CONFISSÕES DE UM PEREGRINO PERDIDO

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Entre dores e drogas, caminho suportando a existência como um peregrino nas confusões do caminho. Para ti, meu confidente, confesso: não siga meus trilhos. Estou perdido, sem fé e sem esperança, mas sigo caminhando em direção ao meu desejado fim. A vida é sacana, e tudo o que vejo é pura apatia, seja como for que a roda da vida gira ou as relações humanas. Mau por mal, basto eu sem paciência ou coragem para lidar com os monstros alheios, mesmo tendo o dom ou a maldição de sentir coisas que seres supérfluos não sentem nem entendem, talvez por pura preguiça.

Meu caro amigo e leitor, não se engane com a vida e suas feitiçarias. Aquilo que por ora chamamos de luxúria ou mulher, para um homem ir à ruína, basta uma. Talvez seja fraco por sentir, até mesmo no calcanhar, as dores do mundo e o peso da existência e seus dilemas sem fim. Hoje, desejo apenas o meu fim, sem ter coragem de colocar um ponto final nessa história tão insignificante. Mato-me sem pressa com meus vícios e me destruo a cada cigarro. As dependências ou talvez seja melhor chamar de refúgio, aumentam. Seja um cigarro, uma dose de algo mais forte, ou até mesmo um teco para se sentir despertado e longe desses conflitos, dos tormentos e dilemas da vida humana. Tenho medo do meu futuro, pois sigo numa linha muito bamba, entre a razão de sofrer e as falsas alegrias dos prazeres. A felicidade e a paz da alma que o homem tanto busca talvez sejam apenas uma linha no horizonte, nada mais que isso, certamente no inferno inconsciente. Mesmo consciente das sombras e do próprio inferno, como fugir se aquilo que também é mau traz paz em meio a esse inferno maior? Nem mesmo Deus pode ajudar. Rogamos e rezamos na esperança de um salvador que nos tire da nossa própria punição, das nossas fraquezas e dos males que a vida nos fez, ou melhor, de quem nos tornamos nessa caminhada.

Quem está certo e confiante diante da vida certamente está mentindo, diz meias verdades ou talvez não tenha vivido a vida como ela é. Para aqueles que sentem a vida e seus estragos, um trago do cigarro mata menos do que a típica vida cotidiana e as relações íntimas nunca antes vividas de fato. Dirijo-me novamente a você, que perde seu tempo lendo frases tão pessimistas. Não espere conselhos ou palavras bonitas deste jovem velho; perdoe-me por tais palavras sinceras. Em alguns textos, fui hipócrita ao dizer que a vida vale a pena ser vivida, apesar dos pesares. A única coisa que posso dizer é: viva e tire suas próprias conclusões. Não é porque minha vida não foi afortunada que a sua também não possa ser. Talvez você tenha a sorte de ser feliz.

Estou farto de escrever e gritar silenciosamente dores cruas em vão. Hoje, volto-me para meus companheiros: minha dose e meu cigarro. Bebo e trago, penso e fico calado, sentindo a paz e seus estragos. Um suicídio lento, atormentado por pensamentos. A vida é um suspiro e sigo cansado sem respirar, agonizando e rogando para um dia encontrar algo verdadeiramente reconfortante para descansar.

Diário de Alguém que Cresceu às PressasOnde histórias criam vida. Descubra agora