23- wish you were here.

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FLASHBACK, Ramos.
Camas, junho de 1999.

Era tarde, e eu continuava na cama pelo simples prazer de poder estar ali. As férias do meio do ano eram as melhores. Caiam bem no verão, quando Camas fica deserta e o sol parece cozinhar a Andaluzia inteira com mais vigor. Estou em algum ponto inerte entre o sono e a consciência, quando escuto algumas vozes vindo do corredor. Minha mãe conversa com alguém.

"A porta está aberta, pode acordá-lo para mim?"

"Claro" a voz responde, e eu imediatamente sei de quem se trata.

María gira a maçaneta da porta e entra no quarto apressada, fecha a porta trás de si com cuidado e sem ruídos. Provavelmente não notou que estou acordado. Quando se vira, tira a mochila das costas e deixa que escorregue até cair no chão, por fim, nota que eu a observo da cama com olhos preguiçosos.

— Sua mãe pediu pra acordar você, e nós temos que ir ao haras e depois vamos nadar — se apressa em dizer, sem sequer me direcionar um bom dia.

María fica parada na porta do quarto. Uma presilha contém seu cabelo e algumas mechas douradas em meio ao tom de castanho caem em seu rosto, agora bronzeado e rubro, a têmpora reluz suada e ela parece uma garota muito viva. Veste uma camiseta branca, aqueles shorts longos e um all star velho com as meias soquete na altura dos tornozelos. Por "temos", ela quer dizer que combinados de pular as cercas atrás do estábulo e invadir uma propriedade privada para acariciar cavalos, já que não há ninguém para nos impedir.

Observo María de cima à baixo ainda sentindo a lentidão do sono me abster, mas não deixo de notar que o verão de certa forma sempre faz muito bem à ela.

— Tá bom — é o que respondo quando enfim nossos olhos se encontram — Me espera lá em baixo, ¿sí? —

— Vale — assente e dá meia volta para sair do quarto, e me deixa sozinho novamente.

Me levanto da cama para pegar a mochila do chão. Abro o armário, pego uma camisa minha qualquer e guardo em sua mochila. Tomo um banho rápido, e quando pronto, desço as escadas com a mochila nas costas.

Encontro María sentada no parapeito da janela da minha sala, provavelmente conversou com a minha mãe pelo tempo que pôde antes que ela se ocupasse com qualquer outra coisa.

— Vamos? — digo, lhe dando mais uma olhada de cima à baixo.

— Você nem almoçou.

— Vamos comer o que você trouxe então — falo conformado, estou de férias, posso quebrar as regras um pouquinho. Vou até a porta e María logo me segue, desistindo de argumentar quando ao almoço.

Saímos de casa de fininho e cruzamos a rua, e logo em seguida o bairro, indo à pé até o haras.

A caminhada não dá nem para o começo, estamos suados mas bastante felizes. Demos a volta em torno da propriedade para pular o cercado de madeira que delimitava o campo, conferindo se não tinha realmente nenhum vigia por perto para nos barrar. Ela pula primeiro, e eu vou logo atrás. Andamos por um pequeno trajeto de descampado para chegar à parte de trás do estábulo do haras, onde há sombra e os poucos guardas idosos não costumam ir nunca.

Eu deixo que ela apoie os pés nas minhas mãos e pule a cerca interna primeiro. Ela o faz com a habilidade de uma verdadeira delinquente juvenil, passa uma perna e a outra, por fim repousa os dois pés no chão.

Eu me apoio sozinho, escalo a cerca sem dificuldade e faça o mesmo que ela, e logo estamos lá dentro, arrastando as portas velhas de correr escondidas nos fundos.

Camas, Sevilla - a Sergio Ramos story.Onde histórias criam vida. Descubra agora