Apparently, it was meant to be?!

seis

Saquarema

Rosamaria POV

A volta a Saquarema sempre me remete a momentos bons, mas pela primeira vez eu não estava muito contente em voltar. Não sei dizer se minha tristeza de estar de volta tinha a ver com o fato de eu saber que Carol agora não estaria mais comigo aqui e agora era definitivo, diferente do ano passado. Ou se essa apreensão era devido a minha relação com as meninas ter ficado meio estremecida nesse último ano. Só sei dizer que estou ansiosa com esse reencontro, e de vê como vai ser nossa relação. Também me preocupo de como isso pode afetar nossa dinâmica em quadra, e possivelmente minha vaga no time.

Como nem todas as meninas que seriam convocadas estavam liberadas de seus respectivos clubes, eu sabia que a única que eu pessoa que eu poderia ficar desconfortável seria a Gabizinha. A Macris nunca foi uma pessoa que eu fosse extremamente próxima, minha proximidade a ela se devia muito mais a Gattaz que adora a fada. As novinhas que irão se apresentar também não serão problema, afinal não tenho uma amizade fora do ambiente profissional com elas. Pelo menos esses encontros seriam gradativos e não tudo de uma vez, só espero estar preparada para conviver com elas sem que haja muita estranheza entre nós.

Apesar dessa apreensão o som de bolas batendo e tênis esfregando nas quadras é um som que faz parte do meu dia-a-dia e sempre me traz um pouco de paz e senso de normalidade, então com isso adentrei uma das quadras para começarmos nosso primeiro treino com bolas da temporada. Enquanto eu calçava meu tênis antes de pisar na quadra eu não percebi que tinha alguém se aproximando, e quando me dei por mim já estava gritando com uma mão no peito e outra dando um tapa no ombro de alguém.

"Caralho Gabriela! Isso lá é coisa que se faça!" Esbravejei quando controlei minha respiração após o susto da nossa capitã.

"Ai Rosinha! Eu só queria matar a saudade de estar com vocês e começar a temporada de seleção do jeitinho certo." Ela me diz rindo enquanto se senta ao meu lado e passa seus braços por cima do meus ombros. "Senti sua falta nessa temporada. Quase não nos falamos né? Ser adulto é foda! Mas que bom que já estamos juntas porque precisamos nos preparar que esse ano vamos ouvir nosso hino lá nas olimpiadas hein?!"

Eu olhei para ela e percebi ali que apesar de eu ter me sentido muito só durante essa temporada no Japão e em alguns momentos ter achado que todos haviam esquecido de mim, talvez esse não seja o caso. Todos temos nossos problemas e nossas vidas, e assim como Gabi e as outras não fizeram um esforço extra de manter contato, eu também não fiz. Como eu poderia ficar chateada ou exigir uma resposabilidade por nossa amizade sendo que eu também não fiz minha parte? Eu nunca mandei mensagem ou liguei para elas nos momentos de tristeza e melancolia então como eu poderia querer que elas soubessem que eu estava precisando de um ombro amigo?

Me despertei dos meus pensamentos quando Gabi já estava em pé na minha frente oferecendo suas mãos para me levantar do chão para irmos em direção ao Zé que nos esperava perto da rede.

"Eu senti sua falta Gabi, desculpa não ter feito minha parte para manter nossa relação essa temporada." Falei pra ela enquanto andavamos em direção ao centro da quadra.

"Também senti sua falta Rosa! Mas também não fiz minha parte, teve muitas situações com a Sheila e as meninas esse ano, tivemos que organizar muitas coisas então ficamos alheias as nossas amigas enquanto estavamos tentando lidar com tudo isso...Cê ficou sabendo da Liz né?" Parei nosso trajeto e a olhei sem entender.

"O que tem a filha da Sheila? Não to sabendo não."

"A Liz foi finalmente diagnosticada, então a Sheila, Breno, eu e o resto da familia passamos esse ano tentando assimilar e aprender a melhor forma de como ajuda-la.." Olhei para minha amiga e mais uma vez tive um pouco de vergonha de como eu estava receosa achando que nossa amizade não era a mesma porque quase não nos falamos, e percebi que apenas estamos em momentos diferentes da vida uma da outra.

"Sim vocês duas vão vim pro treino ou querem um cafézinho com essa fofoca?" Zé esbravejou olhando para nós duas que estávamos paradas mais uma vez. Olhei para Gabi e apenas apertei sua mão e disse:

"Conta comigo se precisar. Não é porque a gente não se fala constantemente que eu não quero teu bem ou que não estou pronta para te ajudar quando precisar ta bom?"

