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LEANDRO

Quase não consigo dormir durante a noite, me reviro de um lado pra outro, Guilherme até desiste de ficar abraçado comigo, me lembro de ver o dia começar a clarear e aí durmo. Acordo e Guilherme já se levantou. Me levanto também e já vou a cozinha atrás dele.

_ Oi bom dia. Tá todo amassadinho, parece que lutou a noite toda.

Dona Olívia comenta sorrindo.

_ Ele quase não dormiu mesmo.

Me sento e dona Olívia me da um potinho de iogurte e uma colher.

_ Bom dia, obrigado. Eu mal consegui dormir, não sei o que fazer em relação ao meu pai e aos meus irmãos.

Começo a comer meu iogurte e eles ficam em silêncio, olho pra eles e eles estão me olhando.

_ Que foi?

Pergunto a eles.

_ Você pensa demais Leandro.

Guilherme diz e dona Olívia olha pra ele.

_ O que ele quer dizer é que você Leandro, sempre quando precisa tomar uma decisão fica procrastinando e não a toma, você precisa que alguém a tome por você ou chegue e te dê um empurrão, como o Alex fez.

Suspiro um pouco envergonhado, realmente eu não teria tido coragem de ficar com o Guilherme se Alex não tivesse me provocado daquele jeito.

_ Na verdade eu nunca precisei pensar muito, tive quem o fizesse por mim..

Digo pensando no Lúcio, todas as decisões era ele quem tomava.

_ O Lúcio fez errado querendo acertar, não estou o recriminando mas você é adulto, ele não te deu o direito de escolha quando decidiu ignorar a morte de sua mãe, essa decisão era sua. E você sabe que ele fazia isso com praticamente tudo, te tratava como se você fosse uma criança mas você é adulto Leandro, não pense muito, se quer ver seus irmãos, liga pra eles e faça o que achar melhor ..

Ele diz olhando pra minha aliança, eu sei que estou procrastinando pra tirar ela do meu dedo também, mas o Lúcio estava tão feliz quando a colocou em meu dedo, quando penso em tirar parece que irei deixa lo triste. Terminamos nosso café em silêncio e depois eu arrumo a cozinha e vou ao meu quarto, faço uma limpeza nele também, quando quero pensar preciso estar em movimento. No final da tarde ligo pro meu pai.

_ Alô.

_ Pai? Sou eu, Leandro.

_ Leandro? Que bom que ligou filho. Seus irmãos ficaram felizes quando souberam que te encontrei.

Não dou muita atenção pra ele e já pergunto pelos meus irmãos.

_ Posso falar com eles?

_ Pode. Faz assim, faça uma chamada de vídeo pra eles te verem.

_ Tá.

Desligo o celular e vou até a sala onde  dona Olívia e Guilherme estão assistindo um documentário.

_ Que foi Leandro?

_ Eu liguei pro meu pai.

_ Que ótimo, e aí?

_ Ele me pediu pra fazer uma chamada de vídeo, eu não sei se consigo, é muito saudade deles, eu vou chorar.

_ Senta aqui.

Me sento perto deles.

_ Não tem problema nenhum chorar tá. Faça a chamada e converse com eles.

_ Faço das palavras do meu filho as minhas Leandro, não tem nenhum problema em chorar, não é sinal de fraqueza, é sinal que você os ama e estava com saudades.

Peço licença pra eles e volto pro quarto, prefiro fazer essa chamada sozinho. Ligo e já vejo os dois rostinhos que me lembro não bem, agora não tão infantis como antes, viraram dois lindos adolescentes. Diferente do que eu pensava, eu achava que só eu iria chorar mas nós três choramos, nós três nos emocionamos. Minhas primeiras palavras vieram do fundo do meu coração com a mais completa sinceridade.

_ Eu amo tanto vocês.

_ Irmão, a gente te ama também. Porque você sumiu?

Meu irmão me pergunta chorando e eu não sei o que responder, não sei o que meus pais disseram a eles ao me expulsarem de casa, eu não tive coragem de dizer o porque estava indo embora, só me despedi e disse que um dia iria voltar.

_ Eu tô aqui não tô? Eu disse que voltaria.

_ Quando a gente vai te ver?

Dessa vez é minha irmã que pergunta.

_ Quando vocês quiserem. Podemos marcar um dia no fim de semana e nos encontrarmos..

_ A gente quer...

Eles falam juntos e conversamos por mais de uma hora, tanto eu como eles tínhamos muito a falar, foram anos longe uns do outro. A durante o jantar contei a Guilherme e dona Olívia sobre nossa conversa e eu estava tão feliz que a noite nem pensei, procurei Guilherme e dormi com ele novamente, precisava extravasar e ele foi perfeito, nem perguntou se era o certo, só me amou de maneira apaixonada. E assim passamos a semana nos amando sem cobranças, eu conversando diariamente com meus irmãos e eu mais feliz ainda com um novo e importante emprego, procurei Bernardo e ele me convidou pra entrar no time de publicitários da empresa dele, e com um salário ótimo. Com o que ganho na empresa dele, na outra que faço free-lancer e a pensão, conseguiria alugar um bom apartamento mas estou apaixonado pelo Guilherme e não quero deixar a dona Olívia também, conversamos e eles ficaram bastante bravos por eu cogitar em procurar um apartamento, enfim continuo com eles e muito feliz.

Pedi permissão ao meu pai e comprei celular para os meus irmãos, comprei um de cada. Era ruim toda vez que queria conversar com eles ter que ficar mandando mensagem ou ficar ligando para o meu pai, ainda não estou tão a vontade com ele, meus irmãos irão usar o celular mas com monitoramento meu e do meu pai, afinal eles ainda tem doze anos.

Sabe quando a gente está tão feliz que chega a desconfiar de tanta felicidade? Eu desconfiei e de repente a felicidade escapou como areia fina das minhas mãos e me vi novamente sofrendo por antecipação, uma dor ainda maior.

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