RELUTANTE EM RECOMEÇAR

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LEANDRO

Hoje o dia foi cansativo na faculdade e só de pensar que tenho que chegar em casa fazer o jantar e terminar um trabalho que tenho que entregar amanhã, me deixa ainda mais cansado, espero que Lúcio não tenha esquecido de tirar a carne do congelador senão teremos que comer ovo, o que pra mim não é nada mal pois assim é mais rápido, mas ele não gosta.

Vou divagando tanto que quase esqueço de saltar no meu ponto do ônibus. Eu e Lúcio moramos num bairro simples um pouco perigoso a noite, então quando desço do ônibus seguro minha mochila com força e literalmente corro até a nossa casa. Nossa casa é alugada, parte dos móveis é incluída no imóvel então temos pouca coisa mas eu considero uma ótima casa, é um lugar que amo e cuido com amor.

Chego em casa e estranho Lúcio todo arrumado sentado no sofá. A não juro, não vou sair hoje.

_ Oi amor.

Ele se aproxima e me beija.

_ Oi. Vai sair?

_ Não. Vai se arrumar, convidei uns amigos pra um jantar aqui em casa.

_ Amor, eu to atolado de trabalho. Tenho que entregar amanhã. Você deveria ter me avisado.

_ Relaxa meu amorzinho o jantar é rápido e depois eu te ajudo no trabalho. Deixei a casa mais limpinha do que você ja deixa e encomendei o jantar, você só precisa estar presente, por favor.

Ok, ele é um fofo. Não tenho como negar nada pra ele.

_ Ta bom.

Vou ao quarto que está impecável, até lençol de cama ele trocou. Tomo banho e visto calça preta e camisa branca, nós pés chinelo mesmo. Arrumo meu cabelo, passo hidratante nos braços e pescoço e perfume, saio do quarto e vejo que chegaram três pessoas, uma delas só conheço pelas redes sociais e por celular nas vezes que eles se falam por chamada de vídeo.

Lúcio ja está bebendo, não gosto disso nele pois ele bebe e fica bem chatinho, amanhã pra ele ir trabalhar e eu terei que arranca lo da cama, ajudar tomar banho e dar café pois a ressaca é braba.

_ Amor. A Jéssica e o Breno você ja conhece.

_ Oi.

Cumprimento a Jéssica com dois beijinhos no rosto, e Breno com um soquinho de mão.

_ Quero que conheça pessoalmente o Guilherme, ele chegou de surpresa sem me avisar em São Paulo, foi transferido de Curitiba pra cá.

Guilherme é um cara alto, loiro dos olhos azuis. Ele é um cara sério, me comprimentou com um aperto de mão e disse que foi um prazer me conhecer. Eles são muito amigos mesmo, Lúcio me puxou pra sentar praticamente em seu colo, sempre me incluindo na conversa, parecia que queria que eu me desse bem com o amigo dele também, eu até gostei pois entendi com isso que tanto eu como o amigo somos importantes pra ele. Um tempo depois Sérgio e Juliano um casal amigo nosso chegou e nos sentamos a mesa pra jantar. No meio do jantar Lúcio se ajoelha em minha frente e me pede em casamento, eu não sabia se chorava de vergonha ou de felicidade, por essa eu não esperava mas é claro que aceitei, não me vejo sem o Lúcio, ele é o meu melhor amigo e companheiro, o cara que me estendeu a mão no momento em que eu mais precisava e me ama como eu jamais imaginei ser amado, ele me deu uma aliança dourada e ficou perfeita no meu dedo. Nossos amigos foram embora passando de meia noite e eu não consegui fazer meu trabalho pois Lúcio estava bem bêbado e praticamente me arrastou pra cama, transou comigo até gozar dentro de mim e dormir instantaneamente, eu que o tirei de cima de mim e fui pro banheiro tomar um banho e depois lavei a louça que usamos, coloquei uma música em som ambiente na sala e conclui meu trabalho, terminando quase as três da manhã, só ai me deitei pra tirar uma sonequinha até as cinco da manhã quando o celular desperta.

O celular despertou e eu não sabia nem por onde começar, Lúcio nem se mexeu na cama, é claro né bebeu sem pensar no amanhã, só que o amanhã chegou e eu terei que me virar pra tirar esse meu filho grandão e manhoso da cama. Vou a cozinha e coloco café na cafeteira, e começo o processo de acordar o Lúcio.

_ Amor.. acorda. Amor, temos que levantar.

Sacudo forte ele e tento o levantar mas pense num homem pesado.

_ AMOOORRR ACORDA VAMOS NOS ATRASAR.

_ Me deixa amor.. ta doendo minha cabeça.

_ É claro que está, você bebeu bastante ontem.. levanta vai, eu vou cuidar de você.

Foi aquela manha mas levantou e eu tive que praticamente dar banho nele enquanto tomava também. Tomamos café, dei remédio pra ele e saímos de moto de casa. Todos os dias fazemos assim, ele me deixa de moto na faculdade e segue pro banco, como ele saí bem mais cedo que eu, na volta volto de ônibus. Me despeço dele um pouco preocupado, é nítido que ele está com uma baita ressaca mas recomendo que ele tome bastante água e tente tirar um cochilo em seu horário de almoço.

Sigo pra aula e fico me achando, meus amigos ficam eufóricos com minha aliança que brilha linda em meu dedo.

No comecinho da aula depois do intervalo sou chamado na diretoria e estranho um pouco, afinal sou um bom aluno, tiro boas notas e não me envolvo em confusão, nem posso pois sou bolsista. Fico ainda mais confuso quando encontro a diretora na porta da sala dela e ela me da um abraço sentida, eu simplesmente não entendo nada.

_ O que aconteceu?

Ela só me faz um sinal com a mão e eu entro na sala e dou de cara com Guilherme, o amigo delegado de Lúcio que esteve em minha casa ontem. Que isso? Cade o Lúcio?

_ O que aconteceu? Porque está aqui?

Pergunto com o coração disparado.

_ Cadê o Lúcio?

Lágrimas ja banham os meus olhos e esse cara só me olha parecendo estar com pena. Que merda aconteceu?

_ Houve um assalto no banco.. e o Lúcio.. o Lúcio ele...

Percebo a voz dele embargada.

_ O Lúcio se machucou no assalto? Ele estava com ressaca, o tanto que eu falo pra ele não beber em dia de semana, o trabalho dele é perigoso, requer atenção. Em que hospital ele está Guilherme?

_ Eu sinto muito.

Eu arregalo meus olhos.

_ EM QUE HOSPITAL ELE ESTÁ PORRA?

A diretora entra na sala e me abraça.

_ Eu sinto muito Leandro, o Lúcio foi baleado... ele, ele não resistiu...

Meu mundo desaba. Meu Lúcio não. Isso não pode ser verdade.