Hoje, no mesmo botequim de sempre, reencontro a mesma mulher que aparenta ter seus quarenta e poucos anos. No mesmo balcão de sempre, trocamos palavras agradáveis e experiências sobre nossas vivências. Enquanto trago meu cigarro, ela fala sobre uma grande aventura que teve quando tinha seus vinte e tantos anos, idade que eu também tenho aproximadamente. Enquanto toma sua dose de white house, ela conta sobre o período em que o conheceu e descreve-o com muita saudade e angústia nos olhos. Sinto o peso nas suas palavras.
Essa pessoa é descrita com um belo sorriso contagiante, sempre alegre. Ela acrescenta que ele amava a vida e viver. Na mesma época em que o conheceu, ele, casado e mais velho que a mulher do bar, tinha a esposa acamada. A pedido dela, ele se aventurava com outras, pois alegava que não poderia mais servi-lo e saciar suas vontades. Cuidou dela até seus últimos dias de vida. Hoje, seu amigo e talvez sua grande paixão encontra-se internado pós cirurgia no coração, em estado grave. A mulher chora enquanto toma mais uma dose, faz promessas em segredo para vê-lo mais uma vez bem. Acredita que, por amar viver, ele voltaria com seu sorriso característico e amável.
Gostaria de ter palavras para confortá-la em tamanho sofrimento. Hoje, só me cabe ouvir suas histórias, aventuras e angústias. Gostaria de ter esperança tanto quanto ela em tamanho desespero em certos momentos. Como diria José Saramago: "A esperança é como o sal, não alimenta, mas dá sabor ao pão." Em meio à dose e mais doses, cigarros, choramos em forma de reza e tentativa de esquecimento para as dores do mundo, com gosto de esperança de dias melhores que virão, onde poderemos ver mais uma vez seu sorriso.
Enquanto nos aproximamos da meia-noite, o litro de uísque desce, perguntas e reflexões me invadem: como pessoas boas podem sofrer tanto antes de partir, e o que se passa na mente de alguém que está diante da morte em seus últimos minutos de vida? Mesmo sabendo que não somos perfeitos, como podemos sofrer tanto em vida e ao mesmo tempo celebrar o nascimento?
No percurso da vida, nos esbarramos com algumas pessoas tão imperfeitas quanto nós mesmos. Algumas firmamos laços, outras deixam lembranças em nossas memórias. O amor me parece uma escolha, além de sentimentos e emoções contraditórios, além da razão. No final, trata-se de seres tentando mitigar a vida um do outro, mesmo à distância. Talvez isso seja a essência do amor. Penso no amor em suas diversas manifestações, e o que essa mulher me conta só pode ser amor também. O relógio marca quase 2h da manhã, em meio à última dose, recebemos a notícia de que ele partiu.
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Diário de Alguém que Cresceu às Pressas
De TodoNum mundo obscurecido pela desilusão e pela introspecção, acompanhamos a jornada de um protagonista atormentado pela lucidez de sua própria alma. Nessa narrativa introspectiva, o protagonista confronta sua própria insignificância e mediocridade, enq...