Freen Sarocha
- Doutora Sarocha. – Robert, o diretor do hospital me chamou enquanto Becky, Allan e eu voltávamos ao quarto da Lexa. Cumprimentei-o apertando sua mão.
- Como está, Robert? – perguntei educadamente.
- Bem, soube da sua filha. Fico feliz que tenha dado tudo certo. – ele disse com um sorriso simpático, concordei com a cabeça. – Bom, queria conversar rapidamente com você se não se importar. Tentei te ligar, mas seu celular só deu caixa postal. – olhei pra Becky que assentiu. Eu nem me lembrei de pegar o celular no porta luvas com toda essa confusão.
- Tudo bem, pode falar. – falei e peguei a mão do Allan. – Oh, esse é meu outro filho, Allan. – apresentei e o homem acariciou os cabelos do garoto.
- Suas férias remuneradas, você não tira férias a três anos, então tem três meses acumulados. Achei que esse seria um bom momento para tira-las. E não vou aceitar mais um não como resposta. Já até contratei uma nova obstetra. Ela chega hoje e vai continuar no hospital pra completar nosso quadro. Além do mais é uma bela loira. – o homem disse e piscou pra mim. Robert sempre fez esse tipo de brincadeira, por ser como um pai pra mim, sempre me ajudando dentro do hospital. Ouvi Becky tossir atrás de mim. – Oh, desculpa. – o senhor se desculpou meio sem graça.
- Tudo bem, Robert. E eu vou aceitar essas férias. – o homem sorriu. – Mas e essa nova médica, vai ficar com minhas pacientes? – perguntei e Becky me deu um beliscão discreto na cintura. – Por que eu não posso deixa-las sem obstetra. – olhei pra Becky e arregalei os olhos. Ela soltou minha pele e eu acariciei o lugar.
- Oh, sim. É uma ótima profissional, não se preocupe. Foi um prazer te ver Sarocha. – ele apertou minha mão. – Tchau senhorita, tchau garotinho. – ele acenou pra Becky e Allan e logo saiu. Voltamos a andar em direção ao quarto e Allan foi a frente, já sabendo o caminho.
- Deu sorte, Freen. – Becky disse apressando seu passo de braços cruzados, acabei rindo. Sinto falta dela com esse ciúme, e no momento isso é muito gratificante pra mim.
- Freen. – ouvi uma voz me chamar e me virei em direção a voz. Vi uma loira tão conhecida por mim, alguns centímetros menor e os olhos inchados. Minha irmã mais velha, Shay.
- Shay? – perguntei, estranhando o fato dela estar ali no hospital. Será que ela ficou sabendo da Lexa e veio visita-la? – Lexa está em observação, mas posso dar um jeito de você vê-la.
- Vim lhe entregar algo. – ela se aproximou e me entregou um envelope branco.
- O que é isso? – perguntei vendo que não tinha remetente e nem destinatário.
- É da mamãe, encontrei nas coisas dela quando fui desocupar o quarto ontem a tarde. – ela disse e eu a encarei.
- A levou pra sua casa? – perguntei, por que mais Shay haveria de desocupar o quarto do asilo da mamãe?
- Freen? Shay? – Becky se aproximou e ficou ao meu lado. Logo abraçou minha irmã que ainda tinha os olhos com brilho de lágrimas recentes. – Como você está?
- Indo. – Shay respondeu com um sorriso que mostrou que não era tão verdade assim. – E Lexa? – ela perguntou, então não sabia que Lexa havia passado por uma cirurgia, só estava ali pra me entregar uma carta que eu nem sabia se leria. Guardei o envelope em meu bolso enquanto as duas conversavam. Decidir deixar minha mãe no asilo a quatorze anos. Depois de beber a noite quase toda eu dirigi até o pequeno rancho onde ela e meu pai moravam. Minha mãe estava com frascos de remédios abertos e vazios sobre a mesa e uma garrafa de rum na mão. As duas bêbadas e completamente desnaturadas. Dona Marisa gritou dizendo palavras que me machucaram. Que agora eu dirigia como o assassino do meu pai, perguntou se não era eu naquela noite infeliz. Eu gritei dizendo que ela não era melhor do que eu e estava se entupindo de remédio pra poder se matar, perguntei se ela estava querendo visitar o papai mais cedo e recebi um tapa. Palavras que não devem ser ditas, palavras que não sabemos o quanto machucam e não as medimos. Já ouviu aquela história de que quem fala não lembra, mas quem ouve nunca esquece? Acho que foi o que ocorreu. Nós duas ainda machucadas por conta da morte do meu pai, o homem que mais nos ensinou o que era amor, ali estava morto. Orgulhosa eu sempre fui, assim como minha mãe.
