RELUTANTE EM RECOMEÇAR

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LEANDRO

Já fazia um mês que eu e meus irmãos tínhamos voltado a nos encontrar e hoje, sexta-feira seria a segunda vez que eles iriam dormir em minha casa. Eu peço e meu pai não nega, aliás desde que voltamos a nos encontrar ele não me nega nada, acho que está tentando se reaproximar, mas por enquanto só quero meus irmãozinhos.

Saio da faculdade e passo no mercado, já tem uns doces em casa e dona Olívia deve ter procurado alguma coisa gostosa mas eu sou exagerado e compro mais duas sacolas cheias de doces, chocolates  e salgadinhos, só devolvo meus irmãos pro meu pai domingo a tarde então nosso final de semana vai ser só pra comer porcaria, jogar videogame e assistir séries, o que eles quiserem pra mim está perfeito.

Pego um ônibus e vou no lugar marcado pra pegar eles, desço no lugar combinado e os encontro com meu pai, eu ainda não quis ir na antiga casa onde morava.

Fomos a uma sorveteria onde meu pai faz questão de pagar nosso sorvete e depois ele vai embora e eu pego um uber pra ir pra casa com meus irmãos. Chegando em casa estranho dona Olívia e Guilherme não estarem, ligo pro celular dele e cai na caixa postal, ela não me atende. Peço pra meus irmãos irem tomar banho enquanto adianto o jantar. Coloco arroz no fogo, batata na Air fair, frito bifes, faço salada e feijão. Vou a sala e meus irmãos estão assistindo.

_ Vou tomar um banho, não sei onde Guilherme e dona Olívia foram mas devem estar chegando.

_ Tá, a gente fica aqui.

Fui pro meu quarto e uso o banheirode la. Estou dormindo todos os dias com o Guilherme mas não mudei todas minhas coisas pra lá ainda, ele não falou nada e nem eu pedi. Voltando a sala meus irmãos estão jogando algo no celular mas a televisão está ligada, pego meu celular pra ligar novamente pra Guilherme mas ouço algo na televisão que chama a minha atenção.

"... o assalto na joalheiria do shopping de pinheiros agora a noite teve uma vítima fatal que ainda não foi divulgado seu nome. Teve três pessoas atingidas por arma de fogo, dois reféns e o delegado do caso...."

O que?

Passo a respirar com dificuldade e não ouço mais nada do que a repórter diz.

_ Irmão? Irmão você está branco, tremendo. O que você tem?

Meus irmãos me chamam e eu tranco meus olhos tentando dissipar a crise de ansiedade que me atinge mas não tenho progresso nenhum.

_ O... o Guilherme...

Meu irmão sai correndo de casa e acho que foi buscar ajuda com o vizinho, que logo entra em nossa casa e interfona pro síndico que chama um médico residente aqui no prédio. Um tempo depois consigo verbalizar o que aconteceu, apesar de estar chorando muito.

_ O assalto na joalheiria, alguém sabe se Guilherme era o delegado que estava la?

_ Me dá seu celular e eu ligo pra ele..

O vizinho pega meu celular e tenta ligar mas dá novamente na caixa postal, o dá dona Olívia ela não atende.

_ Ouvi na televisão que as vítimas foram pro hospital samaritano...

Nem espero ele terminar de falar e me levanto.

_ Eu vou até lá...

Mas aí olho pra meus irmãos.

_ ... Saulo, liga pra papai e pede pra ele vir te buscar, desculpa eu realmente não vou conseguir ficar em casa.

_ Pode ir irmão, seu noivo precisa de você.

_ Ele não é meu noivo, nós estamos juntos mas...

_ É que você usa aliança..

Selena cutuca ele.

_ Eu disse que eles não eram noivos Saulo, o Guilherme não usa aliança, só o Leandro.

Só aí me dou conta do absurdo que é eu usar essa aliança, não é justo com Guilherme.

_ Eu os levo, deixo as crianças onde quiserem e depois o deixo no hospital.

Esse é o meu abençoado vizinho.

_ Você faria isso?

_ Claro. Guilherme e dona Olívia são ótimos vizinhos, ela alimenta meus gatos quando viajo e nunca me cobrou nada.

_ Vamos então.

Deixamos meus irmãos na casa do meu pai, eu só mandei as sacolas de doces que comprei com eles e novamente peço desculpas. Chegamos no hospital eu pergunto na portaria sobre o Guilherme e a recepcionista me indica a sala de espera onde a mãe dele está, meu vizinho precisou ir embora e eu só o agradeci e segui pra sala de espera onde encontro dona Olívia sentada de cabeça baixa e chorando, corro até ela e me abaixo em sua frente.

_ Dona Olívia..

Ele me vê e se levanta me levando junto com ela e me abraça.

_ Onde ele está dona Olívia?.... não me diga que ele... por favor eu não vou aguentar...

_ Meu amor se sente, você está tremendo..

Me afasto dela.

_ Eu não quero sentar dona Olívia, eu não quero passar por aquilo denovo... me ajuda por favor... dessa vez eu não vou aguentar.. não com o Guilherme...

_ Meu filho se acalme, Guilherme foi um dos atingidos no assalto mas ele está passando por cirurgia, não corre risco de vida meu bem.

Fico muito aliviado mas muito puto também. Só consigo pensar que o trabalho de Guilherme é até mais perigoso que o de Lúcio e eu não vou passar por aquilo de novo, preciso sair fora antes que alguém me dê uma notícia como aquela que destruiu parte de mim, e eu nesse momento posso afirmar que se eu quase morri por causa de Lúcio, se eu perder Guilherme eu com toda certeza não sobreviveria.