changes | eli moskowitz

thirty two.

"Passo pra te buscar em 15 minutos."  Essa era a mensagem que Sofia havia recebido do seu namorado enquanto tomava café. Miguel já apresentava melhoras e finalmente poderia receber visitas de pessoas que não fossem da família, Falcão estava ansioso para ver o amigo.

— O passarinho já tá piando, é? — Johnny provocava vendo a filha sorrir para o celular.

— Você não tem limites, senhor Lawrence? — disse séria, mas no fundo ela achava esse apelido engraçado. — Sim, é o Falcão. Ele vai vir me buscar pra vermos o Miguel.

O rosto de Johnny murchou ao ouvir o nome do latino. Depois de procurar Robby com o Larusso, que por sinal havia sido um desastre, ele foi até o hospital visitar Miguel, levou uma surpresa ao chegar no local e ver que ele estava acordado, e mais surpreso ainda ao ver que Miguel estava com raiva dele. Não o culpava, ele mesmo se sentia responsável por tudo isso, mas de qualquer forma, doía.

— E onde o senhor vai? — perguntou desligando o celular e voltando a tomar seu suco. — Tomou banho, tirou aquela coisa horrorosa que você chamava de barba, tá até cheirando bem.

— Eu sempre estou ótimo, não sei do que você tá falando. — deu um peteleco na cabeça da mais nova, uma brincadeira entre os dois. — Eu vou ir ver o Robby, tenho que ir apresentável. — no dia anterior, Johnny e Daniel haviam discutido e seguido caminhos diferentes enquanto procuravam o garoto, resultando em Daniel o achando primeiro e conseguindo que "se entregasse" a polícia, para sua pena no reformatório ser reduzida. — Não quer ir comigo? Eu posso esperar você voltar da sua visita ao Miguel.

— Não. — ainda estava muito abalada sobre o que Robby havia feito na briga da escola. — Eu vou demorar com o Miguel e provavelmente vou passar o resto do dia com o Falcão. — disse seca. — Eu nem sei porque estou inventando desculpas, eu só não quero ir ver o Robby mesmo.

— Sof, filha, eu sei que tá chateada, mas você sabe que foi um acidente, Robby nunca empurraria o Miguel ou qualquer outra pessoa de verdade. — ela sabia disso, mas não conseguia simplesmente ignorar que Robby foi responsável por um dos piores momentos da sua vida. — Ele é seu irmão, uma hora você vai ter que baixar a guarda e se resolver com ele. Vocês estavam se dando tão bem antes de tudo isso, não sente falta disso?

— Talvez você esteja certo. — se levantou, colocando a louça que estava usando na pia. — Um dia eu vou precisar me resolver com o Robby e talvez nós voltaremos a ser como éramos antes, mas esse dia não é hoje, eu não consigo agora, pai. Acidente ou não, toda vez que eu escuto o nome dele, eu lembro da cena do Miguel caindo e batendo as costas na escada. Eu ainda não tô pronta pra falar com ele, no momento, eu quero focar apenas na recuperação do Miguel e em me reaproximar da mamãe.

— Tá tudo bem, filha. — Johnny suspirou, queria seus filhos juntos como eram antes, mas entendia que as atuais circunstâncias faziam serem difícil para os dois. — Eu não vou te forçar a nada, mas quando estiver pronta, Robby ficará feliz em te ver.

— Um dia. — sorriu, tentando passar confiança ao pai. Nesse momento, a campainha tocou. — Deve ser o Falcão, eu tô indo. Tchau, pai.

— Leva isso aqui pra ele. — entregou um pacote de supermercado, ele tinha um sorrisinho travesso no rosto, fazendo a menina arquear uma sobrancelha enquanto pegava o pacote e olhava o que tinha dentro.

— Alpiste. — ela respirou fundo, pedindo a Deus todas as forças que precisasse para não surtar. — O coringa surtou por muito menos, sabia?

— Quem é esse coringa? — perguntou confuso. Sofia havia esquecido que seu pai era um homem das cavernas e só conhecia coisas lançadas antes dos anos oitenta.