Capítulo 20

128 8 0
                                    

|Solange|

— Eu odeio quando isso acontece! — Carolina sussurrou, enquanto estávamos encolhidas no chão do salão e dona Cláudia terminava de fechar tudo.
— É... eu também... — respondi aflita. — O Kauã fica muito assustado quando isso acontece, eu fico preocupada, com medo de acontecer algo...
— Vai ficar tudo bem! Sempre fica, ele vai ficar bem! — passou a mão em meu ombro.
Eu tentei telefonar no colégio, mas os telefones ou estavam ocupados, ou chamavam até a ligação cair.
Esse tipo de situação já tinha parado há algum tempo no Vidigal, não sei o porquê de voltar agora, justo agora que estou longe do meu filho.
Foram longos minutos de agonia, do lado de fora e do lado de dentro do salão, alguns minutos de silêncio e parece que tudo tinha acabado, mas só tivemos certeza de que tudo realmente acabou, quando os policiais desceram, alegando que estava tudo sob controle novamente.
— Onde você vai? — Carol questionou, enquanto eu pegava minha bolsa embaixo do balcão.
— Vou na escola do Kauã, quero ver meu filho!
— Mas ainda estão em horário de aula...
— Eu sei, mas eu vou pedir pra liberarem ele mais cedo. — respondi e saí, apressada do salão de beleza.
Cláudia chamou minha atenção, alertando que eu tinha clientes pra atender em breve, mas eu recusei e avisei que iria atrás do meu filho.  Sei que isso pode causar problemas e que talvez ela nem me aceite de volta, mas se eu não ver meu filho agora, sinto que terei um ataque de pânico.
— A sua mamãe está ali! — a inspetora trouxe Kauã até metade do corredor e ele terminou de vir até mim.
Seus olhos assustados e vermelhos, denunciavam que ele havia chorado muito.
— Tudo bem, mamãe está aqui agora! — o abracei apertado.
— Ele chorou bastante, íamos te telefonar mesmo! — a inspetora disse e eu me levantei, com Kauã nos braços.
— Pode buscar a mochila dele, por favor? Eu vou levar ele embora. — pedi e ela assentiu, se retirando. — Tudo bem, meu pequeno, já passou! Mamãe está aqui agora. — deixei um beijo em seu rosto.

Saí da escola com Kauã nos braços, ele não queria sair do colo, estava com medo e mal conseguia falar, ele sempre ficava assim, quando acontecia essas situações no Vidigal, meu coração de mãe fica apertado.
— Você quer que a mamãe faça aquele seu prato favorito no almoço? — questionei, enquanto subíamos na direção da nossa casa.
Kauã apenas balançou a cabeça positivamente.
— Não precisa sentir medo, já passou, acabou e estamos chegando em casa.
— Solange?! — escutei alguém chamando por mim e ao virar, avistei Rafael subindo na nossa direção. — Tudo bem com vocês dois? Eu te procurei no salão e me disseram que você foi até a escola, fiquei com medo de ter acontecido alguma coisa com ele!
— Tudo bem, ele só está assustado! — respondi e Kauã acenou brevemente para Rafael.
— Que bom que você está bem, campeão! — Rafael se aproximou, levantando a mão brevemente na frente de Kauã e eles fizeram um toque. — Estão indo pra casa?
— Sim, eu decidi levar ele embora mais cedo! Sabe, coração de mãe! — ri, sem jeito.
— Quer que eu leve ele pra você? — sugeriu.
— Ah, não precisa, você deve estar ocupado no serviço, pode deixar que... — não tive tempo de terminar, já que Kauã estendeu os braços na direção de Rafael que o pegou no mesmo instante. — Já que insistem, então tudo bem! — ajeitei a bolsa no ombro e Rafael veio para o meu lado.
Subimos juntos na direção da minha casa e Kauã já estava falando novamente, conversando sobre seus soldadinhos e sobre o trabalho de Rafael na comunidade.
— Você quer entrar pra conhecer meus soldadinhos? — Kauã questionou, quando chegamos na frente de casa.
— Se sua mãe deixar, eu vou adoraria! — Rafael respondeu, voltando sua atenção pra mim.
— Por mim, tudo bem! — sorri, levantando os ombros.
Entramos em casa e Kauã foi correndo buscar seus soldadinhos, aproveitei para agradecer ao Rafael mais uma vez.
— Muito obrigada, eu sei que é complicado quando acontece esses tiroteios no morro e sua atenção com o Kauã foi de grande ajuda...
— Olha, esses são meus soldadinhos. — Kauã jogou seus bonecos sobre o sofá e Rafael o olhou, orgulhoso. — Mamãe que compra mim, sempre que ela acha um, ela traz e eu guardo tudo!

...

SUNSHINE (Luan Santana)Onde histórias criam vida. Descubra agora