25- old yellow bricks.

44 2 2
                                    

RAMOS.

Estacionei na pequena estradinha antes da ponte para fazer o meu turno ali, esperando por María.

Quase duvidei de meus olhos quando percebi que uma silhueta pequena está ali sentada, vestida em seu corta vento Nike com o mesmo rabo de cavalo que sempre usara. Ela provavelmente me escuta chegando, mas não faz questão de se virar, deixa que eu saia do carro e vá até lá lentamente, como quem se entrega ao precipício.

Mas quando paro ao seu lado, María não me dá tempo nem para um "boa tarde". Seu semblante mórbido me olha soslaio, soturno e impessoal. Os olhos escuros rodeados por maquiagem forte.

— Conversar em público não é bom. Temos que ir pra sua casa — foi tudo o que disse aos sussurros, antes de ficar de pé com certa pressa.

Ela bate a poeira da calça leggin e sai andando em direção ao meu carro, e eu não soube o que responder, sequer questionei.

Era muito confuso, mas sinceramente, foi absolutamente melhor do que em todos os sonhos que tive nos últimos dias com essa situação. Sem mais escolhas ou demora, eu a obedeço, nós dois caminhamos em uma sintonia silenciosa para o carro. Partimos juntos para a minha casa.

O caminho era estranho, talvez porque andar de carro com María antigamente sempre fora uma aventura divertida e barulhenta. Mas hoje, não mais.

Seu rosto? Endurecido, olheiras marrons abaixo dos olhos, um maxilar retraído e um rutilo prata na retina, que só se desviava da estrada à sua frente para olhar o retrovisor, mas nem mesmo piscava. Um nariz muito sutilmente franzido em um nojo secreto que ela resguardava em si, talvez de mim, ou talvez da situação em que estava. Seu corpo imóvel no banco quase não me deixava perceber sua respiração exageradamente sóbria e pacífica, ao ponto de nem ver seus ombros mexendo.

Eu franzo o cenho, mas continuo sem questionar.

Chegando lá, ela pede para que eu estacione e feche a porta da garagem, e não desce do veículo até que eu o faça. Quando finalmente as portas se trancam e estamos sozinhos ali, eu apoio as mãos no volante de couro com firmeza, criando um resquício vago de coragem para confrontar sua mudança.

— Do que você está fugindo? — pergunto, ouvindo minha voz alta demais dentro do carro de vidros fechados, estacionado na garagem silenciosa e de acústica extremamente eficiente. María me encara de sobrancelhas erguidas, de forma que sua testa fica franzida.

Hesita, desvia os olhos para o painel do carro e finalmente molha os lábios para falar. Sua fala é calma, diferente do que o seu corpo berra.

— Não vamos ter essa conversa na garagem — se esquiva descaradamente, mas o argumento é válido. Seus olhos caindo no painel do carro de forma distante.

Eu assinto. Destravo o cinto e saio do banco de couro para o lado de fora, me apressando em tomar a gentileza de abrir a porta dela. María sai do carro e nós caminhamos da garagem para dentro de casa. Ela, ainda sabendo todos os caminhos da minha antiga casa.

Chegamos até a sala de estar, e María procura ficar distante de mim como uma gata arisca, se mantém de pé e em alerta, vasculhando as janelas fechadas por cortinas escuras, apenas com pequenas frestas deixando a luz do sol passar.

Eu também permaneço de pé, atrás da poltrona do outro lado da sala, lhe dando ar para respirar e o espaço que quer e precisa. María passa uma das mão pela frente da boca, coçando o queixo e em seguida apoiando as mãos nos quadris, me encara com seriade, ponderando de forma profunda.

— Eu não quero demorar aqui, então... Fala de uma vez o que você tem pra dizer e eu digo o que preciso dizer também — pede, sua voz rígida e meio incisiva, mas que de forma muito sutil, ainda treme em dúvida. Seus olhos não ousam me encarar, focalizam o espaço vazio entre seus pés e o sofá. Ela está jogando um verde.

Camas, Sevilla - a Sergio Ramos story.Onde histórias criam vida. Descubra agora