Flashback on
Sete anos atrás...
Eu escancarei as portas de vidro com uma urgência quase desesperada, sentindo a lufada gelada do vento noturno atacar minha pele exposta, que arrepiava instantaneamente sob o toque do ar frio. Meu vestido vermelho rodado, tão vibrante e contrastante contra a escuridão lá fora, ondulava em torno de minhas pernas.
Eu sabia que deveria permanecer dentro de casa com todos os outros, cercada pela segurança das paredes familiares. Mas os adultos falavam sobre assuntos enfadonhos, suas vozes graves e monótonas enchendo o ambiente com uma opressiva sensação de tédio. Ivan já havia partido com seu pai, sem sequer me ajudar a abrir os presentes. A decepção apertava meu peito, e a solidão se agigantava, impelindo-me para fora.
Os sons da noite eram intensificados pelo silêncio da casa agora atrás de mim. Cada folha sussurrante e cada grilo cantando pareciam conspirar em uma sinfonia de liberdade. A escuridão lá fora não me assustava, mas sim me atraía, prometendo um escape do mundo chato e previsível dos adultos. A sensação do frio, a textura do vestido rodando ao meu redor e o desejo ardente de aventura pulsavam juntos, tornando aquele momento inesquecivelmente vívido.
Piso sem pressa alguma sobre a grama úmida e escorregadia enquanto adentro o extenso jardim de tulipas. As flores, mal iluminadas pela tênue luz da lua, parecem sombras fantasmagóricas, balançando suavemente ao ritmo do vento. O brilho prateado da lua é o único guia que me permite distinguir as formas no escuro.
Espero que mamãe venha me procurar, como sempre faz quando me escondo aqui. Ela sempre parece saber onde estou, como se tivesse um sexto sentido, mas hoje o silêncio é mais profundo, e o ar noturno carrega um suspense desconhecido.
Nossa casa, cercada por elegantes grades pretas, parece um castelo misterioso. As grades altas e intricadas oferecem uma visão perfeita da rua, onde os carros dos convidados estão estacionados. Os faróis ainda acesos em alguns deles iluminam a calçada com uma luz suave e intermitente. Quando chego ao final do jardim, agarro as grades frias e metálicas, pressionando meu rosto entre elas para espiar melhor.
Vejo uma van estranha estacionada perto dos outros carros. Não me lembro de tê-la visto antes, mesmo quando observei cada convidado chegar com curiosidade. Algo na van parece deslocado, fora do lugar, como um intruso em nossa festa. Meus olhos se estreitam enquanto tento decifrar sua presença, uma sensação de inquietude crescendo em meu peito.
― Lana! ― Ouvi a voz de mamãe. Olhei para nossa casa, não vendo-a em lugar nenhum, então corro entre as flores, me ajoelhando ali, esperando que ela venha ao meu encontro. ― Lana! ― Chamou mais uma vez.
Olhei para cima, vendo a luz da janela do meu quarto se acender. Talvez ela estivesse lá em cima.
Escuto um barulho estrondoso antes de algo parecido com um motor. Levanto-me entre as flores, olhando para a rua, vendo os carros que estavam em frente à nossa casa começarem a ir embora.
O Natal está acabando?
Ouço meu pai chamar meu nome, sua voz cortando o silêncio da noite como um grito de socorro. Viro-me para olhar para nossa casa e, em um instante, meu coração se despedaça. Meus olhos se arregalam e meus lábios se abrem, tremendo de puro pavor, enquanto a coloração alaranjada invade minha visão. É a cor das chamas brutais que devoram o primeiro andar da nossa casa, crescendo e se espalhando com uma velocidade aterradora.
Dou dois passos para trás, meu corpo tremendo de medo. Tropeço e caio na grama fria e úmida, mas não consigo desviar os olhos do inferno em que nossa casa se transformou.
Os gritos desesperados dos convidados se misturam ao barulho do incêndio. Correm em todas as direções, como formigas desorientadas, suas vozes cheias de pânico e medo. Ouço meus pais me chamando, suas vozes desesperadas me procurando, mas não consigo vê-los através da cortina de fogo e fumaça.
Meu corpo está paralisado, meus olhos fixos na visão aterrorizante da nossa casa em chamas. Cada segundo parece uma eternidade, meu coração batendo descompassado. Estou sozinha, perdida no caos, com o som do desespero e da destruição ecoando ao meu redor.
― Ela está aqui, Heitor! ― Alguém gritou para meu pai, a voz vibrando com uma urgência desesperada. Virei-me imediatamente e vi tia Eleonor, seu rosto uma máscara de pavor.
Ela carregava uma mala preta, mas a jogou de lado quando correu até mim, levantando-me do chão com um movimento rápido e me apertando contra seu peito. Pude ver, com uma clareza dolorosa, as lágrimas começando a se formar em seus olhos enquanto ela olhava fixamente para o incêndio, como se esperasse um milagre.
Sentia algo diferente, algo revirava meu estômago e apertava meu coração com uma força brutal. Era um medo novo, profundo, que eu não conseguia entender completamente. Engolia em seco esse sentimento estranho, cada vez mais forte, toda vez que meus olhos encaravam aquelas chamas dançantes e ferozes. Cada centelha era um golpe no meu peito, cada crepitar das chamas um grito mudo de desespero.
Esperava, com cada fibra do meu ser, que meus pais saíssem lá de dentro. A esperança e o medo lutavam dentro de mim, cada segundo arrastando-se em uma agonia interminável. As chamas continuavam a crescer, um monstro insaciável, e eu me sentia cada vez mais pequena e impotente, apertada nos braços trêmulos de tia Eleonor, esperando por um sinal de que tudo ficaria bem.
Mas eles não saíram.
O som era ensurdecedor: estalos altos e contínuos de madeira cedendo, vidros estourando com estrondos agudos e o rugido incessante do fogo devorador. A fumaça preta e densa subia em espirais, obscurecendo o céu, enchendo o ar com um cheiro acre que ardia em meus olhos.
Cada momento parecia se arrastar, eternizando a visão daquele inferno em minha mente. A casa, que antes era um lugar de segurança e alegria, agora se transformava em cinzas diante de meus olhos, deixando uma marca indelével em meu jovem coração.
Flashback off
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Se vocês repararem alguns erros de digitação ou alguma palavra que não faz muito sentido, por favor, ignorem. Eu normalmente escrevo os capítulos de madrugada e, de madrugada, minha cabeça não faz muito sentido. Mas estou sempre voltando aos capítulos para corrigir o que acho.
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"Querido Diário" de Lana Berger
عاطفية🥀 Dark Romance 𝕷𝖎𝖛𝖗𝖔 l Lana Berger é uma adolescente de 17 anos que depende de medicamentos controlados devido ao seu transtorno de personalidade antissocial, o qual influencia sua intensa obsessão por um colega de classe desde o sétimo...