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Naquela noite enquanto eu estava deitada no minha cama de solteiro do quarto que eu iria dividir com a Roberta, que ainda não havia chegado da Polonia. Eu pensei na minha conversa com a Gabizinha e de todas as suposições que eu havia feito sobre minhas amizades da seleção e lembrei que a Carol estava passando por algo similar. Resolvi ligar pra ela.

"Oi Cá! Já estou com saudades de você!"

"Oi Maria! Também! Não vejo a hora da nossa viagem esse fim de semana! Apesar que minhas férias aqui no Rio também estão sendo incríveis!"

"Que bom que você tá se divertindo Cá. E Annie tá curtindo bastante? Vocês já tinham ido ao Rio antes né?"

"Sim mas ela ama o mar então ela está no paraíso particular dela"

"Que bom." Eu esperei uns segundos e logo emendei. "Eu tive uma conversa com a Gabizinha hoje que me abriu um pouco os olhos. Ela começou já comentando que estava feliz de me ver ali e reclamando da vida adulta e sobre não termos nos falado." Carol fez um barulho do fundo da garganta como se concordasse e me encorajando a continuar.

"Ai isso me fez refletir, que eu não fiz um esforço tanto quanto ela para manter contato nessa temporada, então como eu posso querer exigir que ela saiba que eu não estava bem e precisava de uma amiga de vez em quando?"

"Isso é verdade Rosa, ainda não tinha pensado dessa forma. É uma mão de via dupla.."

"Pois é, e isso me fez pensar em você, e acredito que isso pode ser algo pra você pensar também afinal suas relações ficaram estranhas depois da sua lesão devido ao seu afastamento dos treinamentos. Você se sente um pouco abandonada por elas, e eu concordo que você estava passando por uma situação muito ruim. Mas e elas? Tu sabe o que tava acontecendo na vida delas nesses momentos? Você entrou em contato? Porque se você disser que foi ignorada então muda tudo, mas se você só esperou que elas percebessem...Derrepente as pessoas estão tão absorvidas em suas próprias vidas que esquecem de olhar pro lado sabe." Eu falei e percebi que a Carol estava cada vez mais quieta, a única coisa que me garantia que ela ainda estava na linha era o barulho da TV que dava para ouvir na ligação. "Fala comigo Cá..o que você tá pensando?"

"Desculpa, é que eu comecei a pensar aqui e meio que me perdi..acho que você pode estar certa..Tipo a Pri tava passando pela mudança da Leia, e eu sei que ela viajava pra São Paulo sempre que podia pra ver ela. A Thaisa tava lidando com as lesões dela também e com as pressões do clube..A Sheila eu não sei, mas deve ter um motivo né?"

"A Sheila definitivamente tem um motivo, a Gabi comentou comigo...enfim eu não sei como talvez consertar essas amizades de vocês, se é que precisa ser consertada, mas pelo menos agora você tem outro ponto de vista e não precisa ficar carregando essa mágoa. Enquanto você não conversar e talvez expor esses sentimentos para elas, elas não tem como se desculpar ou tentar melhorar a relação de vocês.."

"Ai Maria, só você mesmo. Cê tá passando pelos teus problemas com tuas amizades e se preocupando com as minhas. Eu sou muito grata por ti, cê sabe né?"

"Lógico que eu sei Cá, porque eu também sou grata por ti. E eu vou me preocupar contigo mesmo que eu tenha meus problemas, não adianta reclamar." Falei e ela soltou um risinho no final da minha fala.

"Obrigada por ligar Rosa, e por me fazer pensar sobre tanta coisa esses dias. Acho que vou demitir minha terapeuta e te contratar" Ela fez uma piada para aliviar o clima como só ela era capaz.

"Nem sonha! Se com terapia tu já ta assim, imagina sem! Obrigada por me ouvir. A gente se fala outra hora." Falei rindo e desliguei o telefone.

Eu estava com um sorriso leve no rosto quando vi a hora e percebi que a Cris já deveria estar dormindo, afinal ela trabalha cedo no dia seguinte. Mandei uma mensagem lhe desejando boa noite e fui dormir pensando nas possibilidades de consertar as minhas relações e as da Carol também, porque eu não conseguiria ser feliz se ela estivesse sofrendo.