10- boys don't cry.

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POV: RAMOS.

A pequena casa continuava a mesma porém com ares envelhecidos e mal cuidados.

O jardim gigante agora parecia um terreno baldio cheio de falhas no gramado e poças de lama e pneus empilhados num canto próximo à cerca. As poucas flores que resistiram tinham a aparência murcha, quase sem vida. Janelas trancadas, cortinas fechadas, a casa antes cheia de brilho agora parecia um lugar abandonado. Sentei-me sobre o capô do meu carro e decidi esperá-lo por mais meia hora. Faz anos que não nos víamos, e a última vez que falei com Rodríguez foi por telefone, no dia em que a mãe dele faleceu.

Eu o convidei para vir para Madrid e trabalhar com minha equipe. Com a perda do pai e agora da mãe, mais a lesão grave em seu joelho, eu sabia que as coisas ficariam difíceis para ele. Mas Rod recusou meu convite, e ainda fez piada.

"Nunca peguei um copo d'água pra você, e a essa altura do campeonato você quer que eu fique te assessorando? É ruim hein," ele disse com bom humor na ligação, tentando disfarçar a própria tristeza e choro embargado nas piadas e risadas. Me senti culpado por não estar ao lado dele naquele momento difícil, minha vontade era correr para Camas. "Somos amigos, você não tem que me oferecer nada. Mas, se eu hipoteticamente fosse pedir algo, eu pediria pra você me visitar, e trazer o Cristiano Ronaldo com você."

"Tudo bem, Rod," respondi.

E ali estava eu, em Camas, em frente à casa de Rodríguez esperando o mesmo aparecer. Não tinham vizinhos próximos para quem eu pudesse perguntar que horas ele costumava chegar, e eu com certeza não arriscaria bater na casa de qualquer um. Fito a residência de Rod por alguns instantes, e me lembro claramente que quando éramos crianças, aquela era conhecida por ser a casa mais bonita do bairro. Cheia de flores, árvores e uma pequena horta que fornecia vegetais pra praticamente a rua inteira. Ninguém saía da casa de Rod de mãos vazias. Era um tempo feliz.

Mas todo o brilho que dona Nina mantinha naquele jardim já não existia mais, e aquilo, querendo ou não, me causava um pouco de angústia. Todos os pilares da vida dele tinham ruído e eu não estava lá, essa é mais uma das culpas e ausências que carrego silenciosamente comigo. Eu poderia ter ajudado, ou pelo menos vindo até aqui, mas fui impedido pela UCL.

De repente, ouço uma voz rouca e meio debilitada ruir atrás de mim.

— Caraca, olha só quem tá aí.

Olho por cima dos ombros e constato que Rod continuava idêntico, mas agora tinha uma barba completa e uma barriga de cerveja um tanto protuberante na camisa da seleção espanhola. Ele trazia um fardo de latinhas de cerveja em uma das mãos e um pacote de doritos na outra, caminhava devagar e com um pouco de dificuldade. Eu me levanto do carro e vou até ele com um largo sorriso e uma animação que me revigora, a sensação boa de que o tempo entre nós jamais passou.

— Eu disse que vinha, não disse? — lhe dou um abraço vigoroso em Rod, deixando um beijo em seu rosto e dois tapinhas em suas costas. Ele retribuiu estapeando minhas costas e apertando meus ombros com mais força.

— Cara, eu tô feliz que você não virou um desumilde da porra — rimos juntos quando finalmente nos soltamos um do outro. Ele franze o cenho e esquadrinha os arredores de um jeito engraçado — Mas e aí? O Cristiano chega que horas? —

Eu dou uma risada sincera até demais e ele capta a minha ironia. Eu queria contar alguns fatos sobre todo o elenco do Real Madrid para Rod, apenas como um... Relato. Mas prefiro guardar essas coisas e manter pelo menos um pouco do profissionalismo. Mas nada me impede de rir.

— Eu não vou dizer nada, você sabe que ele é exatamente como se parece — comento dando de ombros e voltando a me encostar na lataria do Audi. Rod assente compreendendo o que quero dizer nas entrelinhas — Nós somos próximos, mas não íntimos —

Camas, Sevilla - a Sergio Ramos story.Onde histórias criam vida. Descubra agora