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LEANDRO

No carro de Guilherme eu estranho todo o caminho que eu fazia de moto com o Lúcio, minha vontade é voltar pra casa e me deitar em posição fetal pra nunca mais me levantar.

Ele para em frente a faculdade e eu fico relutante em sair do carro.

_ Ei, está tudo bem, essa é a sua faculdade onde tem seus amigos, pessoas que irão te acolher nesse momento difícil..

_ Olhares de pena é tudo que eu não preciso nesse momento, isso é bizarro. Um dia apareço aqui exibindo orgulhosamente uma aliança de noivado e no outro sou a porra de um viúvo, não entra na minha cabeça isso.

_ Na minha também não Leandro, eu estava feliz com a transferência de cidade, por estar perto de meu amigo e olha o que aconteceu, ainda não consegui assimilar isso.

Olho bem pra Guilherme e foco nos olhos dele, aliás essa é a primeira vez que o encaro, é a primeira vez que consigo ver o seu pesar, o seu sofrimento e sinto uma paz, uma força inexplicável que parece que estou recebendo uma recarga de energia, sorrio de lado e ele também. É isso, nós entendemos nossos sofrimentos. Estamos sofrendo, de maneiras distintas mas estamos. Sem falar nada saio do carro pra enfrentar olhares de pesar e desejos de conforto.

Meus amigos me disseram palavras de conforto assim como alguns professores, funcionários e a diretora, todo mundo me viu radiante naquele dia antes de receber aquela triste notícia.

Na volta pra casa como sempre desci correndo do ônibus, cheguei em casa tomei um banho e fiquei no computador procurando emprego meio período, coloquei anúncio no Facebook, mandei currículo em email de empresas e quando percebi estava tarde, fui dormir e no outro dia de manhã aqui estava o delegado, mais uma vez ele ficou me fazendo perguntas do tipo se eu comi, se estou bem, se está faltando alguma coisa e eu tenho vontade de mandar tudo a merda e sumir. Sei que ele está sendo legal mas eu não quero nada disso, não quero nunca mais depender de ninguém.

Quinze dias se passaram e eu não tenho nem metade do aluguel, chego da faculdade ja pensando na desculpa que darei ao senhor Alberto, eu sei que ele vem hoje pois ele é pontual, Lúcio sempre me falava isso. Tomo banho e o espero, ele toca a campainha e eu o atendo.

_ Oi senhor Alberto, boa noite.

_ Boa noite Leandro. Eu vim pra acertar o aluguel.

_ Eu sei e queria te pedir mais uns dias, como o senhor sabe o Lúcio morreu e eu não consegui o dinheiro do mês ainda.

_ Ele não deixou nada? Ele sempre me pagou em dia.

_ Eu sei mas é que ele gastou nossas economias pra comprar nossa aliança de noivado, eu...

_ Vende essa aliança. Pra que quer uma aliança de um noivo morto?

Fico em choque com a frieza dele.

_ Olha rapaz, eu sei que não deveria estar falando assim mas não posso esperar, tenho meus compromissos também. Se não pode pagar o aluguel desocupe a casa por favor, te darei uma semana pra você se decidir se paga ou desocupa o imóvel, lembrando que se sair terá que o pintar, entreguei pintado ao falecido.

Ele me joga esse balde de gelo e simplismente vira as costas e sai. Eu fecho a porta e não me aguento, me encosto nela e choro tudo que tentei evitar chorar por esses dias, o que eu vou fazer?

No outro dia saio mais cedo de casa e imprimo uns currículos, saio distribuindo por vários lugares e nem vou a faculdade, avisei Guilherme antes de sair de casa, só não comentei nada sobre o ultimato que o senhor Alberto me deu.

Chego de tardezinha em casa morto de cansado e com fome, vou direto na geladeira e pego um copo de leite que assim que ponho na boca descubro estar azedo, esse leite está a tantos dias aqui que azedou, aliás nem me lembro quando foi a última vez que comi, não sinto vontade alguma também.

No outro dia como é sábado me levanto e como umas torradas que achei no armário e faço um chá, preciso de energia pra continuar minha saga por emprego.

No final da manhã consigo um emprego num bar, o bom é que é a noite e o dono ainda me ofereceu o quarto dos fundos pra eu ficar, com o aluguel descontado em meu salário é claro, mas por hora terá que servir. Irei ganhar pouco mas a questão do aluguel está resolvida, na volta pra casa compro uma lata de tinta com o pouco dinheiro que tenho converso com o senhor Alberto, ele não gosta nenhum pouco mas não a o que fazer, nunca pintei uma casa e não sei nem por onde começar. Arrumo as minhas coisas rapidamente, nessas horas agradeço por ter poucas coisas. Do roupas, sapatos, livros, meu notebook, alguns cobertores, roupas de cama e de cozinha,  também alguns alimentos. Enfim, deu duas viagens de uber mas me senti aliviado, chegando no quartinho arrumo minhas coisas e tento limpar o melhor possivel o banheiro insalubre que me revirou o estômago, sai pra comprar, água sanitária, desinfetante e tapetes pra ele. No fim até que ficou organizado e eu iniciei meu primeiro dia de trabalho que acabou praticamente amanhendo o dia e eu ja não me aguentava em pé atrás daquele balcão, só me lembro de tirar o suor debaixo do chuveiro, vestir uma cueca, cair na cama e fechar o olho

RELUTANTE EM RECOMEÇAR Onde histórias criam vida. Descubra agora