Era pra ser

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Abri meus olhos, quando a claridade do dia invadia o celeiro, iluminando todos os móveis antigos expostos ali. Na tentativa de me mexer, senti um peso em cima do meu corpo, era Camila, que dormia tranquilamente.

Havia um lençol em cima de nossos corpos, os cobrindo, após uma longa noite. Sorri enquanto cada detalhe da noite anterior retornava a minha mente. Camila começou a se mexer, denunciando que estava despertando. Seus olhos abriram lentamente, tentando raciocinar onde estava.

Ela levantou, sem dizer uma só palavra. Procurava suas roupas com pressa, às vestindo conforme achava as peças.

- Bom dia pra você também. - disse, me sentando no sofá, ainda coberta pelo lençol, mas o que recebi foi um olhar de raiva.

Sabia que Camila não estava com raiva de mim, e sim dela, por ter cedido a mim e dormido comigo.

- Diana logo vai chegar, se troca. - ela jogou minhas roupas em mim, logo dando as costas para mim e ajeitando suas coisas.

Me vesti, e não demorou para que a porta do celeiro fosse destrancada pela minha tia, que quando entrou, tinha um sorriso esboçado em seu rosto, orgulhosa por ter conseguido aplicar um castigo em nós duas.

- Bom dia meninas. O café está na mesa, eu irei à cidade agora, mas logo volto.

Assentimos com a cabeça e saímos em silêncio, até chegarmos em casa. O cheiro de café fresco preenchia a cozinha toda, deixando o ambiente aconchegante. Nós sentamos em nossos lugares habituais.

Aquilo já começava a me incomodar. Ela estava me ignorando, evitando tudo quanto é tipo de contato visual, mesmo que eu ficasse encarando o tempo todo, Camila não cedia.

- Tenho que ir. - ela se levantou rapidamente, encarando apenas a sua xícara, a qual levou para a pia e saiu da casa, indo trabalhar.

Fiquei sozinha por um tempo. Um ponto de raiva crescia dentro de mim, e eu precisava enfrentá-la. Troquei de roupa rapidamente e corri em direção ao estábulo.

Camila organizava as celas, deixando o lugar impecável. Seus cabelos já estavam presos em um rabo de cavalo alto, coberto por um boné antigo azul escuro que pertencia ao seu pai. Me aproximei com calma, me certificando que ela pudesse me notar ali.

- Não preciso da sua ajuda hoje. - ela disse, enquanto polia algo.

- Vai ser assim então?

- O que?

Segurei a sua mão, fazendo-a largar o pano que segurava, e me olhar, surpresa e incrédula por ter a tocado assim, sem nenhum aviso prévio.

- Vai ficar guardando o que aconteceu ontem contra mim? - perguntei, sem quebrar o contato visual.

- O que aconteceu ontem foi algo que não deveria ter acontecido. Não vai se repetir. - ela tentou me encara enquanto dizia aquilo, mas falhou, desviando o olhar para o chão. - agora me deixa trabalhar.

- Tá. - respondi, soltando-a, e me afastando um pouco.

Eu ia embora, já estava quase na porta, mas eu sabia que não podia deixar ela pensar que aquela noite tinha sido um erro, porque não foi.

Olhei para trás, ela voltará a polir o couro, com rapidez e força. Dei passos rápidos, alcançando seu rosto, o virando para mim e juntando seus lábios com os meus, em um beijo astucioso.

Minhas mãos envolviam o seu rosto, indo levemente para sua nuca, a puxando para mais perto. Não demorou para ela ceder, soltando o pano novamente, dessa vez, fazendo cair no chão. Ela me abraçou, entrelaçando minha cintura com a sua mão, fazendo nossos corpos se colarem.

Aquela era a resposta. Ver Camila arrepiada quando descia os beijos para seu pescoço e ouvir seus suspiros, era a resposta de que aquela noite havia significado muito para ela e mudado a nossa relação de uma vez por todas. Mas eu queria ouvi-la dizer, queria ouvir ela voltar atrás de suas palavras e falar que aquilo devia acontecer, a há muito tempo.

- Não devia ter acontecido? - perguntei quando nos separamos, completamente ofegantes, tentando recuperar o ar que guardamos por muitos segundos.

Ela estava perdida, tentava assimilar o que tinha acontecido.

- Eu... Você... - ela tentava formular uma frase, mas falhava.

- É, foi o que eu pensei. - disse, saindo do estábulo.

No caminho de volta para a casa, não pude evitar que um sorriso largo surgisse em meus lábios. Eu havia deixado Camila Cabello sem palavras e completamente louca por mim. 



Cheiro de MatoOnde histórias criam vida. Descubra agora