Os olhos de Camila brilhavam, o suficiente para chamarem mais a minha atenção do que as estrelas no céu. Estava deslumbrada com ela, não conseguia deixar de apreciá-la. Tentei me aproximar mais, lentamente, para não assustá-la.
Deixei meu joelho encostar no dela, me certificando de que ela havia respondido ao toque, mas não se moveu, apenas olhou de canto para mim, que ainda a encarava, encantada com sua feição.
Eu a desejava, me lembrava de como seu corpo respondia ao meu. Como sua boca era doce, como o seu cabelo era macio, e de como ela se entregava completamente após um beijo meu.
- Acho que... - ela se virou para mim, finalmente me dando uma chance e beijá-la.
Juntando nossos lábios rapidamente e levando minha mão para sua nuca, a puxando para perto. No começo, era possível notar que Camila ainda se mantinha firme, talvez surpresa pelo meu ato, mas quando senti sua mão subindo pelas minhas costas, não pude deixar de sorrir, me divertindo com aquilo. Saber o efeito que tinha sob Camila era algo realmente satisfatório.
Mas, minha diversão durou pouco, pois ela se afastou, ofegante e lutando para recuperar o ar rapidamente.
- Acho que devemos voltar. Já está tarde, e a sua tia vai notar que saímos. - ela disse, se ajeitando e começando a recolher as coisas.
- O que? - perguntei, ainda sentada, sem entender nada.
- Levanta logo.
Me levantei, arrumando as coisas, e descendo da caçamba da camionete. Logo seguindo para casa.
Ficamos em silêncio o caminho todo. Camila não olhava para mim, mantendo seus olhos fixos no caminho, evitando qualquer tipo de conversa.
Quando estacionei o carro, ela foi a primeira a descer com pressa, mas antes que a porta fosse aberta, segurei o seu braço, fazendo-a olhar para mim surpresa.
- O que foi? - perguntei, olhando bem em seus olhos.
- Nada.
- Não vem com essa. Me fala o que foi? Porque você me beija e depois age como se tivesse cometido um pecado.
- Por quê é um pecado. - ela respondeu, me supreendendo. - você me deixa louca sabia? - Não respondi, apenas ouvi. - desde daquele dia, aquele maldito beijo. Eu...não posso. Se alguém descobrir, eu estou ferrada.
- Camila em pleno século vinte e um acha mesmo que isso importa.
- Talvez em São Paulo não, mas aqui sim! As pessoas comentam. Acha que ninguém sabe que você tem uma blusa de maconha? - ela se fez óbvia.
- Como....
- Está vendo. Em uma cidade como essa, tudo se espalha muito rápido. - suas sobrancelhas estavam franzidas mostrando sua verdadeira preocupação. - agora me solte. Quero ir dormir.
Eu o fiz, em silêncio, a deixando abrir a porta, e seguindo para dentro da casa. Rapidamente ela subiu para o seu quarto, e eu sabia que havia trancado a porta, impossibilitando que eu entrasse. Não tentei entrar, pois nós duas precisávamos de um tempo para pensar.
Na manhã seguinte, acordei mais cedo que o habitual, deixando o meu quarto e vendo que a porta de Camila estava fechada. Pensei que talvez ela já tivesse descido e talvez até já estivesse no estábulo.
- Bom dia. - ela sorriu, gentilmente, assim que eu entrei na cozinha, me arrastando até a mesa.
- Bom dia. - respondi, sem muita animação. Ainda era muito cedo para qualquer reação.
Me servi uma xícara de café generosa e me sentei no meu lugar habitual.
- Camila já desceu? - perguntei, erguendo o olhar para Diana.
- Não. Mas é sempre assim, quando ela recebe uma carta, dorme até mais tarde. - ela deu de ombros, indicando que já era uma situação frequente.
- Entendi.
- Bom, eu preciso sair. - ela se levantou da mesa. - tenho que encontrar o Sérgio.
- Devia chamar ele pra sair. - disse, fazendo-a me olhar incrédula. - ele gosta de você.
- Gosta nada! Eu e o Sérgio?! Há! Essa é boa. Bom, eu vou indo. Tchau.
- Tchau.
Fiquei sozinha na cozinha, aproveitando o silêncio que aquela manhã me proporcionava. Logo quando terminei de comer, limpei tudo e fui me trocar. Colocando uma roupa confortável para começar a minha atividade diária, mas, quando ia deixando a casa, me lembrei que precisava que Camila tirasse os cavalos do estábulo e os levasse para o pasto. Mas aquilo não seria possível, pois Cabello estava dormindo, e não tinha esperança de que ela deixasse o quarto antes do meio-dia.
- Saco. - reclamei para mim mesma, enquanto subia as escadas, logo ficando de cara para a porta do quarto de Camila.
Pensei, várias vezes antes de bater, sabia que ela não queria conversar comigo. Mas eu precisava dela, não sabia como soltar os cavalos. Respirei fundo, esticando minha mão fechada até a porta, mas antes que pudesse bater, ela se abriu, e Camila apareceu, usando uma camiseta preta de blusa comprida, e uma calça jeans azul escuro.
- O que você está fazendo? - ela me olhou com julgamento.
- Ah....Nada. Só queria.... preciso da sua ajuda para soltar os cavalos.
- Claro, eu já vou lá. Só... - ela apontou para o corredor, querendo sair, mas eu segurei o seu braço parando-a por um breve momento.
- Olha, não quero que fique um clima ruim entre a gente. Eu sei que você...
- Devíamos manter distância. - a olhei confusa. - é a melhor coisa. Vamos ser profissionais. Agora, com licença, eu vou soltar os cavalos pra você.
Ela passou por mim, me deixando plantada no corredor. O que havia acontecido? Ela estava me dando um fora? Me deixando de lado só pela opinião alheia? Mas que desgraça de garota.

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Cheiro de Mato
FanfictionApós falhar miseravelmente na faculdade e se perder no mundo, Lauren é mandada para morar com sua tia, no interior de São Paulo. Se sentindo forçada a fazer aquilo e completamente desanimada, Jauregui pensa que aquela seria a pior experiência de su...