Ilegais

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"Nossos corpos não conseguem ter paz em uma distância/ Nossos olhos são dengosos demais, que não se consolam, clamam fugazes/ Olhos que se entregam, ilegais."

Ao chegar em casa Fernanda se sentia leve, passou o caminho ouvindo sua playlist de MPB, muitas músicas exaltando a beleza feminina e em muitas delas Nanda associava à Pitel, a morena de cabelos cacheados, o cheiro de Pitel era sua mais nova obsessão. Fernanda não pensava em Pitel com amor, ou desejo, mas admiração. Gostou do sotaque dela, do cabelo, do cheiro, dela como um todo, mas não era amor. Ou pelo menos, ela acreditava nisso...

Quando abriu a porta de casa encontrou Marcelo muito concentrado em seu caderno, resolveu abraçar o menino primeiro, achou que ele estava fazendo os deveres de casa, mas não, o menino rabiscava qualquer coisa no caderno muito concentrado naquela obra de arte moderna.

- O que você está fazendo meu amor?

- Estou colorindo essa linha?

-Mas por quê?

- Porquê eu quero ela assim, colorida - Marcelo respondeu como se fosse muito óbvio.

- Ahh claro, vai ficar lindo! - Fernanda disse enquanto seguiu pela casa - Gabriel, cadê você?

- Mamãe, que bom que você chegou! Vem ver como o titio está lindo. - Laura segurou a mão de Nanda firme direcionando ela para o quarto da caçula. 

Chegando no quarto Fernanda encontrou um Gabriel todo borrado com suas maquiagens, as mais antigas que dava para Laura maquiar as bonecas. Gabriel tinha batom por todo o rosto, e não estava com a melhor das caras. Fernanda não aguentou e soltou uma gargalhada que durou alguns minutos.

- Mereço mais que um brownie recheado! E acho bom essas coisas sair com água, hoje vou passar a madrugada trabalhando. - Disse Gabriel sem coragem de se olhar no espelho.

- Não ficou lindo mamãe?

- Você é uma profissional, minha linda! Na próxima vez que mamãe sair você quem vai maquiar ela! Seu tio ficou lindo, vai até trabalhar assim!

Fernanda, estava radiante, feliz. Seu dia tinha sido ótimo, chegando em casa continuava tudo lindo, seus filhos eram sua alegria, sua força, o motivo para seguir em frente. Seu irmão então nem se fala, ela era apaixonada por ele, sonhava muito que ele formasse uma família feliz, assim como ela.

Depois de organizar tudo em casa, e ficar com seus filhos, Fernanda deitou em sua cama, quis ver um filme brasileiro, algo de Mazzaropi, achava importante focar mais na cultura brasileira e deixar os hollywoodianos em segundo plano, naquele momento. Pegou seu celular, pensou em mandar mensagem pra Pitel, puxar um assunto aleatório, perguntou se seria demais, e no mais que assunto puxaria?

Enquanto isso no Rio de Janeiro, Pitel tinha entrado apressada em seu quarto, não queria ver ninguém, apenas tomar seu banho, tinha sido um dia de fortes emoções. No chuveiro pensou "Por que apenas passei meu número? Deveria ter pego o dela também, ou pelo menos pedido um toque para salvar" "Será que ela vai mandar algo hoje?" "Será que vem no Rio muitas vezes?". Pitel sentia seu corpo à flor da pele, precisava se aliviar queria conhecer alguém, isso não era normal, alimentar um desejo por uma mulher que ela nem conhecia nada.

- Alô Giovanna? Vamos dar uma volta na orla? - Pitel ligou pra sua amiga.

- Pô Pitelzinha, tô exausta prefiro sentar em um barzinho, quero andar não amiga.

- Então vamos a um bar, bem melhor, mas onde?

- Aí perto da sua casa mesmo, uns 30min estou aí.

Rio de Janeiro, calor de 40 graus, qualquer momento é uma boa desculpa para sair de casa. Muitas pessoas nos bares da Lapa, Pitel e Giovanna sentaram em uma mesa na calçada pediram a cerveja e os copos, quando Pitel começou o desabafo.

- Giovanna mulher, não vou negar, estou vidrada na Fernanda. - Pitel falou muito sério.

- Como assim? Você pegaria ela?

- Eu? Toda hora...- Pitel riu sem graça.

- Então vai na fé, mana. Ela é uma gata mesmo! Tem um corpo que vou te contar.

- Mas e se ela não quiser? Meu medo é esse. Hoje pensei nela o dia todo, se eu ficasse em casa surtaria. - Pitel confessou

- E você se fazendo de sonsa pra mim mais cedo. Se ela não quiser paciência, vida que segue, mas por que ela não ia querer? Você é uma gata também, eu ficaria com você fácil fácil - Giovanna disse em tom de brincadeira, pois mesmo achando Pitel linda, não pegaria ela, Giovanna estava focada na Yasmin, uma loira muito bonita da turma, que se identificou como sereia.

- Que isso menina Giovanna! - Pitel respondeu corando um pouco, mais com a saia justa do que com a declaração em si.

O celular de Pitel estava no silencioso, mas começou a vibrar, Pitel não ia olhar o assunto com Giovanna era muito importante, quem quer que fosse depois ela ligaria. Giovanna olhou para o próprio celular.

- Pitel seu telefone parece que está tocando. - Giovanna disse ao constatar que não era o seu.

Pitel pegou, era um número desconhecido com o prefixo do Rio de Janeiro, arrepiou, "Seria a Fernanda?"

- Alô.

- Ei Pitel, aqui é a Fernanda, tudo bem? Você pode falar?

- Ei Nanda! Claro, posso sim.

Giovanna parou de beber para prestar atenção na conversa da amiga, com um sorriso descarado.

- Eu tava vendo um filme aqui, pensei em você e lembrei que não te passei meu número, salva aí! - Fernanda apenas inventando uma desculpa para falar com Pitel, pois nem prestou atenção no filme de tanta mensagem que escrevia e apagava, tentando enviar para ela.

- Ah pode deixar vou salvar sim! Que filme?

- Chama Jeca Tatu, é um clássico do nosso cinema, pensei em você porque poderíamos estudar juntas, se você quiser podemos combinar de você vir aqui em casa!

- Podemos sim! - Pitel já projetava planos para um primeiro encontro romântico, seguindo o conselho de Giovanna. "Se não der certo, paciência."

- Tá tudo bem mesmo? Parece que você está num lugar movimentado.

- Estou num barzinho com a Giovanna, mas está tranquilo!

Fernanda sentiu ciúmes naquele momento. "Um bar com a Giovanna? Conheceu a menina ontem? Agora seria todo dia assim?"

- Ah, então vou deixar você aí com ela! Aproveita muito! Salva meu número. Até amanhã!

- Não Nanda, tá tranquilo podemos continuar.

- Não, era só pra salvar o número mesmo, preciso desligar parece que o Marcelo está me chamando! Boa noite!

Fernanda falou de Marcelo como se Pitel fosse uma velha conhecida, Pitel por sua vez imaginou Fernanda casada e desanimou.

- Boa noite.

Giovanna estava agoniada querendo saber tudo da conversa.

- Conta tudo.

- Ela é casada. - Disse Pitel quase virando seu copo de cerveja.

Giovanna como uma boa amiga virou o dela também e mudaram de assunto.

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