35 - A terceira esposa

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— Muitos anos depois de Taha Aki desistir do lobo-espírito, quando estava velho, surgiram problemas no norte, com os makahs. – Começou o velho Quil. — Várias jovens daquela tribo tinham desaparecido e eles culpavam os lobos vizinhos, os quais temiam e em quem não confiavam.

"Os homens-lobo ainda podiam ler os pensamentos uns dos outros enquanto estavam na forma de lobo, assim como seus ancestrais faziam quando estavam na forma de espírito. Eles sabiam que ninguém de seu grupo era culpado. Taha Aki tentou pacificar o chefe makah, mas havia medo demais. Taha Aki não queria ter uma guerra nas mãos. Não era mais um guerreiro para liderar seu povo. Ele encarregou o filho-lobo mais velho, Taha Wi, de descobrir o verdadeiro culpado antes que começassem as hostilidades.

   "Taha Wi levou outros cinco lobos de seu grupo em uma busca pelas montanhas, à procura de qualquer prova das makahs desaparecidas. Deram na floresta com algo que nunca tinham visto antes, um cheiro doce e estranho, que ardia no nariz a ponto de doer."

   Então era assim para os lobos quando minha família estava por perto, lhes ardia o cheiro até demais.

  — Eles não sabiam que criatura deixaria um cheiro daqueles, mas a seguiram, eles encontraram traços fracos de cheiro humano e sangue humano no rastro.
Tinham certeza de que era o inimigo que procuravam.

   "A jornada os levou tão para o norte que Taha Wi mandou metade da alcateia, os mais novos, de volta ao porto para contar a Taha Aki. Taha Wi e seus dois irmãos não voltaram.

   "Os irmãos mais novos procuraram pelos mais velhos, mas só encontraram silêncio. Taha Aki pranteou seus filhos. Queria se vingar da morte dos filhos, mas era velho. Foi ao chefe makah com seus trajes de luto e lhe contou tudo o que acontecera. O chefe makah acreditou em seu pesar e as tensões entre as tribos terminaram.

   "Um ano depois, duas donzelas makahs desapareceram de suas casas na mesma noite. Os makahs chamaram os quileutes de imediato, que encontraram o mesmo fedor adocicado em toda a aldeia makah. Os lobos partiram à caça novamente."

   Me encolhi ao lado de Paul sabendo exatamente o que tinha acontecido. Meu namorado passou os braços em torno de meu corpo e me abraçou apoiando o queixo no topo da minha cabeça.

   — Só um deles voltou. Era Yaha Uta, o filho mais velho da terceira esposa de Taha Aki e o mais novo do grupo. Trouxe uma coisa que nunca fora vista em todos os dias dos quileutes, um cadáver estranho, frio e duro como pedra, que ele carregava aos pedaços. Todos que eram do sangue de Taha Aki, mesmo aqueles que nunca haviam sido lobos, puderam sentir o cheiro penetrante da criatura morta. Aquele era o inimigo dos makahs. – O velho Quil continuava a contar.

   Estremeci levemente e Paul me apertou em seus braços.

   — Yaha Uta descreveu o que aconteceu, ele e os irmãos encontraram a criatura, que parecia um homem mas era duro como granito, com as duas filhas makahs.
Uma menina já estava morta, branca e exangue no chão. A outra estava nos braços da criatura, que tinha a boca em seu pescoço. Ela podia estar viva quando eles chegaram à cena horrenda, mas a criatura rapidamente rompeu seu pescoço e atirou o corpo sem vida ao chão quando eles se aproximaram. Seus lábios brancos estavam cobertos do sangue da menina e os olhos cintilavam vermelhos.

   "Yaha Uta descreveu a força brutal e a velocidade da criatura. Um dos irmãos logo se tornou vítima quando subestimou o poder da criatura, que o dilacerou como se fosse um boneco. Yaha Uta e o outro irmão foram mais cautelosos. Trabalharam juntos, abordando a criatura pelos flancos, manobrando melhor. "

   Meu cérebro praticamente se desligou enquanto o velho Quil dizia que os irmãos tentaram matar a criatura, mas que a criatura havia conseguido matar o irmão de Yaha Uta. Novamente, uma lágrima me escapou.

𝐋𝐮𝐚 𝐂𝐡𝐞𝐢𝐚 | 𝐏𝐚𝐮𝐥 𝐋𝐚𝐡𝐨𝐭𝐞 ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora