A garota para na minha frente, com seus cabelos escuros presos em um rabo de cavalo, deixando seu rosto livre, desci meus olhos pelo seu corpo, tentando entender se aquela mulher parada na minha frente era mesmo a menina irritante que brigava comigo em todas as férias que vinha para o interior. Ela usava um shorts jeans, e uma camiseta xadrez rosa, com três botões abertos, deixando à mostra um pequeno decote. Sua pele estava mais morena do que na última vez que nos vimos, mostrando que ela passara horas no sol, diferente de mim é claro, que parecia que não via a luz do sol a anos.
- Oi. - ela disse, me trazendo de volta de meus pensamentos. - sua tia mandou eu trazer algumas toalhas, caso deseje tomar banho.
- Ah... - demorei um pouco para formular qualquer coisa em minha mente. - ok. - tomei as toalhas das mãos dela. - obrigada.
- Diz pra Diana que eu não vou jantar aqui, mas volto cedo.
Apenas concordei com a cabeça. Imaginei do porque ela jantaria aqui sendo que tinha sua própria casa.
Ela foi embora, me deixando confusa e sozinha plantada no corredor. Fiquei um tempo raciocinando, como que aquela mulher que estava na minha frente poderia simplesmente ser aquela Camila chata que chorava por tudo e entregava cada passo meu para minha tia.
Depois de passar muito tempo assimilando as coisas, ouvi a voz distante da minha tia me chamando para jantar.
Deixei as toalhas no quarto e segui para a cozinha. Me sentei na mesa posta, com uma tigela de vegetais e panelas fumegantes que exalavam um ótimo aroma.
- Conseguiu se ajeitar? - ela sentou ao meu lado, com um sorriso, enquanto deixava uma última panela na mesa.
- Sim. - observei ela me servir, colocando o prato cheio na minha frente. - obrigada.
- De nada querida. - ela olhou para a escada, procurando algo. - Camila não vai jantar com a gente?
- Ela disse que era pra te avisar que ela não viria pro jantar, mas disse que vai voltar cedo.
- Então vocês já se encontram? - Havia algo parecido com esperança em seus olhos.
- Sim, no corredor. Por que ela vem jantar aqui?
- Bom, Camila mora comigo agora.
- O que?! - abaixei o garfo, quase engasgando com a comida. - morando aqui?
- Sim. Os pais dela se mudaram para o Mato Grosso, Alejandro recebeu uma proposta de trabalho e se mudaram.
- E ela ficou?
- Disse que não queria sair daqui. Ela está fazendo faculdade de veterinária, e tem participado de muitos rodeios aqui na cidade.
- Entendi, ela é a Agrogirl perfeita. - disse com ironia.
- Estive pensando que vocês duas poderiam trabalhar juntas. Camila trata e treina os cavalos, você poderia ajudar ela. - a encarei surpresa, completamente indignada e pronta para refutá-la. - porque você precisa fazer alguma coisa, não é mesmo?
- Tia, eu não acho que sou a melhor pessoa para fazer isso...
- Deixa de ser boba, você consegue. Pode começar amanhã cedo, vai ser bom pra você.
Aquele sorriso gentil já começava a se tornar um tipo de pesadelo para mim. Imaginar que teria de passar horas cuidando de cavalo e ficar perto da minha inimiga de infância era uma das piores coisas que poderia acontecer comigo em meus plenos 21 anos.
Após o jantar, minha tia foi para a sala, assistir sua novela, enquanto eu dei diversas desculpas para poder subir até o meu quarto e dormir um pouco.
Abri a janela, deixando a leve briza da noite adentrar no quarto, enquanto ouvia o barulho da natureza, respirando fundo, quando avistei um carro chegar e estacionar em frente a casa. Camila desceu do carro, com um chapéu na cabeça e coisas na mão e caminhou até a entrada da casa com seus sapatos em mãos.
- Que Deus me ajude a sobreviver enquanto eu estiver na companhia do capeta.
Trabalhar com Camila não seria nem um pouco fácil, era o que eu pensava.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Cheiro de Mato
Fiksi PenggemarApós falhar miseravelmente na faculdade e se perder no mundo, Lauren é mandada para morar com sua tia, no interior de São Paulo. Se sentindo forçada a fazer aquilo e completamente desanimada, Jauregui pensa que aquela seria a pior experiência de su...