3 - capítulo

1.8K 269 18
                                    


      Freen Sarocha


Cheguei ao hospital ainda abotoando a camisa, melhor do que como sai de casa, que foi abotoando a calça e com a camisa no ombro, o porteiro e a senhora que sempre anda com um cachorro magro, sem pelos e feio ficaram me encarando enquanto eu passava correndo e com o busto coberto apenas pelo sutiã. Não sei por que estão espantados, quando saí do meu apartamento ainda nem tinha vestido a calça.

- Onde está a doutora Savinon? – perguntei a recepcionista e ela digitou algo em seu computador.

- Terceiro andar. – ela disse e eu me dirigi ao elevador. Apertei o botão com o número três e arrumei meu cabelo. Quando ele abriu a porta vi a morena saindo de um quarto. – Onde está minha filha? O que ela tem? – perguntei me aproximando da morena. Dulce é cardiologista, e mesmo que eu não admita, a única que eu respeito aqui dentro.

- Ela teve uma falta de ar e um desmaio. Já fiz alguns exames, eu tenho algumas suspeitas, mas vou esperar que se confirme. Alexa está nesse quarto. – Dulce respondeu apontando pra trás. Assim que ela falou eu deixei que ela continuasse a falar e entrei no quarto dando de cara com minha ex-mulher. Rebecca mexe com minha imaginação até hoje, mas no momento a única coisa que me importa é minha filha. Me aproximei de Alexa que estava sentada jogando em seu celular.

- Tá tudo bem? – perguntei e segurei em sua mão, Alexa a puxou levemente, se afastando de mim. Percebi que Rebecca estava sentada em uma cadeira.

- Eu to bem, Freen. Não era necessário se preocupar. – ela respondeu sem olhar nos meus olhos, eu sabia que ela não falaria direito comigo. Então olhei pra Rebecca e pedi que ela me acompanhasse até o lado de fora. Rebecca se pôs de pé e eu abrir a porta pra que ela pudesse sair e logo fui atrás.

- O que aconteceu, Rebecca? – perguntei a ela que tinha os braços cruzados, mesmo depois de separadas nós conversávamos, mas normalmente sempre sobre assuntos que envolviam Alexa.

- Ela teve uma falta de ar na educação física e desmaiou, me ligaram e eu a trouxe para o hospital. Dulce fez alguns exames e eu não consegui te ligar, estava preocupada demais. –  esfregou suas mãos em seus braços, como se estivesse sentindo frio.

- Peguei o resultado da ressonância, do eletrocardiograma e do ecocardiograma. – Dulce apareceu com alguns resultados nas mãos. E Rebecca e eu a encaramos.

- Por que pediu tantos exames? – eu perguntei e ela olhou nos meus olhos.

- Por que era necessário. - essa fora a resposta dela. Dulce entrou no quarto e logo atrás dela Rebecca e eu entramos. Dulce pegou seu estetoscópio e o colocou em seus ouvidos, logo levando a ponta gelada até a pele da minha filha, Alexa olhou pra Rebecca que assentiu como que dizendo que estava tudo bem. A menina olhou rapidamente pra mim, mas desviou os olhos para o instrumento em sua pele. Engoli em seco. Dulce não estaria cuidando dela se não fosse algo realmente sério. Claro que ela faria com o que o melhor médico daqui a atendesse, por ser a madrinha, mas ela é uma cardiologista, isso pode significar tantas coisas que eu prefiro não pensar em nenhuma possibilidade. – Vou passar dois remédios pra você minha gatinha, mas quero você aqui em uma semana e na próxima semana também. Vou com suas mães buscar a receita e já assino sua alta pra que possa ir pra casa. – disse beijando a testa da Alexa, como eu já não fazia desde que era uma garotinha e ainda ia me visitar nos finais de semana. Até que por eu apenas trabalhar e brigar com ela enquanto ela tentava brincar com alguma coisa, as visitas foram diminuído, e a seis anos ela parou de ir, apenas dizendo que preferia ficar em casa. Eu fui a primeira a sair da sala pra poder respirar. Dulce saiu logo depois acompanhada de Rebecca. – Agora posso falar com vocês. Alexa vai ter que beber os remédios direito, na hora e dose correta. Ela está com miocardiopatia dilatada.

