7

111 15 0
                                    


LEANDRO

No outro dia acordo exausto, nem parece que me deitei, olho em volta e só agora me dou conta que não tenho sequer um fogão pra fazer um café, não tenho geladeira, enfim... não tenho nada. Nem sei porque trouxe arroz, feijão, pipoca... alimentos que não se cozinham sem fogo. Me levanto e vou até o banheiro fedido que por mais que se limpe continua fétido. Tomo um banho, tomo um copo com água e como umas bolachas, tomo um comprimido pra dor muscular e vou lavar o bar, aos finais de semana serei o responsável pela limpeza dele.

Depois de terminar morto de cansado e de fome tomo outro banho, pego umas moedas e vou a uma padaria, compro uma coxinha, uma lata de coca cola e volto pra casa. Pego o celular e vejo várias mensagens e ligações de Guilherme que eu resolvo ignorar como as outras, sei que não tenho como me esconder dele afinal ele sabe onde fica minha faculdade mas por enquanto quero ficar sozinho, é melhor assim, também não quero que ele se sinta responsável por mim.

A noite trabalho no bar e essa exaustão está acabando comigo mas continuo e assim ficarei até ao menos conseguir me formar e arrumar um bom emprego.

Uma semana se passou e eu me sinto cada dia mais exausto, se fosse só o cansaço era bom mas a fome está me consumindo, dinheiro está acabando e eu estou economizando pois não gosto de ficar zerado e meu pagamento ainda está um pouco longe.

No sábado o bar é invadido por vários policiais e eles nos mandam erguer as mãos e de ficar de frente pra parede, não entendo nada mas meu patrão está nitidamente nervoso, tanto que pega uma arma escondida no balcão e sai correndo, eu fico apavorado pois os policiais começam a atirar e eu e outras pessoas nos escondemos por trás do balcão. Resumindo, a polícia capturou meu patrão e fomos todos parar todos na delegacia, justo a delegacia do Guilherme que tomou o depoimento de todos e eu me tremi todo quando chegou a minha vez, ele não escondeu a surpresa ao me ver.

_ Leandro? O que faz metido num bar conhecido pelo tráfico de drogas?

_ Tráfico de drogas? Eu... eu não sabia Guilherme, estou trabalhando a uma semana no bar, eu juro..

_ Porque?

_ Porque eu precisei, o dono da casa que eu morava com o Lúcio pediu pra eu sair por não ter o dinheiro do aluguel, o dono desse bar me ofereceu um emprego e um quartinho pra eu dormir e eu aceitei, não sabia que ele estava envolvido com tráfico.

_ Não sabia de nada mesmo?

_ Não. Nessa semana que trabalhei com ele nem vi nada, eu só ajudava no balcão e no fechamento eu ia pro meu quarto e ja dormia exausto.

Ele suspira parecendo cansado.

_ Você não ouviu os áudios que te enviei na sexta-feira não é?

_ Não. Eu ouvi alguns mas o da sexta-feira não, estou cansado e sem tempo, chego da faculdade direto pro bar.

_ Cansado e pálido parecendo prestes a desmaiar não é Leandro. Tem se alimentado?

_ Olha Guilherme..

_ Onde fica o seu quartinho?

_ Nos fundos do bar porque?

_ Todos seus pertences estão la?

_ Estão.

_ Tem chave? Me da aqui.

_ Está achando que estou escondendo drogas em meu quarto?

Pergunto possesso de raiva, quem ele pensa que eu sou? Estou precisando de dinheiro mas jamais faria tal coisa.

_ Claro que não. Irei pedir pra alguém ir buscar suas coisas.

_ Pra que?

Pergunto sem entender absolutamente nada.

_ Pra você sair daquele inferninho que alem de tráfico de drogas é ponto de prostituição também.

Como assim?

_ Mas...

_ Sem mas Leandro, você vai pra minha casa, minha mãe irá te receber e te dar comida, você janta toma um banho e dorme. Amanhã iremos conversar sobre os áudios que te enviei. Vai agora e nem ouse me contestar.

Ainda aturdido pego minha chave do quartinho e entrego pra ele. Um policial entra na sala, Guilherme conversa com ele e o policial em seguida me pede pra o seguir, antes de sair da sala olho pra Guilherme e ele está me olhando estranho. Chegando na casa de Leandro dona Olívia vem me receber e me da um abraço tão gostoso que me desarma completamente.

_ Como você está magrinho Leandro. Não acredito que deixei que fosse embora daqui da outra vez.

_ Eu precisei ir dona Olívia. Desculpa, nem me despedi direito.

_ É porque não era pra você ter ido.

Ele me solta e me olha.

_ Você não está sozinho entendeu? Esse fardo também é nosso, amávamos o Lúcio também.

Minhas lágrimas que segurei descem sem parar.

_ Eu sei dina Olívia, mas é...

_ Sabe nada menino teimoso. Primeiro va tomar um banho, preparei uma janta pra você, segundo não precisa de formalidades comigo, só Olívia é suficiente, não quero me sentir velha.

Eu rio e ela me acompanha.

_ Ta bom.

Ela me acompanha até o quarto e hóspedes e eu vou tomar um banho, tomo o banho e depois de uma semana me sinto limpinho, aquele banheiro nojento tinha um cheiro de esgoto impregnado nele.

Me enrolo na toalha e saio do banheiro, vejo que dona Olívia deixou roupas pra mim, deixou camiseta branca, cueca preta e moletom cinza. Visto e fica um pouco grande mas não me importo, as roupas de Lúcio ficavam grandes em mim também e eu amava as usar.

Saio do quarto e Olívia me leva até a cozinha onde me serve uma comida quentinha e muito gostosa, como dois pratos de tanta fome que eu estava, me deu até sono. Agradeço a ela e entro no quarto, escovo os dentes e me deito, penso no que farei a partir de agora mas nesse momento apenas quero aproveitar a cama quentinha e cheirosa, fecho os olhos e apago instantaneamente.

RELUTANTE EM RECOMEÇAR Onde histórias criam vida. Descubra agora