Sozinho

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"Não sou nem quero ser o seu dono/ É que um carinho às vezes cai bem"

Fernanda e Pitel eram como se fossem a mesma pessoa, o convívio entre elas as uniam cada vez mais e fazia suas vontades, gostos, frases se completarem. Era impossível não associar as duas. Pitel participava dos almoços de domingo na casa dos pais de Fernanda. Marcelo cada dia se aproximava mais e Laura muito ciumenta muitas vezes pedia para Pitel dormir com ela, não entendia porque só Fernanda tinha o privilégio de desfrutar da companhia daquela tia que era pra ela tão especial.

Era um caminho sem volta na vida de Pitel, ela estava entregue, era movida pelo desejo de ver o sorriso no rosto de Fernanda. Quando lembrava da mulher só com roupa íntima chegava a perder a respiração, muitas vezes se perdia em conversas com amigos pensando no que Fernanda estaria fazendo. Saber que estava inserida na rotina dela dava mais sentido aos seus dias.

Apesar da aproximação no dia a dia, elas sofriam do distanciamento na parte profissional. Fernanda muitas vezes ficava até mais tarde ensaiando e os assuntos ou momentos com Alane sempre eram pautas nas conversas com Pitel, que não fazia muita questão em saber, porém sabia que não tinha muito o que fazer, era tudo novo para Fernanda e sabia que ela ia querer contar todos os detalhes.

Pitel por sua vez também ensaiava muito, começou a trabalhar com uma fonoaudióloga, preocupava com sua postura corporal e presença de palco. Pitel estava muito mais próxima de Buda, principalmente os dias que Fernanda não assistia alguma aula no galpão.

Fernanda começou a participar mais dos encontros com o pessoal do teatro, sabia que Pitel era muito social e que se ela estivesse ao lado da namorada iria agrada-la. 

Foi um dia no bar em uma mesa com dez atores que Fernanda teve seu primeiro destempero. Estavam todos bebendo, menos Fernanda que estava dirigindo, quando pediram mais uma cerveja Buda serviu o copo de todos, ao chegar a vez de Pitel ele falou:

- Me dá seu copo Pitelzinha. - Buda estava com mania de chamar Pitel assim.

Pitel nem importava, ela não sentia nada por ele e na verdade nem prestava atenção, Giovanna muitas vezes a chamava assim, era normal. Ela entregou o copo. Fernanda fervilhava por dentro, estava carregada de raiva, sentia que ia explodir. "Pitelzinha" pensou. Pediu ajuda aos céus, contou até 10, até 20. Ninguém percebeu, mas ela já estava fora de si. Mexeu no celular, não adiantou, resolveu sair da mesa ia ao banheiro, precisava sair dali.

-Onde você vai meu amor? - Pitel perguntou com voz arrastada.

- No banheiro - Fernanda respondeu ríspida.

Pitel não entendeu porque Fernanda estava falando daquele jeito, mas estava mais letárgica pelos efeitos do álcool e não acompanhou a mulher. Toda vez que Fernanda saía de perto era para Buda uma vitória, ele gostava da companhia da morena, mas perto de Fernanda ficava retraído, achava que a mulher controlava muito Pitel. Quando Fernanda saiu Buda se sentiu mais à vontade para fazer brincadeiras todos riram, inclusive Pitel. 

Fernanda retornou após um tempo mais demorado que uma ida habitual ao banheiro e quando aproximou da mesa encontrou Buda muito sorridente de pé indo em direção a sua cadeira vazia.

- Pitelzinha conta pra eles sobre o que aconteceu hoje! - Falou descontraído preparando pra sentar enquanto rodeava o braço nas costas de Pitel

Fernanda pegou o braço dele no ar e falou:

- Conta você Buda, o que aconteceu hoje? - Antes que dele começar a contar Fernanda continuou- Licença - E ocupou seu lugar na cadeira não dando espaço para ele sentar. Ao sentar Fernanda colocou sua mão na coxa de Pitel, que já estava um pouco alta.

- Ah Fernanda foi nada demais, é porque foi engraçado no momento. Mas Pitelzinha sabe contar melhor.

- Buda, pra você é Giovanna. - Fernanda falou com um sorriso seco, piscando para o homem, que engoliu seco. "Que mulher desnecessária" pensou ele. Pitel nesse momento olhou assustada para Fernanda, mas não falou nada.

Pitel havia bebido muito e Nanda resolveu leva-la para Niterói, queria cuidar da sua namorada melhor. Muitas vezes Pitel dormia na casa dela então esse não era motivo de preocupação. Foram no caminho caladas, Pitel em alguns momentos chegava a cochilar.

Ao chegar em casa Fernanda agradeceu Gabriel com poucas palavras, entrou pela casa apoiando Pitel de braço dado a ela. Sentou ela no sofá e deu água, enquanto a cacheada bebia e puxava assunto desconexos com os meninos Fernanda despediu de Gabriel. Perguntou os meninos sobre os deveres de casa, subiu com cada um e voltou para sala:

- Vamos tomar um banho, Pitelzinha? - Disse dando bastante ênfase no apelido.

- Oh Nanda pra que isso mulher? Você está com ciúmes?

- Não, não estou. Mas você precisa tomar seu banho, e eu vou te ajudar.- Pitel se deixou levar.

Era quase 1am quando Fernanda acordou Pitel:

- Pitel...- disse baixinho

- Oi -a outra respondeu com voz de sono.

- Desculpa por hoje, acho que exagerei.

- Tá tudo bem Nanda vamos dormir.

- Não Pitel, me escuta. Eu não queria falar daquela forma com o Buda. Não quero prejudicar seu relacionamento com o pessoal. Mas a intimidade com que ele te aborda me incomoda muito. Me incomoda também você com Giovanna, aquela mulher é gata pra caralho, só que com ele é diferente. Sinto que Giovanna gosta de você Pitel, mas ele parece gostar de você mulher, parece te desejar. Coisa de doido.

- Nanda você está viajando, Buda é apenas um amigo, você precisa conhecer ele melhor. - Pitel respondeu cruzando seu braço por Fernanda e aproximando seus corpos, num claro convite para continuar dormindo. 

Fernanda não dormiu, fixou seu olhar no teto "Você está viajando Fernanda, ele é apenas amigo dela", repetiu ela mentalmente para fixar aquelas palavras.

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