|Rafael|
⠀
A noite parecia um pouco solitária dentro desse apartamento, um silêncio, um vazio e o cheiro do perfume de Solange preenchendo todo o aroma.
Deixei as luzes todas desligadas, apenas uma pequena luminária na sala, em luz baixa e fiquei quieto, escutando o silêncio ensurdecedor que esse lugar fazia.
Quando peguei meu celular para finalmente ver as mensagens do dia, percebi que recebi algumas do meu pai, do Toledo e algumas da Lívia, nas quais ela lamentava a morte de minha irmã e disse ainda que sentia muito por mim.
Não havia nada da minha mãe, o que já esperado, porque ela sempre sofre em silêncio e eu tenho certeza absoluta de que hoje ela sofreu muito mais do que nos outros dias.
Posso parecer insensível, mas não vou mandar mensagem a ela, nem mesmo ligar, porque eu sei que só vai piorar a situação.
Vou dormir e torcer para que amanhã seja um dia melhor.
⠀
(...)
⠀
Acordei pela manhã, enviei uma mensagem para Solange dispensando ela no dia de hoje, afinal ontem eu já dei trabalho demais pra ela, mas ela pareceu fingir não ver minha mensagem ou não me deu a mínima e veio para o meu apartamento do mesmo jeito.
— Ontem eu estava com você como amiga e companheira, não considero um dia de trabalho. — se explicou, arrumando a mesa do café da manhã. — Ou você considera como um dia de trabalho?
— Claro que não, Sol! Eu só pensei que você quisesse descansar hoje. — gesticulei com as mãos.
— Que nada, gosto de estar na ativa! — franziu o nariz.
— Eu vou fazer uma caminhada, não demoro muito. Só quero pegar um ar fresco, respirar um pouco fora desse apartamento.
— Ah, antes que eu me esqueça... — enfiou a mão no bolso da calça. — Kauã fez um desenho pra você e disse que era um presente pra você não ficar triste!
— Ele colocou até um adesivo. — sorri, abrindo o papel dobrado.
— Ele disse que não era pra eu ver, que era pra você ver primeiro. — gesticulou com as mãos e eu ri.
Quando terminei de desdobrar o papel, ali estava um singelo desenho de uma criança de sete anos: quatro pessoas desenhadas, em cima de cada uma, tinham seus nomes, começando pelo Kaique, depois Solange, eu e por fim, ele. Bem grande, no meio da folha, estava escrito "Família" e várias carinhas sorridentes.
— Olha... — virei o desenho na direção de Solange. — Avisa que vou guardar o desenho com todo amor do mundo, em um lugar especial!
— Vou avisar...
— Aliás, eu vou ver ele e agradeço pessoalmente. — dobrei o papel novamente. — Vou deixar aqui, quando eu voltar, eu guardo. — coloquei embaixo de uma pequena tigela de porcelana. — Eu não demoro voltar!
— Tudo bem. — Sol mal me deu atenção, já estava fazendo suas coisas.
Quando saí e caminhei na direção do elevador, percebi que minha vizinha também estava vindo, eu até pensei em não segurar o elevador pra ela, mas eu seria muito mal educado e por mais que eu ache ela antipática, eu não iria agir dessa forma.
— Bom dia. — me cumprimentou, sorridente.
— Bom dia. — forcei um sorriso.
— Vai caminhar também?
Olhei seu reflexo no espelho do elevador e ela também estava com roupa de treino.
— Mais ou menos, eu vou para o quartel, vou treinar lá mesmo na academia que temos...
— Você é policial?
— Sou do exército. — respondi, olhando para os números dos andares que pareciam descer lentamente.
— Que máximo, eu sou modelo! — insistiu no assunto. — Inclusive estou no Rio capital, porque fui contratada por uma grande agência de modelos, vou disputar o Miss Brasil.
— Você parece mais europeia do que brasileira, acha que tem chance de ganhar e representar o Brasil? — o a porta do elevador abriu e eu saí, sem esperar sua resposta.
— Quem representaria melhor o Brasil do que eu? — ela pareceu irritada com meu comentário.
— Alguém que não parecesse europeia. — acenei na sua direção e ela me encarava furiosa.
⠀
...
VOCÊ ESTÁ LENDO
SUNSHINE (Luan Santana)
Fanfic- Fanfic postada em 2020 no perfil do instagram: umaescritoramb; - Ela foi revisada por cima na época, então pode conter um erro ou outro; Qualquer dúvida, sugestão ou correção, podem me chamar na DM do instagram "umaescritoramb"