28- malaguena salerosa.

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CAMAS, 2000.

POV: MARÍA.

O ano 2000 foi de longe um dos mais caóticos, tanto para mim, quanto para Sergio, que depois da queda de moto e da lesão, teve que começar uma longa e dolorosa recuperação, a qual sequer tinha garantias de sucesso. Mas ele, como o teimoso Sergio que todos conheciam, logo abandonou a frustração e tristeza e a substituiu por uma determinação irredutível em dar tudo de si nos exercícios.

Eu prometi, e fiquei com ele o máximo que pude. O buscava e trazia da escola lhe dando apoio para caminhar o durante o trajeto quando ele queria andar e dispensa a carona do pai. Ele teve de vencer o próprio ego para lidar com o fato de que o papel de buscar e trazer agora era meu. Com o passar dos dias, comecei a ficar para o almoço na casa dos Ramos e ficava todas as tardes que podia com ele.

O começo foi terrível. Sergio mal podia se manter de pé, e a mínima tentativa em esticar a perna era o suficiente para fazê-lo gritar. E na sua primeira sessão de fisioterapia, eu corri para fora da sala e chorei sozinha no corredor, não aguentei vê-lo chorar tanto e não queria que ele me visse chorar também.

Queria que ele soubesse que podia dividir sua franqueza e sua dor comigo porque eu era capaz de aguentá-la. Estar forte para aguentá-las junto com ele.

Isso se sucedeu por dias, semanas, meses. Foram meses o assistindo fazer os exercícios até chorar de dor, meses o vendo erguer o joelho o máximo que podia e deixá-lo cair, vencido pelo incômodo. A única coisa que me confortava era ver em suas retinas aquele brilho vivo de antes, um fogo inconformado que ardia entre as lágrimas repleto de força de vontade. E toda vez que eu o via entre suor e lágrimas, eu sabia que era questão de tempo. Apenas uma questão de tempo.

Ele estava completamente entregue à recuperação, e quatro meses depois já não chorava mais com o esforço. A dor se tornou suportável, e seu único obstáculo era que ainda não conseguia esticar o joelho por completo. Erguia apenas até certo ponto e nada mais, já faziam semanas sem visível evolução.

E agora, eu o assistia lutar com seus músculos na sala de casa. Com os pesos pendurados no tornozelo, Sergio enrijece o maxilar e encara seu joelho tão obstinado como se o desafiasse. Seus músculos estremecem mas ele luta para não deixá-la cair, de forma que toda a musculatura da perna se contrai firmemente.

Algum tempo passa, e posso ver uma única gota de suor brotar em sua têmpora e serpentear pela lateral do seu rosto. Ele resmunga algo entre os dentes cerrados. Tenta, luta para segurar o máximo que pode, mas é vencido pela gravidade. Sua perna caí, e a tensão dos músculos queima e se dissipa assim que seu calcanhar atinge o chão.

Ele solta o fôlego que prendia com desgosto, seguido de um estalo alto com a boca.

Pareço acordar do transe em que entrei. Pestanejo e descruzo as pernas me inclinando na poltrona.

— Você tá indo bem, uma hora vai conseguir — digo tentando reconfortá-lo — Porque não tenta sem os pesos? —

Sergio torce a boca e revira os olhos.

— Se eu conseguir com os pesos, então com certeza consigo sem eles — responde dando de ombros, passa a língua pela boca e aperta os lábios salgados de suor soltando outro estalo. Sergio agora usava aparelho nos dentes, e mechas descoloridas enfeitavam as pontas do seu cabelo rebelde.

Ele parecia um surfista, mas estava extremamente branco. Seu bronzeado aos poucos desapareceu, me fazendo lembrar de que ele se parecia com uma folha de papel quando ficava longe do sol.

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⏰ Última atualização: Sep 24 ⏰

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Camas, Sevilla - a Sergio Ramos story.Onde histórias criam vida. Descubra agora