olhos marejarem. — Não sei se consigo, foram dezenoves anos, eu passei por tantas coisas, sofri muito tempo calada, vi minha mãe chorando noites e noites sozinha e eu não podia fazer nada. Vi o Kaique trabalhando desde criança, pra poder ajudar em casa! Vi e senti tudo sozinha. Você estragou tudo, acabou com a nossa família. Não é tão simples assim, você chegar e achar que vamos te perdoar por essa história que está me contando. Como vou saber se é verdade mesmo?
— Pode pesquisar, procurar o que quiser sobre mim, não estou mentindo nem escondendo nada. Se me permitirem, quero tirar você e Kaique do Vidigal, pagar uma escola melhor ao meu neto e realizar seu sonho de cursar uma faculdade ou até mesmo montar sua confeitaria, me lembro que você sempre teve esse sonho e eu fiquei sabendo por terceiros que você ainda tem essa vontade, seguir os passos da sua mãe...
— Você quer comprar meu perdão? — indaguei incrédula. — Morar em um bairro nobre, dar tudo de melhor para o meu filho, montar minha confeitaria, é assim que o senhor quer o meu perdão e do Kaique?
— Não foi isso que eu quis dizer, Sol, eu só quero poder fazer por vocês o que eu não fiz por dezenove anos.
— Quero ir embora. — levantei, chamando a atenção de Rafael.
— Sol, por favor, eu acho que ainda temos muito o que conversar...
— É muita coisa pra ela escutar em um dia só, senhor Márcio. — Rafael disse enquanto eu já abria a porta do quarto para sair.
Dei às costas aos dois e saí apressada na direção do elevador, eu não queria escutar mais nada.

...

SUNSHINE (Luan Santana)Onde histórias criam vida. Descubra agora