"É na soma do seu olhar que eu vou me conhecer inteiro/ Se nasci para enfrentar o mar ou faroleiro"
Era segunda às 7pm quando Fernanda resolveu começar a ajudar os meninos com o dever, Pitel estava no sofá na sala mexendo no celular, quando Fernanda pegou as mochilas para ver as atividades que tinham para fazer. Ao abrir o caderno de Marcelo retirou um papel, leu intrigada e após ler mudou completamente a feição, o que não passou despercebido aos olhos de Pitel.
- Está tudo bem Fernanda?
- Está sim. - Disse séria.
- Tem certeza? - Pitel falou levantando do sofá.
- Tenho Pitel, é coisa minha.
- Você quer dividir comigo? - Pitel já estava mais próxima - Você ficou assim depois de ler esse papel...
- É coisa de mãe Pitel, não tem nada a ver com você.
- Você está errada Fernanda. Ou, quando você falou que eu também era mãe dos meninos você estava falando da boca pra fora? Me dê o papel, quero ler também. - Fernanda ficou constrangida e sem saber como reagir entregou o papel à morena.
Pitel leu o papel que convocava uma reunião com os pais de Marcelo para abordar sobre o rendimento dele na escola.
- Eu vou com você. - Disse dando de ombros.
- Pitel, não precisa. Isso não é problema seu. - Pitel virou-se novamente para ela.
- É meu também. Tenho Marcelo como um filho, quero ajudar ele o máximo que puder. Quero participar dessa reunião. E você Fernanda, não ouse ir sem mim. - Pitel falava baixo, mas dava para ver que estava muito bem posicionada em seu pensamento.
No dia seguinte as duas levaram as crianças na escola e encaminharam para a diretoria, onde aguardaram ser chamadas.
- Olá Fernanda tudo bem? - diretora cumprimentou Fernanda e cumprimentou Pitel por formalidade. - Nós pensamos muito antes de te chamar aqui, mas realmente não estamos conseguir evoluir - "Evoluir?" - com o aprendizado de Marcelo. - "Qual o problema do meu filho?" - Ele não está conseguindo acompanhar a turma, acredito que você precisa buscar a ajuda de um profissional - "Profissional? O que ela está insinuando que meu filho tem?" - para manter ele na mesma turma, caso contrário não sei se vamos conseguir manter ele aqui na escola.
- Não entendo onde você quer chegar, Deborah. Não vejo problemas no Marcelo. - Fernanda respondeu direta.
- Sim, ele é uma criança normal assim como as outras, mas muitas vezes desconcentra e quando pedimos atividades mais elaboradas, sentimos que ele apresenta dificuldades em realizar. Na verdade, ajuda de um outro profissional é um conselho, pois devemos abordar todos os pontos possíveis para ter o melhor rendimento de todos os nossos alunos. - Fernanda ouvia calada, absorta em seus pensamentos.
- Pode deixar, vamos procurar os melhores profissionais para ele - Pitel respondeu. - Obrigada pela atenção, nos ajudou muito.
Ao chegar em casa, Fernanda queria quebrar a casa inteira, estava completamente desestabilizada.
- Caralho Pitel, que merda é essa? - Pitel escutava - Como eu vou fazer? Meu filho está passando dificuldade e eu não percebi nada cara.
- Calma Nanda. - Pitel falava sem saber como ajudar.
- É uma merda de ser mãe solteira, sabe? Se eu pudesse contar com o Daniel, se eu soubesse onde ele está... É tudo comigo, só comigo, se não fosse o Gabriel eu nem sei o que seria de mim - Pitel ficou triste por não ser reconhecida por Fernanda. - E se o Celo precisar de tratamento? Como vou pagar? E o teatro? Agora que comecei a ter um pouco de visibilidade... - Fernanda deixou-se cair no sofá e começava a chorar, com a sensação de ter falhado em sua missão. Pitel sentou ao lado dela e colocou a cabeça da carioca em seu ombro.
- Se ele precisar de tratamento, vamos dar isso a ele Nanda, você não tem o Daniel, mas eu estou aqui com você. Não queria estar no lugar dele, mas também não vou te deixar sozinha. Você não está sozinha nessa. - Fernanda chorava mais. - Vamos procurar os melhores profissionais para ele. Vamos fazer dar certo. Fica tranquila, eu estou aqui com você.
A semana foi passando e marcaram uma consulta com um neurologista referência na cidade. Ao chegar, o neurologista pediu para fechar um diagnóstico uma consulta com psiquiatra e psicólogo. Após consultas e exames fecharam o diagnóstico, Marcelo tinha transtorno do espectro autista (TEA) grau 1, o mais leve. Ele poderia apresentar dificuldade com interações interpessoais, em manter um diálogo por exemplo, mas não era um fator limitante. Era importante avaliar os comportamentos repetitivos e identificar onde provavelmente ele concentrava seus interesses. Por ser considerado leve, Marcelo tinha um bom prognóstico e conseguiria adaptar bem ao tratamento.
Fernanda chegou em casa dividida entre triste por não saber do futuro e esperançosa por saber que ia ter solução. Estava extremamente agradecida à Pitel, por toda maturidade e parceria. Os últimos dias tinham sido difíceis, mas sem a mais nova ao seu lado com certeza seriam dias muito mais complicados. Ela estava preparando um café forte para as duas, quando sentiu o toque de Pitel em seu braço, fazendo ela virar de frente para a morena que estava muito próxima, fazendo seu coração acelerar.
- Nanda - Pitel mal respirava - Vamos começar do zero? - Ela falava olhando nos olhos da carioca. - Vamos esquecer o passado, deixar ele pra atrás. Eu sinto falta de você, eu sinto falta da gente... - Aproximou mais - Eu quero estar do seu lado, você não precisa passar por isso sozinha. Eu te amo. Vamos fazer a nossa família dar certo? - Estava muito próxima de Fernanda, elas faziam um forte contato visual, a carioca estava calada, mas seus olhos diziam que também sentiam falta de Pitel. Reconhecendo naquele olhar a mesma Fernanda de antes Pitel a beijou, beijou com saudade e vontade. E enfim, depois de muito tempo se sentiu completa novamente.

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Tudo Sobre Você
FanfictionRio de Janeiro, 2024 Local: Companhia das Artes do Rio de Janeiro, rua Riachuelo, Lapa RJ Duas atrizes em formação, duas histórias, uma vida. Substituímos a casa do bbb24 por um turma de teatro. Esta é uma história Pitanda, se você não for Pitander:...