Mediadora III- História

4 2 0
                                    

*Leandra*

Fiquei estática com as suas palavras. Era verdade, eu fugia e evitava encarar as coisas principalmente o que sentia. 

-Desculpa-me. É um mecanismo de defesa, é mais forte do que eu.- Admiti enquanto me sentava, agora com toda humildade possível e realmente pronta pra ouvir

-Tudo bem.- Ela respondeu mudando a postura.- Realmente eu estava te testando, sem você entender por ti mesma que precisas de ajuda e decidires fazer alguma coisa sobre, eu não tenho como ajudar.- Ela parecia satisfeita

-Mas como fazemos isso?-perguntei meio desconfortável. Eu sempre conversava com a Laura e isso por si só me deixava ansiosa porque a Laura eu conheço e consigo ler mas, a Ali embora eu saiba sobre a vida dela, eu não a conheço e a postura dela é indecifrável para mim.- Sinto que estás me analisando.- Falei perante o seu silêncio

-E estou.- Ela respondeu simples

-Hm...Podemos começar seja lá como?- perguntei 

Ela voltou a olhar para o tablet que agora mantinha em mãos e pegou uns óculos na mochila que trouxe consigo.

Ela voltou a olhar para o tablet que agora mantinha em mãos e pegou uns óculos na mochila que trouxe consigo

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

-Estás me deixando ansiosa Ali.- Confessei não aguentando mais tanto silêncio

Ela colocou os óculos e depois de endireitá-los perfeitamente no seu rosto falou:

-Primeiro, queres que seja algo de uma só vez ou pretendes fazer disso o começo de algo mais duradouro?- Ela perguntou e pude notar a postura profissional que ela havia adotado. Fiquei pensativa. Eu conversava sempre com a Laura e ela também era psicóloga se bem que a Ali é mais conhecedora da área mas, era suficiente eu acho. Contudo, lembrei de algo que eu pensei quando estive com o Leo e ele me falava da relação dele com a Ali. 

-Seria correto sendo que me conheces?- Não resisti em perguntar

-Deves ter pensado no Leo.- Ela respondeu perspicaz como sempre- Leandra, eu não te conheço embora saiba quem és e o mesmo se aplica a ti quanto a mim.- Ela tinha um ponto.- E tratando do Leo, não é como se eu pudesse mudar o fato de ser psiquiatra e psicóloga e etc, então ao conversar comigo, se notam esses traços sem que eu possa realmente evitar o que de certa forma faz parecer que...-

-A pessoa está fazendo terapia mesmo não realmente estando.- completei entendendo onde ela quer chegar

-sim. Existe uma linha bem fina entre estar ou não fazendo terapia quando a pessoa passa a conversar comigo, por esse fato alguns consideram ser terapia conversar comigo.- Ela explicou

-Compreendo. Então, é mais como a pessoa vê as coisas?- perguntei

-Sim. Podemos realmente fazer terapia com todos os quesitos, mas também pode ser assim o parecer pela forma como as coisas vão decorrendo mas sem ser de fato.-

-Mas onde reside a grande diferença?- perguntei

-Uma das grandes diferenças é a abordagem, numa conversa amigável onde é sobre ouvir e aconselhar eu tenho mais flexibilidade, envolve falar dos casos que conheço e já vi, sem entrar em detalhes, e falar do meu caso. Já numa terapia não há isso, a terapia é mais sobre você encontrando o caminho sozinha enquanto eu vou auxiliando aos poucos. É como lapidar um diamante, o diamante é valioso por si só e depois de limpo e tudo mais ele só precisa de alguém que vai endireitando as pontas tornando-o aquilo que é desejado. -

-Apareces mais como um apoio.- Completei e ela assentiu- Vamos na conversa amigável então e que essa não seja a única mas, sim a primeira.- Respondi certa do que dizia

-Agora que já esclarecemos isso vamos a segunda coisa, hoje que te apetece falar?- 

-Falemos de toda a questão do Leo.- respondi

-Podemos começar por aí mas para isso, como sabes precisamos ir no princípio de tudo, da vossa relação.- Ela falou calma e sorrindo calorosamente

-Mas você sabe de tudo.- Respondi

-Eu sei do lado de fora, sei o lado do Leo, agora é o teu lado que quero saber e é uma perspectiva que só você pode dar.- Ela sorriu ainda mais com a própria resposta

-É algo recorrente não é?- perguntei

-Sim. As pessoas tendem a evitar falar e eu meio que tento explicar com abordagens diferentes para cada pessoa que não é sobre o que eu entendo pelo não expresso e dar conselhos, é sobre a pessoa se sentir leve por compartilhar e me dar um outro ponto de vista também.- Ali

-Bem, nós nos conhecemos no sexto ano e ele tinha uma energia contagiante apesar de eu na altura, ser uma pedra de gelo ambulante.- Não pude não rir com minhas palavras- Ele foi paciente e insistente, aos poucos eu fui permitindo que ele entrasse principalmente depois de ver que a Laura lhe havia permitido entrar. Ele era maravilhoso.- Eu falava com um sentimento nostálgico.- Ele me explicava cada coisa que em teoria eu deveria saber com toda paciência do mundo e eu me alegrava intensamente e imensamente pelas coisas mais besta possível. Em nenhum momento ele me olhava torto ou mesmo criticava a minha atitude.-

-Era como se ele soubesse que precisavas disso.- A Ali falou em tom manso

-Sim. Ele era quem eu precisava, me fazia sorrir quando tudo que eu queria era chorar, alegrava os dias mais tristes e quebrava as barreiras que eu construía só para afastar as pessoas. A aparição dele na minha vida foi das melhores coisas que aconteceu. A Laura tratava da teoria sobre os sentimentos e ele da prática.-

-O que foi de ajuda para que a vossa relação fosse mais profunda, intensa- A Ali falou e eu só pude assentir. A essa altura, lágrimas desciam livres não era porque o passado era doloroso, longe disso, era porque foi por minha causa que foi arruinado. 

-Pior de tudo é que não consigo me arrepender do curso que as coisas por mais que agora esteja sofrendo por isso- acabei falando em voz alta

-Porque elas é que te deram o Chris, teu filho.- Eu não faço ideia como a Ali consegue acompanhar mesmo com coisas não ditas e não é agora que vou entender e só pude assentir

-Não tens Leandra.- Assim que ela falou isso, fixei os olhos nela e ela sorriu.- Revisitamos o passado não para que ele possa nos atormentar pelas coisas que nos arrependemos de não fazer mas, para aprender dele e porque sem ele, não haveria o hoje. Ele, o passado, por mais doloroso que possa ser, é o que nos moldou para quem nos tornamos e nos faz reconhecer onde erramos. Nada te garante que se tivesses uma segunda chance sem consciência do passado irias seguir diferente porque é pela visão que o agora te dá que julgas o passado, uma visão que sem ele não terias.- Fiquei pensando e assimilando as suas palavras. 

-Acho que tens razão.- Falei 

-Gostarias de continuar? É no teu tempo Leandra- Ela perguntou

-Continuemos sim. - Sorri de volta.

Amor: Um vínculo inquebrável?Onde histórias criam vida. Descubra agora