Naquela momento ela colocou a mão na cabeça e a vi se sentar no sofá. Enquanto eu a observava a vi cair no sofá, desmaiada. Me aproximei cambaleando e demorei alguns minutos pra me situar e chamar uma ambulância. Eles chegaram depois de vinte minutos e eu fui junto, os enfermeiros falavam alto ao mesmo tempo e eu não conseguia entender nada do que falavam. Não consegui processar quanto tempo depois entramos no hospital pela emergência. Minha mãe seguiu pra sala na maca e eu sentei na recepção e liguei pra Shay do meu celular, expliquei rapidamente e ela logo chegou ao hospital. Tive que explicar a história mais uma vez e ela começou a me dar um sermão, abaixei a cabeça e acabei cochilando ali mesmo. Eu estava fedendo a álcool, bêbada, em um hospital, com uma irmã me dando sermão e eu apenas precisava dormir. Aparentemente foi o que eu fiz. Não sei quanto tempo se passou até que a própria Shay me acordou dizendo que o médico estava ali, levantei resmungando e ele nos disse que nossa mãe havia sofrido um acidente vascular cerebral, o derrame. Fui pega de surpresa com essa notícia, quem não ficaria. O médico explicou os cuidados que ela iria precisar e por tal motivo Shay e eu brigamos. Claro que sabíamos que ela não poderia ficar sozinha em casa, eu dei logo a idéia do asilo e Shay recusou. Perguntei se ela tinha condições de cuidar da nossa mãe em casa e a mulher me olhou com os olhos ressentidos. No final eu ganhei dizendo que havia asilos que poderiam cuidar dela enquanto minha irmã não a pudesse levar pra casa. Minha mãe saiu do hospital direto para o asilo, seu novo lar.
- Freen? – Becky estalou os dedos em frente ao meu rosto. – Meu Deus, onde você estava?
- Só estava lembrando de algumas coisas. – falei balançando a cabeça pra dispersar as lembranças.
- Bom, tudo bem. Vou deixar vocês conversarem. – Becky anunciou e eu a questionei com o olhar. Ela se aproximou e pousou sua mão em minha nuca me puxando pra mais perto dela pra poder sussurrar bem próxima a minha orelha. – Escute sua irmã, por favor. – ela pediu e eu assenti. – Vou dar uma olhada nas crianças.
- Vocês voltaram? – Shay perguntou assim que Becky saiu e eu ainda olhava por onde ela passou.
- Ainda não, mas estou torcendo por isso. – falei e ouvi minha irmã dando uma leve risadinha.
- Lexa passou por uma cirurgia do coração? – perguntou e eu assenti.
- Ela fez um transplante. Foi muito difícil. Achei que não conseguiríamos um coração a tempo. E depois do transplante ainda tive medo de perde-la, mas deu tudo certo. – terminei de contar e Shay deixou poucas lágrimas caírem. – Você quer um café? – ela assentiu e mais uma vez voltei a lanchonete do hospital. Pedi um café e uma água e me sentei junto a Shay. Eu sabia que tinha algo que ela queria me falar, só estava esperando o momento certo. – O que te trouxe aqui, Shay? – perguntei com cautela.
- Vim trazer a carta da mamãe. – ela me olhou e percebi as grandes olheiras em seus olhos.
- Ela pediu que você me entregasse? – perguntei e ela negou. – Então?
- Hoje de manhã quando fui buscar as coisas dela, achei a carta dentro de uma caixinha de joias, abrir e vi que era pra você. Sabia que deveria traze-la pra você. – bebericou o café e eu analise suas expressões.
- Onde está a mamãe, Shay? – perguntei engolindo em seco.
- Mamãe teve outro derrame a dois dias, mas dessa vez não ficou bem. Ela faleceu. O cérebro inchou e ela teve morte cerebral ontem de manhã. Eu te liguei umas dez vezes e você não atendia. Eu autorizei a doação dos órgãos. Mamãe queria ser cremada e que suas cinzas fossem jogadas no mar por pessoas que a amam. – disse tudo de uma vez, meu cérebro ainda tentava analisar o fato de que a mulher que me deu a luz estava morta.
- Ela morreu? – perguntei entendendo a situação e percebi as lágrimas começarem a escapar.
- Sim, infelizmente sim. – disse com sussurros e com o rosto banhado de lágrimas.
Eu estava paralisada. Minha irmã se levantou e veio até mim me abraçar, eu a apertei em meus braços e me permitir chorar como uma criança que precisava de colo.
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Triste 💔
Boa noite amores
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My Mistakes - Freenbecky
RomansaUm casamento que durou poucos anos, uma separação de quatorze anos. Não existe mais sentimentos? O problema é quando o passado insisti em voltar. Com a doença da única filha os caminhos se cruzam mais uma vez. E se tais caminhos quiserem se entrelaç...