- Eu não estudei cardiologia, Savinon. – falei entredentes. Odiava toda essa espera imbecil.

- O ventrículo esquerdo dela está dilatado, expandido. E está com dificuldade para expulsar o sangue pra fora. E eu acredito que é congênito, por que eu não lembro de ninguém da família de vocês que tenha tido essa doença. – Dulce disse e eu procurei na lembrança.

- Os remédios vão ajudar? – ouvi a voz da Rebecca tão fraca e amedrontada.

- Eu não vou mentir pra vocês, não tenho tanta certeza. Espero que sim, se não mudar nada pode ser bem mais grave do que eu imagino, e vou precisar de exames mais detalhados. – Dulce disse e eu bufei alto.

- E se estiver tão grave, o que é necessário se fazer? – perguntei com raiva, por que parece que quando tudo já tá uma merda, acontece alguma coisa, por que aparentemente é necessário piorar mais ainda, não é o suficiente. Não consigo me envolver emocionalmente com ninguém, meus amigos se afastaram, minha irmã está irritada comigo, minha mãe eu nem sei como está, meu pai já é falecido a quatorze anos, minha filha me odeia e ainda está doente. O que mais falta?

- Ela pode precisar de um transplante de coração, só tem um problema, o sangue dela, é B negativo, como o seu doutora Sarocha. – ela disse e eu engoli em seco. Rebecca me olhou procurando respostas.

- O que isso quer dizer? – ela perguntou olhando de mim pra Dulce.

- Não é um sangue muito comum, isso quer dizer que achar um doador é muito difícil. – respondi e Rebecca arregalou os olhos, e deixou uma lágrima escapar, quando eu ia a abraçar ouvimos uma voz atrás de nós.

- Becky. – olhamos em direção a voz apenas pra ver Taylor parada ali. 

Rebecca foi em direção a ela se jogando nos braços da namorada. Mas uma coisa que eu tenho que aprender a lidar, a mulher por quem ainda tenho sentimentos guardados no mais profundo do meu peito, com a namorada babaca, a qual minha filha adora.

- Com licença. – Dulce disse. – Vou assinar a receita e a alta da Alexa, vocês poderão levar ela pra casa. –  disse pra Taylor e Rebecca. 

Sabe a sensação de não ter espaço em alguns momentos. Quem levará minha filha pra casa será Rebecca, a mãe. E Taylor, uma babaca. Continuei no corredor, observando o que aconteceria. Logo o casal foi em direção ao quarto e minhas pernas seguiram a mesma direção.

- E ai, cabelos dourados. – Taylor disse a minha filha. Os cabelos de Alexa sempre foram mais claros, mas ela fazia o favor de clareá-los mais ainda de vez em quando.

- Oi tia Taylor. – Alexa disse animada dando um abraço na mulher, aonde eu me perdi no meio disso tudo?

- A gente pode te levar pra casa, e vamos pedir Pizza. – ela disse e eu arregalei os olhos.

- Não acho que seja uma boa idéia. – falei e as três me olharam, tentei falar com Rebecca apenas por olhares, como fazíamos ainda quando erámos casadas.

- Freen tem razão, é melhor comer algo saudável. Vai começar com a medicação hoje, não é bom comer algo tão pesado. – ela disse e eu senti o alivio invadir meu corpo.

- Tudo bem, comemos pizza outro dia. – Alexa disse e saiu da cama acompanhada da Taylor, as duas foram saindo da sala e Rebecca ficou pra trás arrumando as coisas da filha.

- Bebec. – chamei usando o apelido que não era usado por tantos anos. Vi seu corpo enrijecer com a surpresa. Ela me olhou sobre o ombro. – Eu posso ir visita-la? – perguntei com dúvida, sabendo que ela podia muito bem negar.

- Amanhã, mas vai com calma com ela. –  disse e eu assenti, logo ela saiu do quarto e eu fiquei ali dentro sozinha, tentando me lembrar de todo o meu passado.

............... 


O coisa é certa, o caminho da Sarocha não será tão fácil assim! 

My Mistakes - FreenbeckyOnde histórias criam vida. Descubra agora