Minha tia entrou no quarto, me vendo na cama, onde eu fingi ler um livro.
- Lendo? - ela cruzou os braços e se encostou no batente da porta, enquanto me examinava detalhadamente, tentando ler a minha mente.
- Sim. Por que tão surpresa?
- Só nunca pensei que você fosse o tipo de pessoa que lesse, muito menos clássicos.
- Eu amo clássicos, tipo, é só o que eu leio. - respondi.
- Sério? E até esse livro? - ela inclinou a cabeça, me testando.
- Sim. Na verdade, estou lendo isso daqui desde que voltei do passeio. - tentei fingir tranquilidade.
- Então depois me conta o final, sempre quis chegar no final da bíblia. - ela finalizou, deixando o quarto.
Encarei o livro que segurava, notando que realmente se tratava do livro da igreja. Me afundei no coberto, com vontade de me esconder em um buraco.
Deixei o quarto depois de um tempo, indo até a cozinha, onde o telefone tocava. O tirei do gancho, atendendo a ligação.
- Alô?
- Lauren? - reconhecia a voz de imediato, o que me fez parar por alguns segundos.
- Mãe. - era uma afirmação, não uma pergunta, muito menos uma saudação.
- Oi Lauren. Estava querendo falar com você já faz tempo. Te mandei mensagens mas acho que você não viu.
- O sinal daqui é ruim mesmo. - respondi, não era uma desculpa inventada, mas soou como uma.
- Fiquei preocupada. Sua tia me contou o que aconteceu. - ela vacilou no tom da voz, fazendo-o parecer como pena.
Respirei fundo. Por algum motivo não queria que a minha soubesse do que acontecia na minha vida. Não queria que ela sentisse pena de mim, que tivesse o trabalho dela ter que me ligar, então fiquei com raiva. Pois ela só me ligou quando algo trágico aconteceu.
- Não foi nada mãe, eu estou bem. - respondi, mostrando um pouco de impaciência na minha voz. Queria sair o mais rápido possível daquela ligação, antes que uma briga começasse.
- Eu sinto muito. Mas fico feliz que esteja bem. - houve um silêncio, longo e tenebroso. - Sua irmã ficou preocupada, disse que queria falar com você também, mas ela anda muito ocupada com a faculdade, você sabe.
- Sei. - respirei fundo.
- Talvez ela te ligue mais tarde.
- Ok.
- Sabe que te amamos né?
- Não vou começar essa conversa mãe.
- Mas é verdade. Te amamos, e queremos que você retorne logo.
- Eu sei, mãe. Agora você não tem que ir trabalhar? Tchau mãe. - desliguei o telefone, o colocando de volta no gancho.
Me distanciei o mais longe possível daquele telefone, indo para o lado de fora da casa, respirando um pouco, e sentindo a palavra retorno ecoar na minha cabeça. E de repente a raiva começou a tomar conta de mim.
- Desgraça. - disse para mim mesma, enquanto tentava fazer os pensamentos sobre o futuro deixarem a minha mente.
Segui para o curral, encontrando Camila, que varria o chão. Ela ergueu o olhar para mim, que entrava com passos alinhados.
- Oi. - ela sorriu, continuando a varrer. - tá tudo bem?
- Sim. Acho que sim. Odeio quando minha mãe liga. - respondi, tentando não parecer algo tão sério, enquanto me apoiava contra a porta de madeira da baía de um dos cavalos.
- Entendi. Ela te disse alguma coisa ruim?
- Não, mas sei lá, acho que ainda estou chateada com ela, por tudo, sabe?
- Por ela ter te mandado para cá? - Camila deixou a vassoura de lado e começou a se aproximar de mim, com um sorrisinho se formando em seus lábios. - acho que deveria agradecer ela por ter te mandado para cá.
- Ah é? Por quê? - entrei na brincadeira.
- Não sei, mas acho que tem haver com você está apaixonada por mim. - Camila se aproximou mais, me dando a oportunidade de puxá-la pela cintura, acabando com a distância de nossos corpos. Ela brincava com a gola da minha blusa, enquanto analisava meus olhos.
Era um sentimento que eu não podia explicar, como Camila me deixava, ela conseguia fazer a minha raiva desaparecer em segundos, e me distrair completamente de qualquer coisa.
- Acho que é você quem está apaixonada por mim. - respondi, a fazendo rir.
- Eu? Nunca!
- Então não está apaixonada por mim Camila Cabello?
- Não, nem um pouquinho. - ela negou com a cabeça.
- Então não vai ligar se eu fizer isso. - juntei nossas bocas em um beijo apaixonado, o qual ela contribui, se entregando em meus braços, e passando a puxar minha nuca para mais perto.
Podia sentir seus dedos em meu cabelo, os puxando levemente, desesperada por mais, enquanto sua língua explorava minha boca.
- Realmente não está apaixonada. - disse, parando o beijo por alguns segundos.
- É, nem um pouquinho. - ela respondeu, com a voz ofegante, voltando a me puxar para o beijo, dessa vez com mais intensidade.
Camila tentava colocar todo o seu peso sobre mim, fazendo uma grande pressão contra a porta da baia, que começou a se mover, e antes que pudesse reagir, senti meu corpo perder apoio e logo estávamos as duas no chão, tendo a queda amortecida pela quantidade de feno presente na baía.
Podia sentir o peso de Camila sobre mim, e também uma dor nas minhas costas. E então ela começou a rir, descontroladamente.
- Isso é culpa sua. - disse, tentando conter a risada.
- Ai meu deus. - ela tentava respirar, enquanto lágrimas começavam a sair de seus olhos. - minha barriga tá doendo de tanto rir.
- Não é engraçado, a gente podia ter se machucado feio. Tudo porque você está desesperada por mim.
- Aham, vai sonhando Jauregui. - ela se levantou, estendendo a mão para me ajudar, a qual aceitei. - agora eu tenho que voltar ao trabalho, depois a gente termina isso daqui.
- Sim senhora. Até de noite - Aproveitei para dar uma piscadinha para ela antes de deixar o estábulo.
E era a coisa mais obvia do mundo que eu tinha uma quedinha por Camila Cabello.
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Cheiro de Mato
FanfictionApós falhar miseravelmente na faculdade e se perder no mundo, Lauren é mandada para morar com sua tia, no interior de São Paulo. Se sentindo forçada a fazer aquilo e completamente desanimada, Jauregui pensa que aquela seria a pior experiência de su...