one.

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Sofia soltou um gritinho animado ao ver o relógio marcar oito horas, o que significava o fim de seu expediente. Depois de trocar seu uniforme por suas roupas normais e prender seu cabelo em um rabo de cavalo desajeitado, ela saiu da cafeteria onde trabalhava. O ar da noite estava fresco, e o céu limpo deixava as estrelas visíveis, o que a fez respirar fundo e aproveitar o momento.

Caminhou até um mercadinho local, iluminado por lâmpadas fluorescentes que piscavam levemente. O ambiente era simples, mas acolhedor, com algumas prateleiras levemente bagunçadas e um rádio tocando uma música antiga ao fundo. Sofia passeava pelos corredores com certa pressa, já que queria chegar em casa logo. Pegou alguns salgadinhos e refrigerantes para dividir com seu irmão, pensando em como ele provavelmente ficaria animado com a surpresa. Quando chegou à seção de medicamentos, notou que o estoque de analgésicos estava quase acabando, eu devo ter comprado todo o estoque nessa última semana, pensou com um suspiro, sua mãe vivia de ressaca constantemente. Sua vida parecia sempre estar no limite, mas ela estava acostumada a improvisar.

Ao seu lado, percebeu um garoto de sua idade segurando o que parecia ser remédio para diarreia. Ele parecia nervoso, mexendo no rótulo da embalagem enquanto olhava de relance para ela.

— É pra minha avó, ela não tá passando bem. — o garoto tentou puxar assunto.

— Ah, melhoras pra ela. — a garota sorriu sem graça, achando um pouco estranho ele resolver contar isso para uma desconhecida, de qualquer forma, resolveu continuar a conversa. — Ei, você estuda em West Valley?

— Vou começar o segundo ano lá na segunda, eu e minha família acabamos de nos mudar pra cá. — explicou com um sorriso no rosto. — Você também estuda lá?

— Sim, eu acabei de ser transferida de North Hills, é uma longa história. — deu de ombros. — Sou Sofia, a propósito. — se apresentou simpática.

— Eu sou o Miguel. Eu apertaria a sua mão, mas acho que você tá um pouco ocupada segurando tantas coisas. — riu fraco.

— Não esquenta, eu vou considerar que demos um aperto de mão por telepatia. — pegou o último analgésico e se dirigiu para o caixa, não antes sem se despedir do garoto. — Acho que te vejo na segunda, então.

— Eu vou adorar. — respondeu com muita animação, mas logo ficou envergonhado. — Quer dizer, vai ser bom conhecer alguém lá. — se corrigiu.

Sofia deu um último sorriso antes de sair do mercadinho. A noite estava mais fria agora, mas o caminho de volta para casa ainda tinha algo de acolhedor. Enquanto andava pelas calçadas pouco iluminadas, percebeu um casal adolescente sentado em um banco, eles estavam claramente absortos um no outro, rindo baixinho, enquanto ele ajeitava uma mecha do cabelo dela e ela apoiava a cabeça em seu ombro. Era uma cena clichê, mas algo sobre aquilo fez Sofia sorrir, havia algo tão puro e adorável naquele momento que a fez pensar em como seria bom ter algo assim um dia.

Porém, o sorriso desapareceu enquanto a realidade voltava com força. Ela sabia que seu foco precisava estar em sustentar a casa, cuidar do irmão e garantir que sua mãe tivesse o mínimo para seguir em frente, relacionamentos pareciam um luxo distante e inalcançável. Ajustando a alça de sua mochila no ombro, Sofia apressou o passo, determinada a chegar logo em casa e cumprir mais um dia em sua longa lista de responsabilidades.

Não demorou muito para chegar em casa, encontrando seu irmão gêmeo, Robby, sentado na cama com um notebook no colo no quarto em que dividiam. Abraçou o garoto como comprimento como sempre faziam e revirou os olhos ao ver que ele estava trocando mensagens com seus amigos, Trey e Cruz, os quais ela odiava e achava uma péssima companhia. Tais amigos que foram o motivo dela ter sido transferida de escola. Nos últimos dias de aula do ano passado, ela havia encontrado Robby vendendo drogas dentro da escola, a mandado de seus amigos, nos poucos minutos que ela havia parado apenas para brigar com seu irmão, a diretora pegou os dois no flagra entendendo tudo errado. Mas no final ela resolveu tomar a culpa por seu irmão, sabendo que sua punição seria bem menor por não ter problemas anteriores, diferente de Robby que poderia ser expulso. 

changes | eli moskowitzOnde histórias criam vida. Descubra agora