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LEANDRO

_ Que merda é essa que você está me contando Guilherme? O Lúcio não morreu... OLHA AQUI A ALIANÇA NO MEU DEDO CARALHO...

Mostro minha aliança de noivado pra ele, como sr justificasse que seria impossível Lúcio morrer depois de te la colocado em meu dedo.

_ .... ele me deu... ele me deu uma aliança ontem... ele não ia fazer isso comigo... sai daqui você está mentindo... PORQUE ? Porque você está fazendo isso comigo?

Eu choro de soluçar atraindo a curiosidade de um monte de gente que nem sei quem é. Fodam se todos eu só quero meu noivo.

_ Calma querido.

A diretora diz me abraçando. COMO É QUE EU VOU ME ACALMAR? Meu noivo acabou de morrer. Como é que fico calmo?

_ Eu sei que é difícil Leandro. Por isso vim aqui pessoalmente, eu vou te ajudar.

_ Me ajudar como? Você pode traze lo de volta?

_ Não, mas temos que reconhecer o corpo dele no iml do hospital.

_ Hospital?

Digo com esperança.

_ Ele está no hospital então? Ele não morreu... meu Lúcio está vivo?

Guilherme se aproxima de mim e pega em minhas mãos.

_ Não, infelizmente ele não está vivo. Foi ao hospital pra retirada dos órgãos, ele é doador.

Lúcio assim como eu é doador mas isso não está acontecendo, eu não terei que ver o corpo dele oco na porra de um iml. Tenho que acreditar que eu bebi pra caralho ontem junto com ele e estou morrendo de dor de cabeça tentando acordar e não consigo, é isso.

Não sei como chegamos aqui mas agora estamos diante do corpo de Lúcio numa sala fria, um homem faz umas perguntas e eu só confirmo sem nem saber do que se trata. Só sei que Guilherme me pega pelo braço e me leva como um boneco, essa deve ter sido a maneira que ele me trouxe.

Eu chorei, eu ri, eu xinguei, eu morri. Sim a impressão que tenho é que morri junto com Lúcio. Vi ele chegando na capela num caixão e só me lembro disso pra acordar num quarto desconhecido e descobrir que não tenho mais lágrimas pra chorar.

Uma senhora me trouxe comida mas só o cheiro me é sufocante, Guilherme tentou conversar comigo mas nem ao menos consigo o ouvir e eu tenho consciência que ele está sofrendo também pois Lúcio era o melhor amigo dele.

O agradeço de coração mas saio da casa dele pois está me sufocando, ele faz questão de me levar em casa onde entro correndo na esperança de encontrar Lúcio e descobrir que tudo não passa de uma trolagem, mas a realidade me atinge feito uma avalanche me fazendo desabar e chorar, gritar de dor. Guilherme me abraça me acalentando e chora junto comigo, sinceramente não sei como o agradecer pela paciência que tem tido tido comigo, eu sei que estou demorando a cair na real, estou me recusando com todas as minhas forças a acreditar que perdi meu amor.

Guilherme vai embora depois de eu me acalmar, ele só foi porque conseguiram pegar mais um dos bandidos no assalto, dois deles foram mortos mas pelas câmeras da pra ver que eram quatro.

Ele sai e eu fico sentado no chão da sala sem saber o que fazer muito menos por onde começar. Aliás eu não sei muita coisa, o que sei é que tenho que reagir e descobrir como proceder agora. Provavelmente terei que largar a faculdade pois com os bicos que faço não consigo pagar o aluguel, mal daria pra me sustentar, esse dinheiro só dava pra ajudar nas despesas, era o Lúcio que provia tudo, ele queria que eu terminasse a faculdade tranquilo pra ter minha profissão e agora nada faz sentido.

Olho pelo celular de Lúcio o saldo da sua conta no banco e está praticamente zerado, estranho pois deveria ter ao menos o dinheiro do aluguel, Lúcio ganhava pouco mas sempre deixava um dinheirinho na conta. Vejo as últimas compras e mais uma vez choro ao ver que foi na joalheiria. A aliança que agora não me serve de nada, agora eu tenho a minha e a dele, deveria vender pra conseguir dinheiro mas não tenho coragem, o sorriso dele foi tão lindo quando a colocou no meu dedo que não sei se um dia terei coragem de tira la.

Ainda tenho duas semanas pra conseguir o dinheiro do aluguel ou conseguir um lugar mais em conta, mas também se eu sair daqui terei que comprar o básico pois os móveis são do nosso inquilino. Tenho que providenciar ao menos cama e fogão, pra isso antes preciso do mais difícil que é um emprego, noturno de preferência senão terei que largar minha faculdade, se ao menos tivesse CNH poderia fazer bicos de moto táxi com a moto de Lúcio. É tanta coisa que não sei nem por onde começar.

O Lúcio morreu no meio da semana então tirei o restante da semana pra ficar em casa imóvel só respirando e olhando pro nada, as vezes pensei até em interromper esse processo de respirar mas nem isso tenho coragem de fazer, me sinto um inútil, um nada que vivia as custas do namorado e agora não sabe se chora a morte dele ou reage e corre atrás da sobrevivência. Os armários estão cheios de comida, Lúcio não deixava nada faltar e não posso culpa lo por ter gastado nossas economias com alianças, quem poderia prever essa morte repentina e cruel? A verdade é que de nossa felicidade restou ele morto, e eu sozinho com a aliança que agora não serve pra nada.

Domingo a tarde minha campainha toca e eu me forço a levantar do sofá onde tenho ficado desde que entrei em casa, só me levantei pra ir ao banheiro e colocar água em minha garrafinha. Abro a porta e me deparo com o delegado que me olha de cima a baixo e franze a sombrancelha.

_ Você está com a mesma roupa que estava na faculdade na quinta-feira?

Ele comenta entrando em minha casa.

_ Parece que sim.

_ Você precisa reagir Leandro, isso que está fazendo não irá traze lo de volta.

_ Eu sei.. eu só não consigo, está doendo demais.

_ Eu sei, posso fazer uma idéia do que está sentindo mas por favor faça uma forcinha e reaja, pelo Lúcio. Ele odiaria te ver assim.

RELUTANTE EM RECOMEÇAR Onde histórias criam vida. Descubra agora