6 - capítulo

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    Becky Armstrong


- Onde Freen está? – Dulce perguntou examinando o coração da Lexa com o estetoscópio.

- Bom, acho que está trabalhando. Me diz você que é colega de trabalho dela. – falei e Dulce revirou os olhos. Ela odeia Freen, tenho que dizer que não morro de amores por ela, mas é estranho ver ela e Dulce se odiando. As duas viviam juntas, quando Freen não estava em casa eu sabia que estava com Dulce ou Lauren e eu não me importava. Mas depois da separação tudo ficou conturbado demais. Na verdade eu nem lembro direito tudo o que aconteceu pra ser sincera. – E ai, o que está ouvindo ai?

- O coração da Lexa. – ela disse e deu uma risadinha. Ouvimos duas batidinhas na porta.

- Licença. – Freen disse entrando, Lexa e Dulce reviraram os olhos e eu continuei na minha. Freen não me afeta mais, acho que não.

- Quer dar uma olhada na ala da maternidade? – Dulce perguntou a Lexa.

- Se quer falar com elas sozinhas isso não vai dar certo comigo tia. – Lexa disse e Dulce riu tirando uma nota de seu bolso. – Com cinco dólares você consegue. – minha filha saiu da maca e me deu um beijo antes de se dirigir a porta e sair do consultório. Freen puxou a cadeira pra que eu sentasse e assim o fiz, ela logo se sentou ao meu lado. Vi Dulce engolindo todo o orgulho pra falar com Freen naquele momento.

- Os remédios não fizeram o efeito que eu queria, vamos ter que aumentar a dosagem. – ela disse. – E isso pode a deixar sonolenta e com um pouco menos de apetite. – Freen se mexeu desconfortável na cadeira ao meu lado.

- Dul, isso vai ajudar de verdade? – perguntei a minha amiga.

- Esperamos que sim. – ela disse e abaixou a cabeça.

- Eu tenho que ir. – Freen anunciou e logo se colocou de pé. – Me liga se precisar de algo, Becky. – ela disse e eu assenti. Freen saiu da sala e eu encarei Dulce.

- Você realmente acredita que esse remédios vão fazer efeito? – perguntei e ela me encarou.

- Temos que tentar, Becky. – ela disse e abaixou a cabeça novamente, um arrepio de medo dominou meu corpo naquele momento. Tem que dar certo.


   Freen Sarocha


Saí da sala por me sentir sufocada, eu já tinha lido alguns relatórios de pacientes da Dulce com a mesma doença, e de sete casos, três faleceram. É um número grande demais, não estou preparada pra ouvir nada que relacione a isso. Quando estava chegando no meu consultório passei perto do berçário, Lexa estava mesmo ali. Eu nem sei por que, mas tive vontade de parar ao seu lado naquele momento. Tinha cerca de quinze bebês ali dentro, e eu tinha feito parto de oito deles.

- Quantos você ajudou a nascer? – ela perguntou e eu achei estranho ela dirigir a palavra a mim.

- Oito dos que estão ai. – ela assentiu e eu a olhei rapidamente antes de voltar aos bebês.

- Eu pesquisei sobre a minha doença, o que a tia Dulce disse lá dentro? – perguntou ajeitando o casaco do time de basebol da escola.

- E por que acreditaria que eu falaria pra você? Ela fez você sair da sala por que não quer que você saiba. Sabe disso, não é? – perguntei e ela assentiu, vi o movimento pelo leve reflexo do espelho.

- Apenas por que sei que você tem muitos defeitos, Freen. Mas sei que mentirosa você não é, e que nem sabe mentir. E por mais que eu odeie isso com todas as minhas forças, eu sei que você é a única que não vai mentir pra mim ou me esconder como se eu fosse uma criança babaca. – ela disse. Eu tive a sensação que era a única conversa que tínhamos desde os últimos dois anos. E o conteúdo dela não é algo que me agrade.

- Vão aumentar a dosagem dos medicamentos. Não teve o resultado que sua tia esperava. – falei e a garota assentiu.

- Eu posso morrer? – ela perguntou e eu engoli em seco só de imaginar aquela suposição.

- Não sei, sou obstetra. Não entendo muito sobre corações, ainda mais se tratando do seu. – ela deu uma leve risada. Uma enfermeira entrou no berçário e se aproximou de uma pequena menina, que não devia ter mais que quarenta e sete centímetros. Um homem chegou ao nosso lado carregando um garoto em seu colo com cerca de cinco anos enquanto os dois acenavam pra bebê que nem acordada estava.

- Papai, agora eu tenho que ser o super-herói dela. Não vou deixar nada acontecer com minha irmãzinha. – o garoto disse e fechou os punhos como se ameaçasse qualquer um que se aproximasse da nova integrante da sua família. Os dois continuaram ali por poucos minutos até a enfermeira dizer que eles podiam ir visitar a mãe, e que logo levariam a bebê para ser amamentada. O silêncio reina entre minha filha e eu, as vezes parece que somos desconhecidas. Pessoas que nunca fizeram parte da vida uma da outra, e o que mais me dói é que Lexa é apenas uma adolescente e já tem tanto rancor. Talvez seja algo em comum entre nós duas. Eu nem sei se ainda prestávamos atenção no berçário. Pelo menos, eu não estava mais prestando atenção em nada, estava afogada em lembranças.

- Sabe, Freen. – a garota chamou deslizando o dedo sobre o vidro que nos separava dos bebês. – Eu sempre quis ter um irmãozinho ou irmãzinha. Lembro que quando eu tinha oito anos, pedi pra mama te procurar pra vocês me darem um irmão, e que eu prometia ajudar. – vi uma lágrima solitária descer de seu olho, mas ela logo tratou de limpar. – Já fui uma criança babaca o suficiente. – ela disse e pela primeira vez, talvez na vida, eu prestava total atenção na Lexa. – Mas hoje eu vejo que se você nunca foi uma boa mãe pra mim, que apenas morava com a mama e não te dava trabalha algum, imagine para um novo bebê? – Lexa não me olhou em momento algum. – Você deveria aprender mais com sua profissão. – ela disse e foi andando em direção ao final do corredor. – Vou gastar os cinco dólares que a tia Dulce me deu, se por acaso minha mama te procurar, diz que estou na lanchonete a esperando com um suco de morango pra nós duas. – a garota disse sem nem olhar pra mim, eu assenti mesmo assim. Mesmo sabendo que ela não veria. 

A garota saiu e eu fiquei ali, parada no meio do corredor, com pessoas andando ao meu lado e eu apenas encarando o final do corredor, acreditando que uma adolescente fez meu castelo de gelo dentro do meu peito estremecer. Talvez sentindo algo de verdade em anos. Mesmo que tenha sido apenas dor. Era estranho saber que eu ainda tinha um coração, eu nem lembrava como eram as sensações que ele podia trazer. Balancei a cabeça expulsando todos os meus pensamentos e fui em direção a minha sala, o melhor é trabalhar e esquecer qualquer coisa.

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Por é só amores, espero que tenham gostado. Boa noite, bjs 😘😘

My Mistakes - FreenbeckyOnde histórias criam vida. Descubra agora