CAPÍTULO 4

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-A aguns anos eu vivia com meus pais no interior da cidade... Eu era nova, mas me lembro de muitas coisas. Fomos uma família alegre e normal, como qualquer outra, talvez até mais feliz. Íamos ao cinema, faziamos piquenique, andávamos de bicicleta... Mas depois de um tempo, quando eu era da quarta série, minha mãe começou a se distanciar.

Parei um pouco antes de continuar. Talvez procurando as palavras certas. Minha boca estava seca.

Jefferson parecia tão agoniado quanto eu e muito interessado também. Desviei os olhos dele para a mesa e continuei:

-Ela começou a sair cedo demais e a chegar tarde demais e, apesar de estar sofrendo, meu pai se obrigava a ficar calmo e sempre me dizia que ela só estava indo se encontrar com algumas amigas, mas eu já era crescida o bastante para entender que tudo aquilo era mentira. Eu só não entendia o quão doente minha mãe podia ser a ponto de engravidar e, um ano após ter o filho, que é o meu irmão de quatro anos, simplesmente desaparecer.

Parei novamente com as lembranças que vinham como fleches.

-Antes de ir, isso deve ter durado uns quatro anos. -Sorri, tentando não me deixar levar pela emoção -Imagine um homem se virar sozinho com casa emprego e uma filha por quatro anos, enquanto sua mulher ficava...

Parei novamente. Tudo era mais difícil do que parecia. Tentei não olhar para o meu professor, ou então a coragem ia se desvair.

-Então ela sumiu por três anos. Durante esse tempo, presenciei meu pai sofrendo para criar dois filhos sozinho. Ele dobrava seu horário no trabalho e quase não dormia, mas ainda assim tinha tempo para nós... Ele nos deixava com a vizinha e sempre que chegava em casa, nos trazia balas de morango e limão. -Sorri apesar de estar com os olhos marejados e Jefferson também sorriu, mas foi um riso forçado -Ele é incrível em comparação a minha mãe, você ficaria impressionado. Só agora ela veio atrás para cumprir seu papel... Eu nunca entendi e parei de tentar entender quando fiz quatorze anos. Era perda de tempo então...

Parei de falar quando Bob chegou e colocou dois pratos de sopa na mesa, acompanhados de suco. Limpei meus olhos, antes que ele percebesse.
Se percebeu, não demonstrou. Apenas sorriu e se afastou da mesa.

-A algum tempo eu costumava fazer coisas que hoje eu me envergonho... É como se eu fosse outra pessoa. E as coisas que eu costumava fazer, acho que era por causa dela, não sei. Bom, ela estragou a vida de todo mundo!

Sorri, me ajeitando em meu lugar.

Fechei a boca e levantei o olhar para o meu professor. Ele estava com os cotovelos em cima da mesa e com o queixo apoiado nas mãos. Parecia ainda processar o que eu tinha contado. Talvez ele não tivesse esperado eu contar isso. É claro que ele não esperou... Fiquei sem graça pelo silêncio e comecei a tomar minha sopa.

-Eu sinto muito. -A voz delicada de Jefferson me fez parar a colher com sopa no caminho para a minha boca e volta-la para o prato. -Quando sua mãe voltou... Ela tentou concertar as coisas?

Balancei a cabeça negativamente.

-Soraya estava casada, e quando quis concertar as coisas era com os filhos. Meu pai e ela, apesar de se falarem, são dois desconhecidos.

Ele assentiu e vi sua mandíbula contrair. Ele estava com raiva?

-Porque... Não se encontra com ela? -Deixei a boca abrir em um O. Ele tinha mesmo dito aquilo? -Eu sei que ela te magoou, mas já tentou ouvi-la?

-Ouvir oque, Jefferson? -Minha voz saiu um pouco alta e corei por isso. Eu tinha de me lembrar que ele não tinha culpa de nada. -Desculpe... Sr. Professor.

Sr. ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora