Epílogo

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Carol POV


Confiar no processo não é um sentimento glamuroso. É chato, solitário e aos poucos vai levando a gente à loucura. É frustrante passar tanto tempo de nossas vidas tendo pessoas nos ovacionando por apenas existir, que quando deixamos de receber aqueles aplausos é ensurdecedor e faz com que questionamos a nós mesmos. É frustrante saber que todo nosso trabalho árduo vai valer a pena, mas só vamos saber daquilo depois, e isso se não desistimos no meio do caminho. Ser atleta é muito mais complexo do que se imagina!

Tenho fé que minha trajetória não foi à toa, e confio que eu possa ter feito a diferença no nosso esporte. Apesar dos momentos de dificuldade, eu só posso agradecer ao vôlei. Esse esporte me ensinou muito e me proporcionou experiências únicas. Me trouxe amizades e me fez conhecer o que é a excelência no trabalho através de vários profissionais com quem trabalhei ao longo dos anos. Além disso, esse esporte me deu a chance de conhecer o amor. Foram vários tipos de amores, mas três deles vão seguir comigo mesmo depois da minha aposentadoria. Também gostaria de deixar meu mais profundo sentimento de gratidão aos fãs e todos que curtiram meu trabalho ao longo da minha carreira. Obrigada a todos que me acompanharam, que me encorajaram nos momentos difíceis, que foram ver um jogo, ou que quando me encontraram no mercado me parabenizaram por uma china. Agora eu sigo a minha trajetória de muita mamadeira e fraldas sujas por algum tempo.

Eu termino meu post de despedida das quadras e publico no meu instagram e olho para Rosamaria que tinha nosso dois bebês consigo. Um em cada seio mamando. Era a minha cena favorita de presenciar e eu senti muita falta de estar com eles nesses últimos dias que eu estava em Recife para a final da superliga. Ela deve ter sentido o meu olhar pois ela levanta sua cabeça e desvia o seu olhar dos nossos filhos para o meu, e então sorri para mim.

"Postou?" Ela me pergunta.

"Postei. Agora sou apenas expectadora e a maior fã da Rosamaria Montibeller da seleção brasileira." Eu respondo e vejo ela começar a se balançar com o riso, e os meus filhos cheios de vontade como eram, começam a reclamar da interrupção da sua refeição. Ela então para de rir e volta a ajustá-los em seus seios.

"E como tu tá? Com isso tudo?" Ela me pergunta voltando ao assunto da aposentadoria.

"No momento eu tô bem, acho que ainda não caiu a ficha e parece que só estou de férias. É capaz de eu só sentir alguma coisa quando ocê começar a ir no Minas pra treinar e eu não ter o que fazer."

"Acho que ficar sem o que fazer tu não vai ficar, mas eu entendo o que tu quer dizer. Se tu quiser conversar, ou quiser colo me fala. Eu não consigo te perceber por causa dessa nossa vida com os bebês, então por favor me fala se tu precisar de alguma coisa."

"Pode deixar amor, eu falo sim. Se eu precisar de colo e coloco esses dois aí no berço e te pego só pra mim." Eu falo brincando e fazendo com ela segure sua risada mais uma vez para não fazer nossos filhos reclamarem. "Me dá logo a Sosô que já acabou." Eu falo enquanto começo a retirar Sofia de seu colo para poder ajudá-la a arrotar antes de colocá-la no berço.

"Até que não foi tão ruim hoje sem nossas mães né?" Rosa comenta comigo quando finalmente já estamos deitadas sozinhas em nosso quarto, com os bebês dormindo no seu berço. Eles dividiam o mesmo berço e sempre estavam juntos, era incrível a conexão que já haviam criado. Quando um chorava o outro não demorava para copiar, às vezes era só para avisar que seu irmão estava chamando.

"Foi sim. Ainda bem, espero que continue assim até a gente conseguir chegar em BH e achar uma babá para ajudar." Rosa fala já embolado pelo sono. Ela andava muito cansada, afinal, cuidar de dois bebês era muito cansativo, e ela ainda insistia em dar de mamar pois segundo ela, era um momento que era só dela e que ela nunca poderia voltar atrás. Ela também confidenciou que queria aproveitar esse momento já que ela logo voltaria a sua rotina de treinos e não ia poder dar de mamar com tanta frequência. Eu entendia, mas ainda ficava preocupada com ela tendo que acordar tantas vezes por causa dos bebês, afinal quando era o peito, só ela podia ajudar.

Apparently, it was meant to be?!Onde histórias criam vida. Descubra agora