Diário de Alguém que Cresceu às Pressas

O SALTITAR DAS INSPIRAÇÕES

Rubem Alves, em seu livro "Ostra feliz não faz pérola", fala sobre a diferença entre inspiração e método. Ele diz que, na ciência, é preciso explicar o caminho que levou a uma ideia, enquanto a inspiração surge de forma inesperada, em momentos raros de distração. Picasso, por sua vez, explicou seu "método" dizendo: "Eu não procuro. Eu encontro".

Às vezes, passo dias em busca de palavras para expressar o âmago de uma única inspiração que, de maneira graciosamente inesperada, veio até mim. Tentativa que por muitas vezes falho. É como se estivesse tentando capturar algo que está além do alcance das minhas mãos. As inspirações são como pássaros livres, difíceis de serem contidas, e nenhum de nós é suficientemente perspicaz para transmiti-las com total fidelidade. Por que será? Esse questionamento tem se tornado cada vez mais claro para mim, pois as inspirações são como criaturas selvagens e encantadoras, que desaparecem rapidamente quando tentamos persegui-las. De forma curiosa, quando menos esperamos, elas surgem de maneiras nunca antes imaginadas.

A experiência de escrever quando sou agraciado pela inspiração é verdadeiramente única. As palavras e ideias aparecem como visitantes inesperados, lembrando-me de que não sou o único dono delas. Algumas desaparecem tão rápido que mal tenho tempo de apreciá-las. Talvez haja uma razão para isso: a sua beleza é tão intensa que a linguagem humana nem sempre consegue capturá-la com perfeição. No entanto, quando sou capaz de capturar algumas dessas ideias, mesmo com as limitações da linguagem escrita, ao ler o resultado final, compreendo que definitivamente não poderia ter criado aquilo sozinho. Sinto-me como um instrumento que ajuda a trazer essas concepções para o mundo.