Apparently, it was meant to be?!

vinte e um

Fresno, California

Carol POV

A tela do telefone iluminava a escuridão do quarto e o barulho ritmado do celular vibrando e tocando me despertava. Me viro na cama a procura do barulho chato que é aquele toque do meu alarme do celular e aperto no botão com a intenção de desligá-lo. Olho para a tela e vejo que já fazem quinze minutos que eu insisto em apertar no botão soneca do alarme ao invés de simplesmente levantar. O problema é que eu estou muito cansada. Eu já cheguei num ponto da minha vida que viagens longas como a que eu fiz para Ásia fazem com que eu precise de uma semana para me recuperar...a idade tá batendo mesmo. Infelizmente não posso ficar aqui nessa cama o resto do dia como eu gostaria. Tenho um compromisso com a Alicia na clínica de inseminação e se tudo der certo hoje será o dia que meu bebê irá começar a florescer. Eu sei que não devo ficar alimentando esse tipo de sentimento em meu coração, pois pode não dar certo logo de primeira, mas esse é mais um passo em direção ao meu grande sonho então não consigo simplesmente não criar expectativa.

Durante muitos anos eu achei que nunca conseguiria conquistar tudo que eu sempre desejei, e cheguei até a ressentir a minha escolha de jogar vôlei profissionalmente. Eu ressentia minha escolha pois eu acreditava que tinha trocado o meu sonho da maternidade pelo meu sonho de jogar em alto nível no maior palco do mundo, as olimpíadas. E eu cheguei tão perto inúmeras vezes, só que o corte sempre vinha, e com ele a depressão e incerteza sobre minhas escolhas. Quando eu finalmente pisei na vila olímpica em Tóquio eu lembro de não acreditar que aquilo estava acontecendo, afinal eu já tinha passado por tantos cortes e até uma pandemia e eu não conseguia acreditar que eu finalmente estava ali. A medalha foi apenas a cereja no topo que completou aquele sonho. Naquele momento eu tive a convicção que apesar de eu ter deixado pra trás meu sonho de ser mãe, eu pelo menos havia realizado o sonho de ir a uma olimpíada. Depois de realizar o sonho em Tóquio, a ambição cresceu e veio a vontade de ouro em Paris. Infelizmente esse sonho ficou fora de cogitação após minha lesão.

Contudo, a lesão me fez refletir novamente sobre meus sonhos e a minha capacidade de conquistá-los, e Annie foi fundamental e me fez ver que eu realmente tinha realizado algo que muitos davam como impossível ao ir à Tóquio, então porque não realizar mais um sonho improvável?

Meu celular volta a tocar aquele som chato do alarme e a vibrar em minhas mãos o que me faz lembrar que tenho que levantar de uma vez por todas para encontrar com Alicia.

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Eu levanto a cabeça quando ouço o barulho da porta ser aberta e logo me decepciono ao ver que não é Alicia. Eu cheguei com trinta minutos de antecedência para nossa consulta pois eu não queria me atrasar e correr o risco de não conseguir estar presente naquele momento, mesmo ela me dizendo inúmeras vezes que não era necessário eu estar ali. Mesmo sabendo que não era necessário minha presença e até mesmo não era comum, eu queria fazer parte de todos os momentos possíveis e que Alicia se sentisse confortável durante essa gestação.

Eu volto a olhar em volta da sala de espera bem limpa e muito iluminada, as cadeiras estão quase todas vagas com exceção da cadeira que eu ocupo e de três cadeiras a minha direito onde estão sentados um homem e duas mulheres. Eles parecem todos estarem bem nervosos e não trocam uma palavra um com outro. Só de ver a perna de uma das mulheres ficar subindo e descendo enquanto o homem não para de roer uma de suas unhas faz com que meu nervosismo e ansiedade comecem a aumentar. Eu resolvo me distrair jogando um joguinho no celular, porém aquilo não retém minha atenção por muito tempo. Resolvo ligar para alguém para bater papo, afinal, se eu não fizer alguma coisa é capaz de eu começar a ligar e perturbar Alicia a ponto dela desistir disso.