"Todo dia ela faz tudo sempre igual/ Me sacode às seis horas da manhã/ Me sorri um sorriso pontual e me beija com a boca de hortelã"
Fernanda estava na cozinha preparando um bolo enquanto todos dormiam, era sábado e ela estava realmente cansada mas tinha que dar um gás, pois era através das encomendas que vinha boa parte de sua renda. Agora no teatro profissional tinha a promessa de mais uma renda, mas nada tão representativo ainda, com Pitel morando com ela a nordestina tinha feito questão de pagar algumas contas. Fernanda de cara negou, mas a cacheada justificou que não estava mais pagando o aluguel da república e garantiu que ajudaria com o mesmo valor. Fernanda era muito independente e certas "ajudas" financeiras a incomodavam demais.
Eram poucos os momentos que tinha sozinha e nestes momentos gostava de devanear em seus pensamentos. Desde que Pitel morava com ela sua vida tinha mudado, se sentia mais acolhida e em paz. A nordestina tinha um jeito bastante especial de enxergar a vida e tornava as coisas muito mais leves. Fernanda adorava os momentos que passavam juntas vendo tv ou se curtindo em seu quarto, estava cada vez mais próxima a ela. Só existia um problema: os filhos.
Fernanda tinha nos os filhos sua prioridade de vida e respeitava todas suas decisões. Conversava muitas vezes com eles como se fossem adultos, pedindo opiniões sobre a dinâmica da casa, tentava realmente entender seus argumentos e quando via que não fazia sentido, uma vez que ainda eram crianças, expunha de uma forma muito leve e didática como as coisas funcionavam. Ao conhecer Pitel a interação da mulher com as crianças era essencial para Fernanda e nisso ela encontrou uma troca genuína de carinho e amizade entre os três. Pitel assim como ela conseguia fazer atividades que envolviam todos. Para ela então era como se o destino já tivesse traçado esse encontro há muito tempo.
Porém a proximidade de Pitel nos momentos de rotina da casa, fazia com ela quisesse beijar, abraçar ou curtir mais a mulher, só que evitava, pois tinha medo de confundir a cabeça dos filhos e isso a matava por dentro. Marcelo era um menino de 11 anos, que apesar de ser criança, já não queria mais fazer coisas de criança, gostava de jogar seu videogame e apesar de ser extremamente calado era muito observador, o que preocupava Fernanda pois tinha que se esforçar muito para entender o que se passava em sua cabeça. Laura tinha 5 anos era muito ativa, brincalhona, expressava toda e qualquer sensação que estivesse passando, era muito inteligente e perspicaz, Fernanda tinha medo de ser surpreendida por uma pergunta fora de hora da menininha. Estava num beco sem saída, então pensou em ter uma conversa franca com os filhos sobre ela e Pitel.
Estava perdida em seus pensamentos e nos preparativos do bolo, quando sentiu Pitel a abraçando por trás e beijando seu ombro.
- Bom dia gostosa. - A morena falou.
- Bom dia minha linda! - Fernanda virou apenas o rosto para receber um beijo rápido da parceira. - Os meninos já acordaram?
- Acho que não. - Pitel se preparava para sentar enquanto coçava os olhos.
- Pity preciso de um favor seu hoje.
- Pode falar patroa.
- Vou parar aqui um minuto para fazer o café pra gente, você me ajuda a montar a mesa. Depois do café quero que brinque com as crianças, mas não é para brincar o dia inteiro não dona Giovanna! - Fernanda falou sorrindo mas brava.
- Oxe...
- Quando for mais ou menos 14h vamos almoçar fora. Mas não fale nada, vamos fazer surpresa, se não Laura vai me deixar louca para terminar o bolo rápido - disse rindo. - Assim que eu entregar ele a gente sai.
- Você quem manda meu amor!
Eles tomaram café e Pitel propôs de fazer um torneio no videogame, mas logo se arrependeu. Laura quase quebrava a manete tentando dar os comando, ela deixou Marcelo escolher o jogo e perdeu vergonhosamente para o menino, que era só sorriso, como um bom vencedor. Essa foi a parte boa, ver Marcelo sorrindo a fazia sorrir também, mas não deixou por baixo, antes de levar os dois para banho disse que ia ter revanche e a próxima a escolher o jogo seria a Laura.
Era 3pm quando conseguiram sair de casa, foram em um restaurante à beira da praia em Icaraí mesmo, quando Fernanda falou com Marcelo:
- Filho o que você acha da família do Gustavo? - Gustavo era um menino de sua classe.
- Normal. - respondeu para a surpresa dela.
- Ele tem dois pais né?
- Sim.
- E você acha normal? - Fernanda insistiu.
- Sim. - Marcelo respondeu como se fosse óbvio. Pitel escutava atenta e tentava entender onde Fernanda queria chegar. - Acho legal.
- Você acha legal, meu filho? - Fernanda respondeu surpresa com um sorriso - Por que você acha legal?
- Eles buscam o Gustavo todo dia na escola, eles passeiam com ele, compram pra ele muita coisa e ainda jogam videogame todo dia.
- Que legal!!! Você já pensou que você é igual o Gustavo? - Pitel quase engasgou e olhou para Fernanda como se realmente não entendesse nada, esse olhar foi compartilhado por Marcelo e Laura - Porque você tem um pai só, mas você também tem duas mães. - A cabeça das crianças fizeram um nó.
- A tia Pitel é minha mãe? - Laura perguntou muito confusa, fazendo Pitel corar.
- Quase isso minha filha. Olha só, eu sou a mãe de vocês certo? - Eles concordaram - Mas desde que a Pitel mora com a gente, ela não ajuda a mamãe em casa? E faz com vocês as mesmas coisas que mamãe faz? - Eles concordaram, Laura parou de comer para compreender tudo, Marcelo concordava entre uma garfada e outra - Então... ela é como se fosse uma mãe pra vocês também!
- Então eu tenho que chamar ela de mãe? - Laura ainda perguntou curiosa.
- Não meu amor, não precisa. Você pode chamar ela de: Pitel, Pity, Tia Pitel, Mamãe Pitel, você chamar ela como você quiser, sua mãe sou eu, mas ela é como se fosse também, entendeu?
- Sim. - Laura respondeu com um sorriso olhando para Pitel e voltando a comer.
- Então olha que legal, a gente tem uma família como a do Gustavo. E isso é muito divertido porque podemos fazer várias coisas legais todos juntos! - Ao falar isso Fernanda sentiu a mão de Pitel buscando pela sua por baixo da mesa. Ao deixar os dedos entrelaçarem lançou para a morena um olhar acompanhado de um sorriso, Pitel sorriu pra ela e ela pode sentir como sua mulher estava emocionada e agradecida por aquele momento.
A mensagem para Fernanda tinha ficado clara: Marcelo sentia falta dela no seu dia a dia, o que fazia a família do colega de sala ser "melhor" que a dele eram os momentos de qualidade que passam juntos, mas ela estava disposta a dar isso ao menino e sabia que poderia contar 100% com a mulher que a acompanhava nessa jornada.
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Tudo Sobre Você
FanfictionRio de Janeiro, 2024 Local: Companhia das Artes do Rio de Janeiro, rua Riachuelo, Lapa RJ Duas atrizes em formação, duas histórias, uma vida. Substituímos a casa do bbb24 por um turma de teatro. Esta é uma história Pitanda, se você não for Pitander:...